«Até ao fim» é uma rubrica do Maisfutebol que visita adeptos que tenham uma paixão incondicional por um clube e uma história para contar. Críticas e sugestões para mgandrade@mediacapital.pt

João Delgado Nunes é seguramente o «maior» adepto da AS Roma em Portugal. Tudo começou em setembro de 1999 com um jogo entre a formação italiana e o Vitória de Setúbal a contar para a Taça UEFA. Um festival de golos (7-0!) e um jogo que o marcou para sempre.

Sem se conseguir cativar por nenhum clube português, João apaixonou-se pelas cores da AS Roma.

«Sempre gostei de futebol, mas não conseguia escolher nenhum clube, até esse dia. A AS Roma ganhou por 7-0, adorei o jogo e fiquei fascinado com a camisola, a estética e as cores», começou por dizer ao Maisfutebol, comentando que a internet o ajudou depois a consolidar este amor que foi «à primeira vista».

«Deu-me a oportunidade de continuar a conhecer o clube, a acompanhá-lo de forma frequente e a saber os resultados. E a certa altura dei-me conta que era tudo a AS Roma, sempre ela. Depois veio a AS Roma campeã, havia o Totti, tudo... já não havia nada a fazer», referiu, atirando: «A AS Roma era oficialmente o meu clube.»

Já lá vão quase duas décadas e, apesar da distância que se vai fazendo curta, a paixão não esmorece e João soube sempre alimentá-la. «Aos 24 anos fui fazer Erasmus e, por força do clube, escolhi ir para Roma», contou.

Sem nunca ter entrado num estádio de futebol, foi aos 24 que João entrou também pela primeira vez num e logo no Olímpico de Roma. «Nunca tinha entrado num estádio e há muito que dizia que a primeira vez que entrasse era para ver a AS Roma e assim foi. Foi em setembro de 2007, mal cheguei à cidade e logo num AS Roma-Inter», revelou.

A AS Roma perdeu por 4-1 e o resultado não deixou, portanto, boas memórias, mas João já estava mais do que rendido ao clube e a partir daí, além de uma lição, ficou também fascinado com a Curva Sud.

«A cada golo do Inter mais se gritava, mais se apoiava. Os adeptos da AS Roma são incríveis, quanto pior estiver a equipa maior é o apoio e daí também o não haver ídolos - ainda que, claro, o Totti, por exemplo, seja uma figura. O clube e os adeptos é que são importantes. Os jogadores passam, nós e o clube não e por isso é que apoiamos sempre seja qual for o resultado», contou, dizendo que a partir desse dia também ele transformou a ida ao estádio numa rotina.

«As minhas festas de Erasmus não eram festas, eram jogos da AS Roma na Curva Sud», afirmou entre risos.

«Ia a todos os jogos que podia e sempre para perto da claque. Comprava os bilhetes mais caros, mas saltava sempre para os lugares mais baratos (risos), os da claque. Aí é que eu gostava de ver o jogo.»

«Passar 90 minutos a cantar, 90 minutos a apoiar, 90 minutos a ser fanático é incrível», justificou.

Desde 2007 até 2019, João, que atualmente tem 34 anos, já viu entre «30 a 40 jogos» e é incapaz de se centrar num porque «os jogos da AS Roma e vividos na claque são sempre inesquecíveis», mas não tem dúvidas de quais são os mais intensos.

«Os jogos com a Lazio são, sem dúvida, dos melhores jogos que há e dos derbies mais intensos que há», disse, dando conta da «tensão e rivalidade»: «São uma experiência ao jeito dos derbies sul-americanos.»

Pelo meio, João foi conhecendo mais gente da claque e criou inclusive uma página de fãs da AS Roma em Portugal que lhe tem permitido também conhecer portugueses que apoiam o emblema italiano e com quem já foi ver jogos a Itália. Já os amigos, ainda que se importam com o clube, não vestem as mesmas cores. «Há só alguns que quando a AS Roma joga vão ver o resultado só para saberem qual o meu estado anímico», disse a rir.

Ou seja, toda a gente sabe que João leva esta paixão muito a sério e sempre que pode, o músico e professor de inglês, vai a Itália e vê o clube do coração, mas vai também «rezando» para que os sorteios das provas europeias coloquem a AS Roma no caminho das equipas portuguesas, de preferência das de Lisboa - onde vive.

Em Lisboa com elementos da Curva Sud para o jogo dos Cinco Violinos com o Sporting

«Sempre que a AS Roma vem a Portugal, vou ver os jogos. Dentro de poucos dias há jogo no Dragão e claro que eu não vou faltar», disse, comentando que nem sequer precisa de se preocupar com os bilhetes: «Quando a AS Roma vem cá, eles [amigos da Curva Sud] compram sempre bilhete para mim.»

Dia 6 de março está quase a chegar e será a segunda vez que João apoiará a AS Roma no Dragão. Com pouca confiança, mais uma vez, diga-se: «Não estou muito confiante, não. A época está a ser muito má.»

Ainda assim, há sempre esperança: «A AS Roma é algo esquizofrénica, bem sabemos o que fez em 2018 com o Barcelona [quartos de final da Champions, 3-0 após perder 4-1 em Espanha] quando ninguém acreditava. Com a AS Roma os milagres existem, nunca se sabe o que pode acontecer.»

Para já, a AS Roma vai na frente da eliminatória, mas os oitavos de final da Liga dos Campeões estão em aberto, até porque Adrián López se intrometeu na noite de sonho de Nicolò Zaniolo. No entanto, João, que viu o jogo desta terça-feira no Porto, pouco se chateou com o golo do FC Porto: «Queria o 2-0, mas dia 6 estou cá eu.»

[Fotografia de capa: na época em que fez Erasmus em Roma e que culminou com a conquista da Taça de Itália, em 2007/2008, - último titulo da AS Roma]