Aos quinze anos já valia parangonas nos jornais. Vivia no Montijo, fazia todos os dias o caminho para as escolas de formação de Alvalade e era sobrinho de Paulo Futre. Por isso a associação era imediata. A fama precoce, diz, acabou por o atraiçoar. «As pessoas comparavam-me ao meu tio, como ainda hoje fazem, mas isso é impossível», frisa. «O meu tio aos 23 anos já era um jogador de classe mundial, referência de muita gente».
Ora 23 anos é precisamente a idade que Artur Futre tem agora. A idade que tem quando finalmente voltou a merecer letras gordas nos jornais. A vitória do Desp. Aves sobre o Nacional recuperou o médio para a ribalta. Artur Futre estreou-se finalmente a titular na primeira divisão e fê-lo logo com dois golos que valeram a primeira vitória da formação de Neca na Liga. «Agora estou a ter destaque por causa de mim, pelo meu mérito».
Mesmo assim garante que já não se deslumbra. Aprendeu com a vida a ter os pés bem assentes no chão. «Quando se quer dar um passo maior do que a perna acaba-se por fazer pior», sublinha. «Já dei um ou outro passo que não foram tão pensados, por isso sei bem do que falo». Também por isso não estabelece metas muito audazes. Quer apenas aproveitar o bom momento e ajudar o Desp. Aves. «As metas passam primeiro por agarrar a oportunidade e por jogar mais vezes. Depois disso quero fazer o melhor possível todos os jogos e ajudar com o meu trabalho o Desp. Aves a ficar na Liga», revela. «Prefiro fazer as coisas assim, passo a passo».
«Gostava de poder ser o Artur Futre e não o sobrinho de Paulo Futre»
Pelo caminho regressa-se ao passado, à longa demora até conseguir voltar a ser destaque e à influência que o nome do tio pode ter tido em tudo isto. «Ser sobrinho de quem sou é um pau de dois bicos», garante. «É complicado porque se faço um jogo bom sou o maior e quando faço um jogo mau sou o pior». Para além, claro, de não ter vida própria. É sempre o sobrinho de Paulo Futre. «Para mim já é uma coisa tão normal que já nem ligo a isso», refere. «Gostava de ser o Artur Futre e não o sobrinho de Paulo Futre, mas sei que não vou conseguir livrar-me dessa etiqueta. Já me habituei a viver com isso e já me mentalizei que estou pronto para levar com isso e muito mais».
Artur Futre só quer recuperar o tempo perdido. Ele que aos 15 anos já era notícia dos jornais, que aos 18 anos se tornou jogador profissional ao serviço do Alverca e que só aos 23 anos conseguiu estrear-se como titular na Liga. «Quando estive no Alverca já me tinha estreado na Liga, fiz quatro ou cinco jogos, mas na altura era muito novo. Agora estou mais maduro. Talvez seja por isso que só agora voltei a aparecer». A maturidade garante-lhe até pés bem assentes no chão quando volta a olhar para o nome a alimentar títulos de jornais. «Acho que estive bem, mas não dou muita importância a isso. Quero continuar a trabalhar para mostrar que tudo o que fiz não foi à toa».