Paulo Sérgio desejou-o mas foi Pedro Caixinha quem acabou por ficar com ele. O apregoado «pinheiro» do treinador do Sporting - ou melhor um avançado alto e bom no jogo aéreo - , que nunca chegou a Alvalade, foi parar às imediações do pinhal de Leiria, convenhamos, um lugar mais apropriado neste contexto. Falamos, claro, de Arthuro, o último reforço da equipa do Lis, acabado de voltar a Portugal, depois de se ter ausentado, por uma dezena de dias, no Brasil.

A conversa do Maisfutebol com o longilíneo (1, 92 m) jogador da União começa, justamente, por ai. «Pinheiro? Não, nunca me chamaram isso apesar da altura. Só ouvi falar aqui e é até um apelido engraçado. Actualmente, a parte física é decisiva e, como é óbvio, ter esta estatura favorece-me», confessa o dianteiro, natural de Florianópolis, onde fez amizade, «mantida até hoje», com o agora concorrente pela posição, Rodrigo Silva: «Vivemos no mesmo bairro e frequentámos o mesmo colégio dos nove aos 12 anos. Também jogámos futsal juntos.»

Craques, périplo pela Europa e Liga dos Campeões

A carreira de Arthuro foi feita quase toda na Europa. Revelação do Criciúma, emigrou para Inglaterra aos 17 anos, para jogar nas reservas do Middlesbrough. «Apanhei treinadores como Bryan Robson, Steve McClaren ou Terry Venables. Já viu como é para um miúdo ouvir conselhos destas feras? Ajudaram-me muito e também aprendi a ser mais duro e agressivo com o futebol de lá.» Mas a concorrência era demasiado forte: «Havia jogadores que ganhavam uma fortuna e não podiam ficar no banco. Havia o Juninho Paulista, o Alan Boksic, Geremi, Karembeu...»

Foi em Inglaterra que Arthur passou a Arthuro, por uma questão de sotaque, mas três anos volvidos, o jovem brasileiro rumou a Espanha. Passou pelo Racing Santander, que o emprestou ao Sp. Gijon, depois de ter ficado algum tempo parado devido a lesão, e, quando foi confrontado com a hipótese de assinar pelo Real Madrid B ou pelo Alavés, optou pelo segundo para poder jogar na primeira divisão.

Uma nova lesão impediu-o de se afirmar e a via do

empréstimo, ao Córdoba, voltou a ser a solução. Não se ficou por aqui. Na época seguinte, novo país e clube: o Steaua de Bucareste, pelo qual jogou a Liga dos Campeões. Rescindiu por ordenados em atraso e seguiu para o Terek Grozny, em 2009

Na Rússia, não se adaptou e depois de um mês ao frio, ainda tentou a sua sorte no país natal, no Flamengo, mas, mais uma vez, teve uma missão ingrata: ser suplente do imperador Adriano. O destino seguinte, foi o Celta de Vigo, de onde partiu para o mundo árabe, para apenas três meses, novamente por falta de adaptação, antes de chegar a Leiria. «Já sou bem rodado [risos]. Aqui, não vou ter problemas. Nem pensei duas vezes. É um campeonato interessante, num país de fácil adaptação, num clube que é uma boa vitrina e tem estatuto na Liga», assegura.

Vítima de negligência médica

A demora de Arthuro em juntar-se aos novos companheiros, depois de ter assinado a 31 de Agosto, prendeu-se com complicações na sequência daquilo que deveria ter sido uma simples operação às amígdalas. Mas acabou por revelar-se um autêntico pesadelo: «Foram precisas duas cirurgias, porque tive três hemorragias internas. Foi um processo complicado, estive 15 dias sem poder alimentar-me, a soro, até perdi sete quilos», conta o avançado, agora apenas a três quilos de recuperar o peso ideal.

Apesar do drama, o brasileiro não guarda rancores: «O médico foi imprudente, negligente, porque, no pós-operatório, eu tive três hemorragias. Se ele tivesse percebido logo na primeira que uma artéria tinha sido perfurada, nada disto teria acontecido. Já passou. Eu sou capaz de perdoar quem erra, é humano. Agora há que superar isso, reflectir e perceber como a vida é boa. Afinal, não tenho razões para reclamar. Estou bem e, logo, logo, vou voltar a fazer o que mais gosto.»