A 11 dias da grande final de Viena, o FC Porto perdeu o capitão e ‘alma mater’, Fernando Gomes. O ponta-de-lança tinha 31 golos em 41 jogos oficiais. Baixa de peso? Com certeza.

Gomes juntou-se aos defesas centrais Lima Pereira (17 jogos/1 golo) e Eurico Gomes (não utilizado), e ao médio Jaime Pacheco (24 jogos/2 golos) no lote de indisponíveis para o treinador Artur Jorge.

Contrariedades importantes antes do jogo contra o poderoso Bayern.

«O Gomes era uma peça fundamental na nossa estratégia», recorda António André, carismático centrocampista e titular indiscutível no FC Porto de Artur Jorge.

Reportagem da RTP sobre a lesão de Fernando Gomes:

«Perdemos também o Lima Pereira e o Jaime Pacheco não estava 100 por cento. Mas a nossa união, a nossa vontade, a nossa equipa, o nosso sacrifício de muitos dias fora da família, viagens, exaustão…Tudo se embrulhou naquela final. ‘Então eu já não vejo o meu filho há tanto tempo para chegar aqui e agora vamos deixar fugir o pássaro? Não...’», vinca o antigo internacional português.

Fernando Gomes, ele próprio, aceita voltar ao dia 16 de maio, véspera de um jogo contra o Marítimo para o campeonato. O dia do treino onde a grave lesão aconteceu. Contra os juniores.

«Num treino, ao marcar um golo, fiquei com o pé preso e isso provocou-me uma fratura da tíbia e perónio. Mas marquei golo (risos). Os juniores estavam a ganhar aos craques, tivemos de aplicar-nos», conta o ex-ponta-de-lança, jogador icónico na ilustre história azul e branca.

«O meu papel era aquele, temos de treinar como jogamos. O meu infortúnio - por ser capitão e marcador de golos e por ser dez dias antes - estava mais fresco. Mas os meus companheiros mostraram que tínhamos um plantel extraordinário. Com menos quatro ou cinco jogadores importantes, o FC Porto conseguiu ser superior a um monstro do futebol como o Bayern Munique.»

Gomes lembra-se do instante da lesão como se tivesse acontecido ontem.

«Tive logo a noção de que ia falhar o jogo de Viena. Mas fiquei tranquilamente, se podemos dizer, sentado a dizer: ‘não vou jogar a final mas vou jogar a Taça em Tóquio’. Foi uma maneira de dar algum conforto a mim próprio e também para não colocar uma carga ainda mais pesada na equipa.»

Paulo Futre, habitual parceiro de ataque de Fernando Gomes no ataque, considera que a ausência do goleador foi «um tremendo choque».

«Foi a dez/onze dias da final, o nosso capitão, o goleador, aquilo foi uma grande dor de cabeça. O Artur Jorge teve de mudar praticamente tudo. Depois jogámos sem ponta-de-lança na final. Nos três anos em que estive no Porto, terá sido a única vez em que jogámos sem ponta-de-lança de início.»

Ao longe, num sofá da cidade do Porto, Fernando Gomes e Lima Pereira carpiram mágoas e assistiram ao FC Porto-Bayern pela televisão.

«Sim, vi o jogo em casa, com amigos, familiares e o Lima Pereira. Foi um dos momentos mais complicados que vivi, dada a mistura de sentimentos. Primeiro, de tristeza, no início, por não estar lá. Depois por estarmos a perder na primeira parte. Tristeza a duplicar», confessa Fernando Gomes.

«Depois, com a viragem de marcador, a tristeza virou uma alegria enorme. Todos ficámos felizes e todos naquela casa fomos campeões da Europa. Uns porque eram adeptos, outros, como eu, porque tinham também jogado.»

No fim, a festa de Viena transbordou até à ponta ocidental da Europa. Uma maluqueira!

«Houve pessoas a subir os muros de minha casa, a pendurarem-se nos portões. Invadiram-me literalmente a casa, trouxeram prendas para mim e para o Lima Pereira.»

Fernando Gomes só voltou a jogar oficialmente no dia 26 de agosto de 1987, frente ao Belenenses e na 1ª jornada do campeonato 87/88: 7-1 nas Antas. António Lima Pereira teve de esperar mais um pouco: fez 90 minutos na alentejana cidade de Moura, para a taça, a 21 de novembro.