O Atlético da Tapadinha não para de surpreender no topo da Liga de Honra. O treinador João de Deus é o grande arquitecto de uma equipa que, além de não poder jogar no seu estádio, foi construída com nove jogadores emprestados por cinco clubes diferentes. A verdade é que o jovem treinador conseguiu criar um grupo forte que continua a surpreender ronda após ronda. Os adeptos já começam a sonhar com o regresso ao primeiro escalão do futebol português, mas o treinador prefere manter as expectativas baixas. Um jovem treinador com uma curta carreira que chegou à Tapadinha com a bênção¿de Rui Costa e Jorge Jesus.

João de Deus, 35 anos, começou a carreira como preparador físico no V. Setúbal e só em 2008 começou a treinar. Depois de uma primeira experiência em Cabo Verde, passou pelo Ceuta e chegou ao Farense na II Divisão B. Este ano deu o salto para a Liga de Honra e, segundo conta o presidente do clube, José Almeida Antunes, com o beneplácito de Rui Costa. Toni Pereira tinha liderado a equipa na promoção, mas no final da época deixou um vazio na equipa técnica. Almeida Antunes, recorrendo à amizade com Luís Duque, virou-se primeiro para o Sporting e José Lima, um dos técnicos da formação dos leões, esteve muito perto de ser o treinador eleito. O acordo chegou a estar formalizado, mas as notícias nos jornais deitaram tudo a perder.

Foi então que apareceu o nome de João de Deus. A curta carreira do treinador deixava algumas dúvidas, mas uma conversa com Rui Costa, director desportivo do Benfica e um telefonema de Jorge Jesus deram corpo à nova aposta. «Não sabia muito dele e perguntei ao Rui Costa que conheço desde pequenino. O Rui ligou ao Jorge Jesus a perguntar por ele e pronto. O Jesus queria-o levar para o Fátima, para acompanhar os miúdos do Benfica, mas acabou por ir o Diamantino e ele veio para aqui», conta Almeida Antunes.

João de Deus demarca-se da ligação ao Benfica. «Há uma parceria entre a instituição Atlético e a instituição Benfica, mas eu estou fora disso. O presidente já me conhecia, o director desportivo também, estiveram atentos àquilo que foi o meu desempenho no meu anterior clube e com a saída do anterior treinador criou-se um vazio», conta.

A verdade é que a aposta está a dar frutos. Ao fim de quase um terço da competição, o Atlético, que tinha como ambição apenas a manutenção, está no topo da classificação com cinco pontos de vantagem. «Está a correr bem, muito bem, mas tenho sempre dito que esta liderança pode ser circunstancial. Temos agora dois jogos em casa, mas são dois jogos contra os mais fortes candidatos à subida [Moreirense e Penafiel]. Não vamos alterar as nossas expectativas em função destes dois jogos», destacou o treinador antes do início de mais um treino na Tapadinha.

Com vinte pontos em nove jornadas, João de Deus diz que faltam apenas mais treze para o objectivo. «Aquilo que queremos é alcançar a manutenção e faltam-nos treze pontos para isso. Vamos ver quando os conseguimos fazer. Não é fácil conquistar pontos nesta liga, há muita competitividade, muita observação e análise dos adversários, toda a gente tenta enganar toda a gente. Cada ponto é extremamente difícil de conseguir», destaca.

Mas o presidente sonha mais alto e abre as portas a novos objectivos. «Eu já começo a deixar para trás a manutenção. Vinte pontos numa altura destas dão-me algum sossego. Nos próximos quatro jogos, fazemos três em casa e, se as continuarem desta forma, com alguma margem, podemos pensar de outra forma à entrada da segunda volta. Se já tivermos perto de assegurar a manutenção, contem connosco, contem mesmo connosco. Uma subida à Liga seria a sorte grande para o Atlético. Seria tudo completamente diferente com as receitas da I Liga», referiu.