A história passou despercebida no mundo desportivo, mas a verdade é que está a afectar os homens do futebol. Depois do patrocinador do Mancheter United, a seguradora americana AIG, ter vivido dias de sufoco devido à crise nos Estados Unidos, as ondas de impacto da queda do sistema capitalista atingem um dos mais carismáticos treinadores portugueses.
Jorge Jesus vive dias de aflição, não pelo seu Sp. Braga lhe estar a retirar cada vez mais horas de sono, mas porque o Banco Privado Português está à beira do fim. E o que tem Jesus a ver com o BPP? Tudo, simplesmente porque todas as suas poupanças estão aí depositadas. Jesus será mesmo dos poucos clientes que não tem uma verdadeira fortuna na instituição.
O técnico arsenalista vê a sua vida a andar para trás e reza para que o Governo encontre uma solução para os problemas do Banco. É que o dinheiro reunido ao longo da carreira está em risco, conforme confessou numa entrevista ao Diários de Notícias.
«Garantiram-me que eram depósitos sem risco e, afinal, estão em risco», lamentou o treinador, que poderá muito bem ter de pensar em aceitar um daqueles convites milionários para treinar o quinto classificado do campeonato do Dubai. Só assim será possível recuperar tanto dinheiro em pouco tempo.
O BPP assegura ainda não ter recebido nas suas contas os 450 milhões de euros emprestados por seis bancos na sequência da garantia prestada pelo Estado, pelo que, enquanto isso acontecer, clientes como Jorge Jesus não podem movimentar as suas contas.
O caso do treinador do Braga será bem mais fácil de resolver do que, por exemplo, o de Francisco Pinto Balsemão. Convenhamos que o grau de «fortuna» será ligeiramente diferente. Enquanto o patrão da SIC já foi primeiro-ministro e administrador de grandes empresas, Jesus passou pelo Amora, Felgueiras, E. Amadora, V. Setúbal, V. Guimarães, Moreirense, U. Leiria e Belenenses, antes de chegar a Braga, o que terá servido para amealhar uma quantia apenas razoável.
Ainda assim, o sobressalto existe e deve preocupar os adeptos arsenalistas. Até os mais ilustres, como Marcelo Rebelo de Sousa, que até tem sido um dos maiores defensores da intervenção do Estado no Banco Privado, precisamente para salvaguardar o dinheiro dos pequenos e médios clientes.
Se já não bastassem os golos falhados por Renteria ou os maus resultados no campeonato, Jesus ainda tem de entregar o seu destino às intenções da Banca, esperando que uma vida de trabalho árduo não seja destruída pela ganância de gestores incompetentes.
«Futebolfilia» é um espaço de opinião da autoria de Filipe Caetano, jornalista do PortugalDiário, que escreve aqui todas as semanas