Hulk foi a aposta do F.C. Porto para compensar a falta da fantasia de Quaresma. Nesta altura, o brasileiro já merece ser encarado como um indiscutível no onze dos dragões? Dois jornalistas do Maisfutebol apresentam análises distintas. Vítor Hugo Alvarenga acha que não, Pedro Jorge da Cunha defende o avançado. O leitor decide:

1. Individualismo
Acusação (VHA): Hulk é individualista. Compreende-se Jesualdo Ferreira, procurando não reprimir o talento puro do avançado, mas deixar passar em claro esta realidade valida qualquer tipo de comportamento do brasileiro no rectângulo de jogo. Frente ao Arsenal, uma vez mais, Lisandro López e companheiros ficaram a ver Hulk tentar o impossível, ignorando vias de passe completamente desimpedidas e promissoras. Perigoso.

Defesa (PJC): Em doses moderadas o egoísmo pode ser uma virtude. Hulk acredita nisso em vários momentos do jogo. Eu também. E acredito que este egoísmo naturalmente saudável do brasileiro é a melhor maneira de Hulk ajudar a equipa no presente. Fartos do futebol cinzento, automatizado e sem margem para o risco estamos nós. Deixemos Hulk crescer no seu próprio mundo, com lugar ao erro, à coragem, ao espectáculo. Exagera pontualmente? Sem dúvida. Desequilibra muitas vezes? Parece-me óbvio.
2. Táctica
Acusação (VHA): Por um lado, deixar Hulk à solta no relvado serve como álibi para restantes iniciativas dos avançados do F.C. Porto. O ataque portista ameaça tornar-se um conjunto de corridas desenfreadas rumo à baliza adversária, sem nexo e consideração pelos companheiros de equipa. Por outro, a variante de 4x3x3 para um 4x4x2, com Lucho a fechar à direita, não resulta perante a actual condição física do argentino. O lateral fica desprotegido. A Académica, no Dragão, soube aproveitar isso mesmo para assustar a equipa de Jesualdo.

Defesa (PJC): Hulk tem 22 anos e está há apenas cinco meses em contacto com um futebol verdadeiramente competitivo e exigente. E neste curto período parece-me ter evoluído mais do que seria previsível à partida. Ainda assim continua a ter uma margem de progressão extraordinária. Hulk merece paciência e tolerância. Trabalhem com ele os vários aspectos tácticos que deve corrigir, mas não lhe retirem aquilo que tem de melhor: o visível prazer que sente ao jogar futebol. Imagino-o sem dificuldades num 4x4x2 ao lado de Lisandro Lopez na frente de ataque; concebo um 4x3x3 com Hulk no centro do tridente ofensivo (vide o recente jogo com o Arsenal) ou numa das alas.

3. Banco
Acusação (VHA): O argumento parece insignificante, mas Jesualdo Ferreira pensou isto mesmo durante largo período. Ter um jogador como Hulk no banco pode ser fundamental, quando a fórmula inicial falha. Nesta altura, o F.C. Porto começa os jogos com três especialistas em movimentos de ruptura (Lisandro, Hulk e Rodriguez) e fica sem alternativas no banco. Tarik, Mariano ou Farías são mais lentos e obrigam, como tal, a um reajuste dos processos ofensivos. Aliás, Jesualdo tem mexido menos no ataque durante os jogos, por isso mesmo.
Defesa (PJC): Chamem-me ingénuo, mas sempre acreditei que os melhores jogadores devem estar em campo desde o apito inicial do árbitro. Hulk já é um dos melhores jogadores do F.C. Porto e mostrou vezes várias merecer mais do que o banco de suplentes. Factos: a súbita melhoria de resultados dos dragões (sete vitórias consecutivas; três para a Liga, três na Champions e uma na taça) coincide com a entrada de Hulk no onze inicial. Jesualdo não tem alternativas no banco quando Hulk joga de inicio? Então é porque o brasileiro deve mesmo ser titular.

«Jogo de opostos» é um espaço de debate semanal sobre temas da actualidade desportiva, entre dois jornalistas do Maisfutebol, Pedro Jorge da Cunha e Vítor Hugo Alvarenga.