As lágrimas. Presentes no início, no meio e no fim da apresentação do livro «Fernando Mamede, o recordista». A inovadora sala de conferências de Alvalade reviveu o passado escrito em letras de recordes no atletismo português com o símbolo do Sporting. Moniz Pereira deu início à história, e foi ele quem começou a chorar. Mamede, «o menino do livro», acabou com as lágrimas a caírem sobre o fato.
Moniz Pereira, figura ilustre do atletismo nacional, pegou no microfone, e de pé, a contar uma história para uma plateia bem composta, fez as apresentações. «Este menino [apontando para Mamede] veio para Lisboa treinar comigo e aplicou-se sempre com disciplina, dedicação, ambição e amizade», contou. «O livro chama Fernando Mamede recordista, e eu vou dizer porquê. É que este senhor conquistou 33 recordes em 12 modalidades diferentes. Em algumas bateu duas, três ou sete vezes o mesmo recorde.»
Entre contos, Moniz Pereira deixava indirectas. «Mas isto não vem na comunicação social. Os jornais trazem é os golos dos treinos. No Mundo não existe jornais que trazem os golos dos treinos, em Portugal existem três a fazer isso», criticou, para risada geral.
Depois do riso, o choro
Mas depois do riso vieram as lágrimas. «Fernando Mamede era único. Mas como todos perdeu, e ele sabia perder. O que alguns não conseguem fazer hoje em dia», disse. «Ele passou dois anos e meio sem perder uma corrida. E correu em todo o Mundo», continuando o discurso comovido. «Nunca julguei treinar um atleta que fosse campeão do Mundo. Pensava que ia treinar jovens para o campeonato de Portugal, mas nunca me passou pela cabeça estas conquistas», confessou. «Se eu sou conhecido no Mundo, devo-o a Fernando Mamede e a todos os atletas que treinei», disse, já «encharcado» em lágrimas e com a voz a falhar, trémula.
Era altura de passar o discurso. Também ele nervoso, Jorge Vicente, jornalista e autor do livro, foi rápido, e desculpou-se pelo nervosismo natural. «Agradeço ao Fernando por me ter aberto a porta da vida dele. Eu faço parte da geração que em 84 esperou pela madrugada para o ver correr, e desistir. Mas depois percebi a verdade dimensão deste atleta», referiu.
De Beja para o Mundo
As palavras finais estavam reservadas para o atleta Fernando Mamede, considerado um dos melhores de sempre. «É um prazer estar aqui diante de tanta gente que me viu crescer para o atletismo», disse, já com os olhos vermelhos e com a voz baixa. Tentando aguentar o discurso, soltou um grito de raiva. «Estou a chorar, mas já que estou aqui não vou desistir». A plateia riu, mas já havia quem chorasse. «Devo agradecer toda a minha carreira ao Moniz Pereira e ao Sporting, aos meus pais...[Mamede começa a chorar com as mãos à frente dos olhos e apoiado por Moniz Pereira e Fernando Correia] Se não fossem eles não estaria aqui hoje porque não era em Beja que seria campeão do Mundo.»
Mamede terminou o discurso tal como tinha começado, em lágrimas. A plateia levantou-se e bateu palmas. O pano desceu. Ficou escrita mais uma página na bonita história do atletismo português. O livro «Fernando Mamede, o recordista», encontra-se à venda.