Vítor Pereira, presidente da Comissão de Arbitragem da Liga Portuguesa de Futebol Profissional, saudou recentemente o regresso de João Ferreira aos relvados portugueses. O árbitro desaparecera do mapa futebolístico nos últimos meses, devido a uma história que merece ser contada. Major no exército português, João Ferreira foi destacado para uma missão de paz no Líbano.
O militar viajou para o sul do Líbano em Maio deste ano, integrando um grupo de 141 portugueses que realizou diversas acções na zona fronteiriça com Israel. Habituado aos insultos das bancadas, à incompreensão generalizada, João Ferreira esqueceu as agruras do futebol e enfrentou momentos de tensão bem mais fortes, ao longo dos últimos seis meses. Em conversa com o Maisfutebol, o árbitro/major reconhece que andar pelos relvados portugueses é «bem mais fácil.»
«Foram seis meses e alguns dias. Desconhecia completamente o Médio Oriente e não sabia o que ia encontrar. A tensão naquela região é latente, estávamos na fronteira entre o Líbano e Israel, mas felizmente nunca fui confrontado com numa situação de gravidade concreta. A missão acarreta sempre riscos, porque nesta altura as forças das Nações Unidas são alvos privilegiados pelos terroristas», explica.
Um quartel e o respeito dos indonésios
João Ferreira enumerou as funções dos militares portugueses destacados para a região. «Havia três grupos de acção. Um módulo de apoio, sobretudo relacionado com questões logísticas, e outros dois de reconstruções verticais e horizontais. A nossa grande obra foi construir um quartel de raiz para os indonésios», revela. Indonésios? «Sim, realmente, é uma curiosidade, mas fiquei surpreendido com o respeito e admiração que os indonésios têm pelos portugueses.»
Ao longo dos últimos meses, o Major deixou de lado as trivialidades e conflitos do futebol português, mas levou um apito na bagagem para matar saudades de um desporto que nunca deixou de amar. «Os portugueses que estavam lá sabiam que eu sou árbitro e até contavam aos outros. Um superior indiano achava muita piada e estava sempre a brincar com isso. Levei um apito e conseguimos organizar um torneio de futebol, era dessa forma que passava os meus domingos à tarde. Serviu para matar saudades, agora quero dar o máximo para justificar as palavras de Vítor Pereira neste regresso aos relvados portugueses», remata o árbitro.