Confesso. Estou farto de ouvir falar da greve do Estrela da Amadora. Suspeito mesmo que Joaquim Evangelista pertence a um limbo onde só existem sindicalistas engravatados, que falam advoguês, mas que nunca são capazes de marcar uma manifestação à porta do ministério.
Esta ameaça, que não passa disso mesmo, é um instrumento inócuo. Entendo a frustração de quem sofre, de quem não recebe, mas os jogadores não sentem o mesmo que os mineiros que protestam em Aljustrel ou dos pescadores que não calam a revolta à porta da Docapesca de Matosinhos. Esses trabalhadores também sofrem e quando é para fazer greve, cumprem!
Ora bem, o que se passa na Amadora é uma greve de pantufas. Um toque e foge que termina invariavelmente em derrota ( dentro e fora de campo). Energias desnecessárias gastas em reuniões sobre formas de luta. Mas porquê, se a forma de luta é sempre a mesma e nunca é concretizada?
Já pensaram em pedir conselhos ao Mário Nogueira?
É uma verdade que a greve é um direito que assiste a qualquer trabalhador, mas quando lançado como arma de arremesso raramente atinge o alvo. Isto, a propósito da crise que nunca mais passa, dos salários que nunca mais são depositados e das promessas de um presidente que já não tem moral para aparecer em público.
Seria o fim do Estrela da Amadora, como sugeriu Evangelista? Eu diria que, a menos que José Sócrates esteja disposto a injectar mais alguns milhões, é melhor acabar com estes clubes sem viabilidade financeira para cumprir as exigências do principal campeonato nacional.
Mas, como em Portugal não estamos habituados a deixar falir bancos nem clubes, talvez um jornalista se lembre de atirar os sapatos a António Oliveira na próxima conferência de imprensa, como fez o iraquiano a Bush. Um gesto singular que serviria para vincar o ridículo de uma figura que simboliza a covardia e o investimento fictício reinante no nosso futebol.
«Futebolfilia» é um espaço de opinião da autoria de Filipe Caetano, jornalista do PortugalDiário, que escreve aqui todas as semanas