Lance Armstrong confessou que se dopou em cada uma das sete vitórias na Volta a França. O antigo ciclista admite que viveu «uma grande mentira», numa confissão em jeito de entrevista televisiva a Oprah Winfrey, a mais popular apresentadora norte-americana.

Às perguntas mais diretas feitas por Oprah, Armstrong respondeu apenas com um sim. Foi o que fez quando lhe foi perguntado se se dopava, ou se tinha recorrido a substâncias dopantes como EPO, transfusões sanguíneas, cortisona, testosterona ou hormona de crescimento, em todos os Tour.

As principais frases da confissão de Armstrong

«Na minha opinião, não teria sido humanamente possível ganhar por sete vezes consecutivas o Tour sem recorrer a substâncias dopantes», disse de resto Armstrong, falando depois da forma como enganou o mundo durante toda a carreira.

«É demasiado tarde, provavelmente para a grande maioria das pessoas, e a culpa é minha. Esta situação é uma grande mentira, que repeti inúmeras vezes», disse Armstrong, que ao longo da sua carreira foi confrontado com várias acusações de doping, mas negou sempre.

A batota e os cinco que não se dopavam

Mas Armstrong diz também que não sentiu que estivesse a fazer batota, porque quase todos faziam o mesmo. «Vi no dicionário a definição de batota. E a definição é ganhar vantagem sobre um rival. Eu não o via assim. Via-o como um campo de jogo equilibrado», diz. «A cultura era o que era. Não sei se toda a gente de dopava. Não corria com todos, não posso dizer isso. Há quem diga. Há quem diga havia 200 tipos no Tour, posso dizer-lhe que cinco não o faziam, e esses cinco são os heróis.»

Armstrong diz ainda que a última que «passou a linha» foi em 2005, e que portanto já estava «limpo» quando voltou ao ciclismo para as Voltas à França de 2009 e 2010.

Nesta entrevista, Armstrong evitou de resto responsabilizar mais alguém pelo que fez, ou dizer quem eram na US Postal os principais responsáveis pelo sofisticado sistema de doping a que a equipa recorria. Recusa, por exemplo, falar do papel neste processo de Michele Ferrari, o médico italiano que era o diretor clínico da equipa. «Não quero acusar mais ninguém. Eu tomei as minhas decisões e estou aqui para pedir desculpa por elas», diz.

Mas Armstrong também se mostra disponível para participar, sob alçada das instâncias do ciclismo, numa espécie de «comissão verdade e reconciliação» que permita apurar todos os responsáveis ao longo destes anos.

Armstrong foi irradiado e foram-lhe retirados todos os títulos depois de a agência antidoping norte-americana (USADA), o ter considerado culpado de envolvimento naquele a que chamou «o mais sofisticado sistema de doping» de sempre no desporto.

Agora, na primeira reação à entrevista de Armstrong, o presidente da USADA diz que o antigo corredor deu «um pequeno passo» na direção certa.

Esta confissão tardia de Armstrong tem sido vista por analistas como uma tentativa de ver a pena de irradiação comutada e conseguir algum tipo de amnistia.

A entrevista de Armstrong continua a ser transmitida na madrugada desta sexta-feira. Esta foi apenas a primeira parte.

Antes de cair em desgraça Lance Armstrong estava ao nível dos maiores mitos de sempre do desporto. Uma imagem feita do facto de se ter tornado no maior ciclista de todos os tempos com as tais sete vitórias na Volta a França, aliado à sua história de vida, como sobrevivente de cancro.

(Artigo atualizado)