«Às vezes é preciso dar um passo atrás para se dar dois para frente» é uma velha máxima que se pode aplicar à curta carreira do patrão da defesa do Arouca, Hugo Basto.

O central, que comemora 23 anos no próximo sábado, deixou a formação do FC Porto para jogar no Campeonato de Portugal, deu o saltinho à Segunda Liga pelo Sp. Braga B e em janeiro de 2015 rumou a Arouca para se estrear na Liga. Agora tem a Europa (leia-se Liga Europa) como realidade e um sonho Olímpico por concretizar.

Ao MaisFutebol «abriu o jogo», não jogou como habitualmente à defesa e falou de todas as fases da carreira, boas e más, recordou o ídolo que também é conterrâneo e agradeceu os «vais e vens» dos pais de Amarante para o Porto que permitiram que a sua carreira fosse possível.

O patrão da defesa do Arouca começou a formação no Boavista, passou pelo Pasteleira e terminou-a no FC Porto, de onde saiu para o Varzim quando deixou de ser júnior, no final da temporada de 2011/12.

«Foram os planos do FC Porto, não quiseram a minha continuidade ali e eu procurei um clube que me desse possibilidade de jogar porque é muito importante para os jovens que saem da formação começarem logo a jogar, para serem vistos e reconhecidos. O meu medo era sair no esquecimento e isso não aconteceu, porque acho que fiz os minutos todos no Varzim.»

Hugo Basto estava certo, fez os 30 jogos da já extinta Segunda Divisão B, mais três na Taça de Portugal, o que lhe valeu um contrato com o Sp. Braga. Fez parte do plantel da equipa secundária minhota em 2013/14, foi dos mais utilizados, mas nunca teve oportunidade no conjunto principal.

Em 2014/15, com Sérgio Conceição a liderar o Sp. Braga, voltou a não ter espaço e ficou apenas meia época na Pedreira, rumando a Arouca no mercado de inverno. «Não estava a ter oportunidades na primeira equipa e mesmo a equipa B era um espaço difícil porque estamos sujeitos a jogadores que vinham da equipa A e tinham de jogar. Não é fácil estar inserido numa equipa B, mas gostei do clube e de lá estar.»

Só que mal teve a oportunidade de se estrear na Liga não hesitou e destacou essa segunda parte da última época determinante para o rendimento este ano.

«Queria ter a oportunidade de jogar na Liga, sentia-me preparado. Queria subir de patamar, tal como qualquer jogador quer. Foi muito importante aquela metade de época para me adaptar e sobretudo para perceber que estava preparado para jogar a este nível. Este ano foi uma temporada individual excelente, pela classificação do clube e por tudo o que nós alcançámos.»

Chegou a Arouca, foi suplente não utilizado em duas partidas e após isso agarrou a titularidade. Só um castigo o fez estar de fora, após expulsão com o Benfica. Esta temporada o cenário voltou a repetir-se: falhou apenas um jogo devido a uma série de cinco cartões amarelos.

Mudaram os treinadores, de Pedro Emanuel para Lito Vidigal, mas não mudou a titularidade de Hugo Basto. É um jogador que os treinadores confiam facilmente?

«(risos) Os números indicam que sim. Tenho que trabalhar no máximo para merecer essa confiança dos treinadores. Foram treinadores diferentes e ter a confiança dos dois revela algum mérito da minha parte. O segredo é não relaxar, sou ambicioso e vou querer sempre mais para mim e para a minha carreira.»

E essa ambição vai fazer rumar Hugo Basto para outro clube ou vai viver o sonho europeu do Arouca? O central diz-se «contente» no clube e responde com uma resposta cliché: «Para já não há propostas de nada, mas se aparecer uma proposta boa para mim e para o clube, vamos analisar.»

Depois acrescentou: «Sou acarinhado pelos dirigentes, adeptos, pelo presidente, por toda gente no clube. Sou jovem e tenho ambições e um dia mais tarde quero dar o salto para um patamar mais elevado.»

Fez parte da formação do FC Porto, foi preterido na transição para sénior e agora que os dragões recorreram a Chidozie é legítimo perguntar se Hugo Basto podia estar onde está agora o nigeriano: «Uma pessoa pensa e acredita que se estivéssemos lá podíamos ser nós. A jogar agora a este nível, percebo que podia corresponder nesses clubes, mas só com o avançar dos anos e das épocas é que eu vou perceber se irei chegar a um clube grande.»

