382 milhões de euros, é o montante gasto pelas autarquias com o desporto, segundo os últimos dados disponíveis, referente ao ano de 2003, recolhidos pelo Instituto Nacional de Estatística e agora complicados pelo ISMAI (Instituto Superior da Maia), face ao arranque da 3ª edição do curso de Pós-Graduação em Gestão do Desporto Municipal. Desses 382 milhões de euros, cerca de 80 seguem directamente para as associações desportivas, onde estão inseridos os clubes de futebol, sendo que a maior fatia do bolo (244, 48 milhões) destina-se à construção e manutenção dos recintos desportivos. O restante destina-se a actividades promovidas pelo erário público.
Para o Mestre Gastão Sousa, coordenador da licenciatura em gestão desportiva, os montantes não são demasiadamente elevados, mas a distribuição do «bolo» e, sobretudo, a gestão a nível das artarquias, na área do desporto, e dos clubes deixam muito a desejar. Aliás, a pedido do Maisfutebol, Gastão Sousa disponibilizou-se a dar notas, de zero a cem, a essa duas realidades, por vezes intimamente ligadas: «Se tivesse de dar notas, diria que a gestão desportiva nas autarquias está perto do suficiente, dava-lhe 45 por cento. Nos clubes, onde também tem havido algumas melhorias, a pontuação para os gestores cai para os 30 ou 35 por cento.»
Com os clubes a serem geridos nos últimos anos por pessoas sem formação académica específica para a função, surge a necessidade de especialização em áreas como a gestão em geral, o direito desportivo, a publicidade, entre outros aspectos até agora desvalorizados. «Um problema é que essa relação entre câmaras e clubes precisa de melhor regulação. Outro, passa por uma realidade que se tornou incomportável, pois os clubes não definiram tectos salariais e colocaram-se agora em posições delicadas, com níveis salariais muito desiguais. Para além disso, criam expectativas irrealistas na área das receitas previstas e, se a autarquia ou os patrocinadores falham, não podem pagar aos atletas», explica.
«Qualquer financiamento das autarquias aos clubes, ou associações desportivas, tem, por lei, de obedecer a um contrato-programa de desenvolvimento desportivo», lembra Gastão Sousa, aludindo a um requisito que nem sempre é cumprido, apesar da maior consciencialização dos intervenientes face à conjectura actual: «Há deficiências ao nível do financiamento, por não obedecer em alguns casos aos requisitos legais, ao nível da supervisão das entidades responsáveis e na gestão dos clubes, mas todas estas realidades estão a ser alvo de melhoramento, pois chegou-se a uma situação complicada.»
Face a montantes elevados, torna-se complexo compreender como podem os clubes estar a atravessar tamanhas dificuldades, com crescentes casos de salários em atraso aos seus profissionais, mas há bons exemplos a seguir, e a tendência é que, a bem ou a mal, cada vez mais os dirigentes percebam a importância da gestão coerente dos capitais. O responsável do ISMAI, especialista na matéria, explica. «Cada vez mais, as autarquias estão a mostrar sensibilidade para a regulamentação e a fiscalização do dinheiro investido no desporto e nos clubes, principalmente. Os técnicos com formação superior em desporto estão a ser muito requisitados e neste momento já 20 câmaras municipais das cerca de 300 que existem em Portugal têm um Plano Estratégico para o Desenvolvimento Desportivo», conclui Gastão Sousa, apontando um exemplo pela positiva: Câmara Municipal de Figueira da Foz.