Mais de 5 milhões de pessoas, o equivalente a 60 estádios do River Plate lotados, encheram as principais artérias de Buenos Aires nesta terça-feira para saudarem os novos campeões do Mundo.

Por volta das 16h00 locais (mais três em Portugal continental) o autocarro panorâmico que transportava os jogadores da seleção da Argentina ainda ia a meio do percurso e à medida que as dificuldades para avançar se acentuavam, aumentavam também os desafios das forças de segurança.

Por isso, foi tomada a decisão de suspender o resto do cortejo, sendo que a solução foi meter os jogadores em vários helicópteros que sobrevoaram a capital e que já estavam reservados para o efeito.

A desilusão foi enorme e ao princípio da noite registaram-se confrontos junto ao Obelisco, onde uma enorme massa humana esperava os jogadores. O monumento foi alvo de atos de vandalismo, arrombado e a polícia acabou por intervir, disparando balas de borracha e procedendo à detenção de pelo menos 13 pessoas.

Através das redes sociais,  Claudio Tapia, presidente da Federação de Futebol da Argentina (AFA), culpou a equipa de segurança por não poderem avançar até ao Obelisco e disse que o ministro de Segurança da cidade foi o único governante que acompanhou todo o percurso da albiceleste e que fez todos os possíveis para que «os jogadores abraçassem o povo argentino», não ficando sem resposta.

«O que eu disse a Tapia foi que nem loucos éramos a favor de irem ao Obelisco. Vejam as fotos, coloquem-nos lá no meio e dão conta de que aquilo ia transformar-se numa ilha e que iam ficar lá durante seis dias. Nem loucos íamos deixar que fossem ao Obelisco», disse Aníbal Fernández, ministro da Segurança da Argentina em declarações à Radio 10, que confirmou ter sido dele a decisão de baixar os helicópteros para extrair os jogadores. «Enquanto ele [Tapia] insistia que estavam a cometer uma traição (por suspenderem a caravana), Lionel Messi, Rodrigo De Paul e Ángel Di María já estavam num helicóptero e ninguém se queixou».

O governante vincou que a aglomeração era cada vez maior e que a possibilidade de avançar era nula e que a noite aproximava-se. Tudo isso fez com que o programa tivesse de ser reajustado, o que motivou o descontentamento de quem esperava há muitas horas pela possibilidade, não concretizada, de ver os jogadores.

Não houve passagem pelo Obelisco e também não houve ida à Casa Rosada, sede da Presidência da República da Argentina, onde o cortejo deveria ter terminado, à semelhança do que aconteceu em 1986. Aníbal Fernández revelou que havia jogadores que não se sentiam confortáveis por não quererem associar-se à política mas que, ainda assim, tinham à disposição aquele espaço para terem um momento de glória igual ao de Maradona.

Ao longo do dia foram surgindo notícias sobre a existência de negociações permanentes entre a cúpula da Federação e governantes. Alegadamente, Tapia e uma parte dos jogadores e do corpo técnico não queria cruza-se com o Presidente da República.

Quando os jogadores foram evacuados de helicóptero, a possibilidade de os jogadores seguirem dessa forma até à Casa Rosada também já estava praticamente descartada, até porque se a Avenida 9 de Julho, junto ao Obelisco, a mais larga do Mundo, era pequena para tanta gente, mais pequena era a área junto à casa da presidência da República.

«Quando tomámos a decisão de evacuar, era tarde fazer esse esquema e as complicações seriam maiores se os jogadores fossem à varanda [da Casa Rosada]. Podíamos fazer descer facilmente os helicópteros na Casa Rosada, mas a nossa responsabilidade era tirar os rapazes da melhor maneira. (...) A quantidade de gente que havia ia multiplicar-se por 20 na Rosada, ia haver uma mobilização feroz entre a praça e as diagonais. Havia que tomar decisões e foi isso que fizemos», disse o titular da pasta da Segurança, garantindo que ao longo do dia foram feitos todos os possíveis para evitar confrontos entre autoridades e populares.