O festejo de Hugo Basto no único golo marcado na temporada

Não falta ambição ao português que tem apenas uma internacionalização pela seleção olímpica, mas que tem como sonho estar nos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro.

«É um objetivo e um sonho que tenho, que todos os jogadores da minha idade terão de ter porque representar o nosso país numa grande competição é um orgulho enorme para mim, para a minha família e para toda gente que me apoia. Até sair a convocatória vou ter sempre o sonho.»

O jovem não esconde o sonho seguinte de envergar a camisola da seleção A de Portugal e refere que a possível presença no Rio 2016 trariam «outro reconhecimento e outro estatuto», mas «não assegura garantias de nada».

A vida de Hugo Basto tem sido feita de pequenos sonhos ou metas, se assim quisermos dizer, porque o verdadeiro sonho era o de ser jogador profissional de futebol. «Nunca pensei ser outra coisa em criança, sempre fui muito ambicioso e sempre acreditei muito em mim. Esta foi a minha grande aposta.»

«Sempre foi este o meu sonho, sou natural de Amarante e ia quase todos os dias para o Porto para treinar, ia e vinha, ia e vinha, ou seja sempre lutei por isto. É isto realmente que gosto de fazer. Foram sacrifícios que valeram a pena e deixo uma palavra muito especial para os meus pais que são e foram muito importantes porque andaram comigo para todo lado.»

Todos estes sacrifícios estão a ser hoje recompensados, refere o jogador, e está satisfeito por ter chegado ao topo com «um crescimento gradual»: «Fui para a Segunda Divisão B, depois para a Segunda Liga, Primeira Liga, e só agora que aqui estou é que sei que esta vai ser a minha vida.»

Os estudos nunca foram o primeiro plano, terminou o 12º ano quando estava no FC Porto e ainda tentou o Ensino Superior, mas a ideia esmoreceu: «Decidi parar por ser difícil conciliar. Ainda fiz os pré-requisitos para entrar na Faculdade de Desporto da Universidade do Porto, mas era difícil estudar para os exames. Não cheguei a concorrer.»

O foco era mesmo o futebol e o exemplo a seguir sempre foi Ricardo Carvalho, ídolo e conterrâneo.

«Era um sonho fazer dupla com um grande jogador e figura da minha terra, quem sabe se será possível ou não.»

E se tivesse que escolher algum central da Liga Portuguesa para fazer dupla? Jardel, Coates, Lindelof, Rúben Semedo, André Pinto, Martins Indi? Algum deles?

«Jubal e Velazquéz! Fizemos grandes duplas», atirou o central, rindo-se após referir os dois colegas com quem partilhou o eixo defensivo esta temporada.

E se tivesse que escolher um treinador para definir como o mais importante da sua curta carreira? «Acho que todos os treinadores foram importantes. No Varzim foram importantes, quer o José Augusto e o Octávio Moreira, porque foi um patamar em que queria começar a jogar e foi uma montra para mim.»

Depois, continuou a realçar a importância de todos no seu crescimento: «Na Segunda Liga tive vários treinadores na equipa B do Sp. Braga, e eles foram importantes para eu entrar no futebol profissional. Depois o Pedro Emanuel, que já me tinha treinado no FC Porto, com quem fui campeão de juvenis e era um treinador que eu já gostava. Ele vai marcar a minha carreira porque vai ser sempre o treinador que me lançou na Liga.»

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Por fim, o elogio a Lito Vidigal com que fez a sua melhor época: «O mister Lito é um treinador exigente, que nunca deixa a malta relaxar e isso foi um segredo desta época. Demos o máximo em cada treino e em cada jogo. Fomos um grupo muito unido por ele, mas também porque cada um olhava para o lado e cada um jogava e defendia o seu colega até à morte. Criamos um espírito muito bom.»

Nesta época de afirmação, diz ter evoluído «em todos os aspetos», contudo destacou que a sua principal mudança foi o «à vontade em campo», que se ganha «com o decorrer dos jogos e dos anos».

Quanto ao principal aspeto que terá de melhorar, Hugo Basto aponta a falta de golos marcados e recorda o único que marcou esta temporada: «Foi um momento de inspiração, num jogo em que estávamos a perder. Pensei em arriscar e foi um golo fantástico e incrível que vou recordar para sempre.»