28 de Abril de 1912. Um dia que ficou para a história como a data do primeiro clássico entre F.C. Porto e Benfica. O futebol dava ainda os primeiros passos, procuravam organizar-se amigáveis para entreter o calendário e os jogos - «matchs» para a imprensa da época ¿ ficavam sempre marcados por inúmeras peripécias. A partida disputou-se no campo da Rua da Rainha, a primeira casa do F.C. Porto, e o Benfica tornava-se nesse dia a primeira equipa nacional de grande dimensão a defrontar os azuis e brancos.
Para o conseguir, porém, os responsáveis portistas tiveram de conseguir um suado desconto junto da CP. As despesas de deslocação ficavam a cargo da equipa que convidava, pelo que a direcção do F.C. Porto enfrentou um problema: não ter receitas que suportassem os custos da deslocação. Através de muita insistência, e contando com a ajuda de Cosme Damião - o cavalheiresco capitão do Benfica -, conseguiu-se junto dos Caminhos de Ferro um desconto de 50 por cento para a comitiva encarnada.
No dia 27 de Abril, pelas 11.57 horas da noite, noticiava o JN, chegaram ao Porto os jogadores do Benfica no Comboio Rápido que vinha de Lisboa. Mais tarde chegariam também vários adeptos que não queriam perder o primeiro embate entre o então campeão do Norte e o campeão de Lisboa. Vinham da capital, de Coimbra, de Aveiro. Para além do jogo entre as equipas de honra, marcado para as 15 horas, o encontro entre os dois clubes tinha também um jogo entre as equipas secundárias, marcado para as 10 da manhã. Os ingressos custavam 220 réis para um jogo apenas e 320 para os dois. Poderiam ser adquiridos na Tabacaria Rodrigues, em Havaneza.
Dentro de campo o F.C. Porto via-se privado de três jogadores fundamentais, rezem as crónicas, Janson, o guarda-redes, Harrison e Magalhães Barreto. Na baliza esteve então Valença, que já jogara de manhã na partida entre as segundas equipas. O F.C. Porto foi naturalmente cilindrado. De manhã por 2-1, à tarde por 8-2. Curiosamente até marcou primeiro, através de João Cal, mas depois os encarnados, que contavam com uma equipa de luxo - Cosme Damião Artur José Pereira e Germano de Vasconcellos, por exemplo -, venceram com grande à vontade. Pelo meio um insólito delicioso. Contam os jornais que um jogador do Benfica introduziu a bola na própria baliza. Aquilo que seria um auto-golo acabou transformado em... pontapé de canto. O árbitro era soberano.
Equipas oficiais
F.C. Porto: Manoel Valença; Luís Barreto e Victorino Pinto; Mário Maçãs, Charles Allwood e Camillo Figueiredo; Camillo Monis, Herman Webber, Douglas Grant, João Cal e Ivo Lemos.
Benfica: Paiva Simões; Henrique Costa e Francisco Bellas; Carlos Homem Figueiredo, Cosme Damião e Artur José Pereira; Germano de Vasconcellos, Francisco Alegar, Luís Vieira, José Fernandes e António Marques.