«Até ao Fim» é uma rubrica do Maisfutebol que visita adeptos que tenham uma paixão incondicional por um clube e uma história para contar. Críticas e sugestões para rjc.externo@medcap.pt

O hino do clube fala no verde da esperança. João Guimarães e Patrícia Fernandes falam, além do amor que os une, de outro. O Moreirense.

Ele tem 28 anos e foi a partir de um Moreirense-Boavista para a Taça, no ano do título nacional dos axadrezados, em 2001, que começou a gostar da bola. «O estádio estava lotado, não saí do pé do meu pai, não pude brincar, estava atento. Aí começou o bichinho pelo espetáculo. O Boavista trouxe muita gente. Apesar de o Moreirense ter perdido 2-1 foi a partir daí que comecei a gostar de futebol e do Moreirense. A maior recordação foi no ano a seguir, a subida à I Liga», relata. Tinha dez anos.

Seguiram-se outros tantos, conheceu Patrícia na escola e arrastou-a consigo para o verde e branco dos cónegos. «Tive de juntar-me ao João, senão ao domingo à tarde não havia namoro (risos)» atira ela. «Ela sempre gostou de futebol e começou a acompanhar-me. O problema é que começou a ficar pior que eu. Nós só víamos jogos em casa e, desde que começámos a namorar, começámos a ver em todo o lado», conta ele.

A 9 de junho de 2019, semanas após a melhor época da história do clube na I Liga, fizeram do Moreirense tema de casamento. As grandes ideias partiram de Patrícia, 25 anos. Ao início, a loucura da proposta. No final, a certeza da felicidade.

«Desde que comecei a acompanhar o Moreirense, comecei a sentir uma ligação diferente à que sentia ao acompanhar o Benfica. O facto de ser um clube pequeno ajudava a ter mais ligação aos jogadores. Quando decidimos casar, ainda me lembro, era domingo à noite. Estava na altura de decidir os convites: “qual vai ser o tema? E se fizéssemos uma coisa diferente? João, e se o tema do casamento fosse o Moreirense?”. Nunca pensámos que fosse ter o impacto que teve», diz.

As questões tiveram resposta. A ideia avançou. Os convites de casamento foram adaptados como um bilhete de jogo. O símbolo do clube serviu de base para colocar as letras iniciais de ambos nos adereços: os cachecóis e ímanes oferecidos aos convidados, as garrafas de água na celebração, os envelopes. Foi só trocar as letras. Entre isto, o pré-casamento, no Parque Comendador Joaquim de Almeida Freitas.

«Na altura não tínhamos pensado muito. Foi a fotógrafa que disse que podíamos fazer o pré-casamento lá, para fazer uma brincadeira. E eu: “vamos explicar para o que é e vão deixar”. O senhor que nos abriu as portas faz parte da estrutura do Moreirense, mas tendo em conta que houve outras situações em que foram pedir para fazer gravações no estádio, estava reticente», confessa Patrícia. Mas lá fizeram as gravações, antes da nova etapa na vida.

Ela, que encetou o maior esforço para conseguir a realização do vídeo no estádio, planeou ainda uma surpresa para João. Cantar-se o hino do clube à saída da igreja, em Serzedelo. «Falei com pessoas da claque. Eu podia não ver o João a chorar em nenhum momento do casamento, mas sabia que, ao ver a claque do Moreirense, que ia chorar, que era uma emoção grande. Correu bem e não correu: tivemos uma hora de atraso no casamento e a surpresa foi-se desmanchando porque ele começou a ver pessoas da claque espalhadas pelo recinto (risos)», recorda. Entre o cântico, houve balões e potes de fumo com o verde e branco do clube.

Não ficou por aí.

A pista de dança tinha um relvado em miniatura. Havia bandeiras pequenas para colocar nas antenas dos carros, no cortejo entre igreja e o recinto da festa. As mesas tinham o nome de jogadores do clube ao centro, com fotografias autografadas por cada um: a mesa Arsénio, a mesa Neto ou a mesa Chiquinho. E João fez as viagens no autocarro do clube. «Por exemplo, eu tenho um primo maluco pelo Arsénio [agora jogador do Al-Fayha] e a mesa onde ele ficou era a mesa Arsénio. Foi tudo vivido intensamente», descreve Patrícia.

No final, depois de surpresas entre uns e outros, foi o casal que acabou surpreendido com uma camisola autografada por todo o plantel.

A Taça da Liga e outras viagens memoráveis

As duas subidas à I Liga, em 2002 e 2014, marcam as memórias que João tem do clube. Mas há outra. Inesquecível. A Taça da Liga, em 2017, no Algarve. Mais de 1100 quilómetros e quase meio-dia de viagem em 24 horas para ver a grande conquista da história dos minhotos.

«Foi outra loucura», admite ela, que «até sábado à noite dizia que não ia ver». Ao contrário de João: «se o Moreirense passasse, eu ia à final. No sábado lá decidimos. Foi fazer o lanche e dormir um bocado para acordar cedo. Depois do jogo, eu tinha tirado o dia, mas a Patrícia não. Chegou, foi tomar banho e trabalhar», recorda. «Foi [um dia] tão feliz que a minha patroa soube e mandou-me embora à tarde para dormir (risos)», nota a vimaranense, falando de «um dos momentos mais marcantes».

Começaram a ir ver jogos fora para juntarem o gosto por acompanhar o clube ao conhecimento das regiões do país. E numa ligação já de mais de duas décadas, João também faz questão de colecionar peças do clube. As camisolas são um valor que guarda com carinho. Tem de Chiquinho, Arsénio, Neto ou Texeira. Confessa que é bom ter dos jogadores, mas prefere adquirir as vestes a cada época. «Prefiro comprar. Para mim, o que me liga mais é mesmo o clube».

João e Patrícia, no Parque Comendador Joaquim de Almeida Freitas (Foto: Júlia Fernandes)

Vídeo: Júlia Fernandes

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