Têm anos e anos de história, chegaram ao topo, arrastaram muitos adeptos, alguns andaram pela Europa. Todos desapareceram nos últimos anos. Uns acabaram em definitivo, outros começaram tudo de novo. Farense, Felgueiras, Campomaiorense, Marco, Salgueiros, Ac. Viseu, Ovarense, Alverca. Lembra-se? O Maisfutebol publica uma série de reportagens sobre esses clubes que ficaram para trás. Aqui, o declínio do Ac. Viseu.
«Em Janeiro de 2006 acabou tudo: futebol, andebol, basquetebol, etc». As muitas dívidas do Académico de Viseu levaram à extinção do clube que, na verdade, só agora tem o nome da capital beirã. Naquele mês de 2006, o Clube Académico de Futebol (CAF) deu o último suspiro dos seus 92 anos de vida. Mas, curiosamente, ao contrário do que é comum dizer-se, «o CAF não acabou por causa do futebol».
«A insolvência é pedida por duas funcionárias da natação. Não é através das dívidas do futebol, como se esperava. As piscinas do Fontelo entraram em obras e o CAF teve de abandonar o projecto que tinha. Essas duas funcionárias foram para o desemprego. Entretanto, elas recorreram ao tribunal, que lhes deu razão, e foi pedida a insolvência por causa dessa situação», conta José Monteiro, antigo, e actual, director do futebol dos viseenses.
O dirigente explica que «havia dívidas aos jogadores, sobretudo ao Paulo Ricardo», futebolista que passou pelo clube no início da década de 90 e a quem o CAF tinha uma indemnização a pagar (cerca de 200 mil euros mais uma prestação anual até aos 65 anos). «A situação das funcionárias chegou mais cedo, mas íamos ter o mesmo problema com o Paulo Ricardo, pois nunca chegámos a acordo com ele. Não havia mais nada a fazer», explica José Monteiro. Todas essas situações fizeram com que o clube não pudesse receber quaisquer subsídios.
Benfica, F.C. Porto e Sporting salvaram as camadas jovens
Apesar da insolvência se ter dado em 2006, a última época do Académico de Viseu, ou melhor, CAF, foi em 2004/05. Nessa altura, o clube andava pela II Divisão B, longe do escalão principal onde esteve por quatro vezes . CAF fez um campeonato acima das expectativas e nos lugares cimeiros, com o estreante Rui Bento ao comando. Só que o Académico tinha um futuro negro à frente. Tão negro como a cor das camisolas.
«Estávamos com o processo do Paulo Ricardo, que nos impediu de inscrever a equipa para a época seguinte. Só ficámos com as camadas jovens.» Mas até essas acabaram. «Foi muito complicado, foi das coisas mais difíceis que nos aconteceu. Como é que íamos explicar aos miúdos que não podiam jogar futebol? A única coisa que conseguimos foi fazer jogos-treino com o Benfica, o Sporting, o FC Porto, que acederam aos nossos pedidos. Ninguém aceitou bem esta decisão, nem nós, nem os pais. Mas só três jogadores mudaram de clube. Na época seguinte, já como Académico de Viseu Futebol Clube, os juniores e os iniciados subiram ao Nacional e ainda lá estão.» A deixa de José Monteiro leva-nos ao novo Académico, que é, ao mesmo tempo, a morte de um outro clube do concelho, o Grupo Desportivo de Farminhão.
Os dirigentes assumiram que o CAF ia desaparecer, mas, ao mesmo tempo, não queriam que o Académico fosse apenas uma memória. Por isso, esforçaram-se para ressuscitar o clube. «Foi feito um protocolo com o Farminhão e criou-se o Académico de Viseu Futebol Clube», relembra José Monteiro, explicando que não se tratou de uma cedência de direitos. «Só alteramos o nome, a sede passou a ser em Viseu e recomeçámos na distrital.» Do CAF restam agora as tradições, as cores, o símbolo e as memórias. Já a paixão passou para o novo clube, hoje na Série C da III Divisão.