Aos 17 anos Filipe Cândido foi para o Real Madrid, mas o ano passado com a camisola do campeão espanhol foi a excepção numa carreira que já percorreu vários cantos do Mundo. Sporting, Real Madrid, V. Setúbal, Salgueiros, Felgueiras, Leça, Ac. Viseu, Bucheon (Coreia), Imortal, Lokomotiv Sófia (Bulgária), Kavala (Grécia) e actualmente Vila Meã. Estes são os clubes por onde já passou o avançado, actualmente com 28 anos.
A experiência no futebol português é marcada pelos ordenados em atraso. O Bonfim, onde esteve cinco meses sem receber, foi a primeira casa onde sentiu a dificuldade com que vivem vários clubes em Portugal. «No Salgueiros passei dois anos que adorei. Pagaram-me sempre ao dia certo e tínhamos prémio de jogo. Depois fui para o Felgueiras onde tive uma experiência muito negativa. Em dois anos tive 10 meses de salários em atraso e troquei de treinador 10 vezes. De seguida fui para o Leça, entre os meus 22-24 anos, em desespero de causa. Queria relançar a carreira, mas não correu bem. Ficaram a dever-me oito meses de ordenados. Depois o meu empresário Jorge Mendes surgiu-me com um projecto para subir de divisão no Ac. Viseu, na II Divisão B. Fiquei com quatro meses de ordenado em atraso e ao fim de seis meses decidi fazer-me à vida. Fui para a Coreia», conta em entrevista ao Maisfutebol.
A esperança com que voltou a emigrar foi desfeita quando se deparou com a realidade de um clube chamado Bucheon. «Estive lá pouco tempo. Não me adaptei e vim-me embora. Eles queriam era comer muito. Molhavam o pão na mousse, metiam mel por cima e comiam», relembra
Filie Cândido regressou a casa, mas por pouco tempo. Depois de seis meses no Imortal o saldo era positivo, mas o avançado decidiu voltar a emigrar. Viajou até à Bulgária para jogar no Lokomotiv de Sófia. O frio e o gelo foram suficiente para lhe romper as botas com que treinava, mas a esperança de singrar naquele país foi rompida pelos efeitos do Homem, não da Natureza. «Começou logo mal pois assinei contrato em búlgaro. Arranjaram uma tradutora de espanhol, mas nunca um exemplar do contrato traduzido. Falei com o Iordanov e o Balakov e senti-me protegido por eles, mas em vão.
Criaram problemas logo nos testes médicos. Tinha feito exames em Portugal e estava tudo bem. Cheguei lá e levaram-me a um hospital, que estava a cair aos bocados. Fiz exames numa bicicleta a cair de podre e disseram-me que tinha problemas de coração. Tive de assinar uns papéis para jogar. Quando as coisas não corriam bem pagavam só 70 por cento dos ordenados. Começaram os problemas», sublinha.
Rescindir por telemóvel a traduzir búlgaro
Não entendia nada do que o treinador lhe falava em búlgaro e relembra que o balneário estava a cair aos bocados, com o banho a ser dado com água que sai de um buraco da parede. Mas, era fora do recinto desportivo que tinha mais preocupações. «Eu comecei a exigir que me pagassem o ordenado que tínhamos acordado e começaram a ameaçar-me. Começaram a dizer-me que viver sozinho na Bulgária é muito perigoso. Falei com o Iordanov, que inclusive, esteve lá algumas vezes, e ele concordou que o melhor era sair de lá.»
O ambiente tenso que viveu na Bulgária é agora transformado em sorriso quando descreve a forma algo caricata como conseguiu a desejada rescisão: «Sentei-me numa sala com o director desportivo e entre nós estava uma mesa. Como ele só falava búlgaro ele fez uma chamada para o Iordanov e colocou o telemóvel em alta voz no centro da mesa. O acordo para a rescisão foi feito atrás da chamada telefónica. O director falava para o telemóvel em búlgaro e o Iorda traduzia para mim em português. Depois eu respondia e ele traduzia para búlgaro, para o director entender. Foi assim que rescindimos contrato.»
Voltou a Portugal, mas por pouco tempo. Uma nova aventura chamou-o e mesmo desiludido com a experiência búlgara, Filipe Cândido tentou fintar as adversidades e rumou até à Grécia.