Hélder Miguel Esteves Almeida, Euciodálcio Gomes, Gabriel Tomás Marques Lourenço Lopes e Bruno Miguel Gonçalves Lopes. Estes quatro meninos têm em comum o sonho de jogar num dos principais clubes do futebol português, mas partilham ainda o facto de estarem sob a alçada disciplinar da Federação Portuguesa de Futebol. O Conselho de Disciplina instaurou processos a todos eles porque dois clubes reclamam os seus serviços para a época 2008/09.
O Campeonato Distrital de Escolas da AF de Lisboa ainda não começou, mas Hélder Almeida prepara-se para a estreia pelo Sporting. O Benfica também o quer. Este menino de 10 anos treina durante a semana em Viseu, cidade onde vive, e ao sábado de manhã desloca-se a Lisboa para jogar pelos leões. Tem sido assim deste que formalizou a transferência para o clube leonino. Vai ser assim no dia 25 deste mês, pois não está impedido de jogar.
«O Hélder treina durante a semana comigo no Académico de Viseu e joga pelo Sporting nos jogos particulares. Ele neste momento não tem noção que existe um processo na Federação por causa da inscrição dele. Está muito entusiasmado por estar no Sporting e só quer jogar», afirma ao Maisfutebol Júlio Rocha, treinador deste jovem avançado na época passada no Académico de Viseu e responsável pelo acompanhamento que lhe é dado actualmente.
A fantástica campanha da equipa de escolas do Académico de Viseu na época passada, onde se sagrou campeão distrital sem derrotas (só um empate no meio de vitórias), fez com que os olheiros dos «grandes» mostrassem interesse nos miúdos da terra. «O Gabi foi para o Porto, o Kiko para o Benfica e o Hélder para o Sporting», enumera Júlio Rocha. Sim, foram, mas só Kiko não está a ser alvo de processo disciplinar.
«Fizemos um campeonato excelente, fomos a equipa com mais golos marcados, menos golos sofridos e isso chamou a atenção dos outros clubes. O que me revolta é que as pessoas não olham a meios para atingirem os fins e nem querem saber se o menino está ou não comprometido com um clube, depois dá confusão», sustenta o técnico Júlio Rocha.
Seja qual for a razão, estas duplas inscrições aumentaram desde que foi liberalizada a circulação de jogadores até aos 14 anos.
«Desde que o jogador não tenha 14 anos nós não somos vistos nem achados. Os olheiros aliciam os pais, eles assinam a inscrição e pronto. Nós não somos obrigados a receber qualquer informação e, no caso dos miúdos que saíram daqui, não fomos consultados», explica ao nosso jornal José Monteiro, director do Ac. Viseu.
Conhecer o Benfica e escolher o F.C. Porto
Gabriel Lopes, conhecido por «Gabi», está inscrito pelo F.C. Porto na AF do Porto, mas o Benfica também reclama este menino de 10 anos. A inscrição dos encarnados não foi aceite pela AF de Lisboa, mas o processo está a ser investigado no Conselho de Disciplina na FPF.
«O Benfica há muito tempo que seguia o Gabi e inclusivamente ele participou no Mundialito de Escolas, que decorreu em Vila Real, nas férias da Páscoa, mas ele era jogador do Académico. No final da época o Porto mostrou interesse e o menino disse-nos que ia para lá», explica Júlio Rocha.
O treinador campeão esclarece ainda que esta época continua a treinar Gabi uma vez por semana: «Ele treina comigo à segunda-feira e nos outros dias treina e joga no Porto. Foi isso que acordámos com o Porto e é assim que estamos a fazer. Ou seja, o caso do Gabi é semelhante ao do Hélder pois foi dessa forma que acordámos com os clubes.»
Gabi e Hélder continuam a viver em Viseu e a treinar no clube que os projectou. As rivalidades entre F.C. Porto e Sporting não interferem nestes casos, pois são os responsáveis dos clubes que definem o trabalho que é realizado.
Júlio Rocha lamenta que o sucesso de uma equipa de escolas cause tanta confusão nas instâncias federativas: «Qualquer um destes jogadores está no lote dos cinco melhores a nível nacional, mas é de lamentar tudo isto pois os únicos prejudicados são os miúdos.»