Quim deve continuar na baliza do Benfica? Dois jornalistas do Maisfutebol apresentam análises distintas. Pedro Jorge da Cunha acusa, Vítor Hugo Alvarenga defende o guarda-redes, em três pontos. O leitor decide:
1. Momento
Acusação: Seis golos em Brasília; cinco em Atenas e mais dois na Luz diante do Vitória de Setúbal. Em doze dias, a habitual serenidade de Quim foi irremediavelmente arrasada por um furacão de golos sofridos: alguns com culpa directa do guarda-redes, é bom sublinhá-lo. E se nos dois primeiros destes jogos não é justo considerá-lo o principal responsável, na última das partidas o veredicto é cruel: o Benfica perdeu dois pontos devido a um erro inadmissível de Quim. Para defesa do próprio jogador, o melhor é sair da baliza, recarregar baterias e regressar emocionalmente equilibrado.
Defesa: Quique Flores foi o primeiro a vir a público defender o seu guarda-redes. O alvo é demasiado fácil. Quim falhou, de acordo, mas a questão deveria ter sido resolvida bem antes, falando do jogo com o V. Setúbal. O sector defensivo do Benfica, por exemplo, tem sido sujeito a constantes mudanças, nem sempre por motivos físicos. Logo, esse é o primeiro foco de instabilidade no seio da equipa. Os erros individuais são apenas uma consequência natural. No Brasil e na Grécia, pouco havia a fazer. Falhou o colectivo.
2. Limitação e Personalidade
Acusação: O que distingue um guarda-redes de top de outro «apenas» bom? No futebol profissional, essencialmente a qualidade do jogo fora da baliza e o carisma. A este nível, entre os postes 99,9% dos guardiães são competentes. Quim também o é. Mas para fazer parte da tal elite, falta-lhe o restante: uma maior regularidade nas acções exteriores (cruzamentos e saídas) e uma personalidade mais interventiva no jogo e no balneário. Falta a Quim a garra e o ardor dos maiores na sua posição. Num momento que lhe é ingrato, como o actual, isso poderia fazer toda a diferença.
Defesa: As críticas acompanharam Quim ao longo de grande parte da carreira. Raramente reuniu consenso. Aliás, conseguiu fazê-lo na época passada, com desempenhos de sonho, mas a memória é curta. Aos 33 anos, o guarda-redes conseguiu disfarçar os pontos fracos e rentabilizar ao máximo as suas forças. Guarda-redes de top? São os que mais sofrem «frangos», entre defesas milagrosas. Garra? Isso não falta a Quim. Basta lembrar quantas vezes jogou lesionado, a medo, sacrificando-se em prol da equipa.
3. Moreira
Acusação: As bancadas da Luz estão com Moreira. Há um encanto curioso dos adeptos do Benfica pelo azarado guarda-redes. Finalmente recuperado das malditas lesões que roubaram praticamente três anos à sua carreira, este é o momento certo para reencontrar a titularidade das redes encarnadas. Fisicamente encontra-se em bom nível, efectuou uma pré-temporada tranquila e respondeu com qualidade nas partidas em que participou para a Taça de Portugal. Impôs-se como titular absoluto do Benfica aos 20 anos (79 jogos para o campeonato entre 2002 e 2005). Isso deve querer dizer alguma coisa.

Defesa: Sacrificar um jogador por períodos de menor consistência exibicional provoca danos emocionais, por vezes irreparáveis. Neste caso, não só para o guarda-redes. A defesa do Benfica irá acusar a mudança, pois a adaptação a um novo elemento pede tempo e diferentes mecanismos. Moreira é bom, mas Quim também. Aliás, agora que se encontrou a estabilidade na baliza, algo que faltava desde os tempos de Preud'Homme, seria muito perigoso voltar a entrar numa espiral de mudanças.
«Jogo de opostos» é um espaço de debate semanal sobre temas da actualidade desportiva, entre dois jornalistas do Maisfutebol, Pedro Jorge da Cunha e Vítor Hugo Alvarenga.