A época 2021/22 no balneário do Arsenal teve uma companhia não habitual para futebolistas e treinadores nos bastidores. Não foram amigos, esposas ou namoradas, mas sim as câmaras de filmar, presença assídua (ou mesmo constante). Dos balneários ao campo de treinos, passando pelos corredores.

De certo modo, alguma da privacidade reduziu para dar lugar à série documental All Or Nothing do Arsenal. As câmaras nem sempre estiveram a gravar, mas estavam lá para captar momentos mais particulares do balneário dos gunners ao longo da última temporada. Um deles foi a decisão do treinador Mikel Arteta passar, em pleno treino, a música «You'll Never Walk Alone», antes da deslocação a Liverpool.

Na antecâmara do lançamento dos três primeiros episódios, que abordam o mau início de ciclo do Arsenal e as visões dos adeptos sobre Arteta, os futebolistas Cédric Soares, Martin Odegaard e Emile Smith Rowe contam, ao Maisfutebol, como lidaram com filmagens constantes ao longo das semanas de trabalho.

Em bom português, o lateral-direito Cédric Soares admite que foi uma situação nova no início, mas que o tempo tornou tudo uma normalidade.

«No início foi uma situação nova, ainda que os jogadores estivessem mais ou menos conscientes, mas durante a época esqueces um pouco isso e vives o dia a dia, esqueces as câmaras e torna-se um pouco normal», refere o ex-Sporting e Académica, por videoconferência.

«Óbvio que pensas um pouco no que dizes e fazes»

Para Martin Odegaard, que voltou a juntar-se ao clube em agosto de 2021 (contratado em definitivo ao Real Madrid), numa altura em que a equipa já tinha começado a época, «no início foi um pouco estranho e desconfortável», mas também se habituou a ter câmaras em qualquer local.

«Ter câmaras à minha volta não é a melhor coisa, não sou dos que gosta disso, mas penso que fizeram isto bem e que vai ser interessante para os adeptos ver como é que é ser um jogador de futebol», referiu, abordando também a forma como se comportou ao saber que estava a ser filmado a dada altura.

«Obviamente que quando tens câmaras e microfones à tua volta, pensas um pouco no que dizes e no que fazes, mas penso que todos sentimos que foi algo bom. Não nos incomodaram, não estavam sempre à nossa volta. Havia câmaras na parede, no balneário, mas não pensas muito nisso e as câmaras não estavam a gravar a toda a hora. Penso que agimos da forma que normalmente agimos. Talvez alguns mudaram um bocadinho, mas penso que não foi grande coisa», partilhou o norueguês, confirmado no último sábado como o novo capitão de equipa.

E pressão extra, houve? Ou a presença constante das câmaras pode influenciar resultados? Odegaard diz que não.

«Para ser honesto, penso que não houve pressão extra. Penso que nós já temos a pressão por nós e das pessoas à volta. Fizeram isto bem, respeitaram os jogadores, não pensámos muito nas câmaras. Sinto que pudemos ser nós mesmos», garante.

Smith Rowe é o mais tímido do balneário? «Não diria»

E se Odegaard foi um dos destaques do Arsenal na última época com 40 jogos e sete golos, Emile Smith Rowe também o foi. Afirmou-se no conjunto londrino, no clube do seu coração, com 11 golos em 37 jogos. No meio destes registos, estiveram as câmaras. Entre alguma boa disposição e questionado sobre a aparente timidez demonstrada no balneário, o médio de 22 anos garantiu que não é o mais tímido do grupo.

«Não diria que sou o mais tímido do balneário. Talvez em frente das câmaras até pareça. Tenho de ver como fiquei e ter uma opinião, mas definitivamente não sou o mais tímido. No início, foi um pouco chato estarem a filmar em todo o lado, mas depois de algum tempo habituas-te e no final da época já nem nos apercebemos que estão lá», referiu o internacional inglês, sublinhando, ao Maisfutebol, a importância de os adeptos poderem ver o que se passa nos bastidores.

«Penso que é muito importante, os adeptos muitas vezes só nos veem jogar, é bom verem como somos fora do campo, a nossa personalidade, para não nos verem só dentro de campo, mas também fora dele», concluiu.