Perante o avanço indomável do 4x4x2 (em versão clássica ou na amplificação «losango»), o 4x3x3 perde espaço. O sistema que potencia a exploração dos extremos vem cedendo terreno em oposição aos esquemas mais pragmáticos e povoadores das zonas interiores do rectângulo de jogo.
O Brasil do Mundial de 1970 é considerado a primeira grande equipa de sucesso global a interpretar o 4x3x3. A tendência já vinha de 62 e foi aprofundada, numa transição do 4x2x4 para o 4x3x3, em função do posicionamento de Pelé. No segundo esquema, podia considerar-se o «Rei» como terceiro médio, ainda que tivesse um papel muito livre.
Mário Zagalo, o velho lobo, tinha ao seu dispor um elenco onírico, despojado de medos ou inibições. Mas as suas maiores virtudes foram também os seus maiores pecados. À frente do guarda-redes Félix e do quarteto defensivo (Carlos Alberto, Brito, Piazza e Everaldo), o Brasil tinha dois pontos de sustentação: Gerson e Clodoaldo, com o primeiro a assumir maior protagonismo na primeira fase da construção defensiva.
Entre estes e o trio da frente, Edson Arantes do Nascimento, Pelé. O jogador perfeito para a ligação de todos os elos da teia esmiuçada por Mário Zagallo. Mais para diante, os extremos Jairzinho e Rivelino e o ponta-de-lança Tostão.
A influência de Solich em Zagallo
Imaginemos agora todas estas unidades riquíssimas em constante mobilidade. Pelé a recuar no terreno, a receber a bola de Gerson, a triangular com Tostão ou extremos. A romper espaços, a criar fendas, sempre em habilidade. Jairzinho e Rivelino, colados às laterais, a chegarem à linha de fundo ou a guinarem numa diagonal louca para o centro.
Na área já estava Pelé, ladeando Tostão e a dar razão à «desorganização organizada» de Mário Zagallo. Pela primeira vez na história do futebol mundial, os grandes palcos do Desporto-Rei viam na sua mais bela condição a aplicação da fórmula 4x3x3.
Não se pense, contudo, que todos estes artistas se tornaram anarquistas. Não, a liberdade de Mário Zagallo tinha o seu limite bem vincado e a ordem imposta pelo técnico era seguida à risca. Não havia espaço para desvios.
Como relembra o veteraníssimo técnico em ocasiões várias, quem tinha razão era Fleitas Solich. «Fui com ele que passei de um jogador de bola a um jogador de futebol. Quando foi meu treinador no Botafogo, interrompia os treinos com um apito vigoroso sempre que eu fazia um drible a mais.»
O grande exemplo seguinte de 4x3x3 é a Holanda de 1974. A equipa de Johan Cruijjf e companhia, que chegou à final do Mundial, com Rinus Michels no banco, é exemplo por excelência de sublimação de um sistema que permitia aos jogadores estarem permanentemente em movimento, trocando de posições à volta do desenho que todos sabiam de cor.
De Garrincha a Lato¿
Para o 4x3x3 funcionar na plenitude, os extremos têm de possuir qualidade acima da média. Ou, para requisitos mínimos, boa qualidade. Hoje, ao vislumbramos o mapa que percorre o futebol mundial, não é fácil encontrar homens com as características do maravilhoso Mané Garrincha, do veloz espanhol Francisco Gento, do habilidoso soviético Igor Belanov ou do polaco Gregorz Lato, melhor marcador do Mundial de 1974.
Há homens como Cristiano Ronaldo ou Lionel Messi, mas mesmo nestes casos a procura de outros terrenos, mais centrais, é óbvia. O extremo que joga agarrado à linha lateral e procura essencialmente a linha de fundo para cruzar é uma espécie rara, mais perto do que nunca da extinção.