Haverá algo mais ridículo do que uma piada seca ou, no fundo, uma fraca comparação? Confesso que ainda estou a recuperar da ligação feita pelo Ministro da Administração Interna entre o tiroteio no interior da esquadra da PSP de Portimão e o assassinato de Lee Harvey Oswald.
Rui Pereira quis usar a sua idade para menorizar críticas. Disse que estava a falar para uma plateia jovem, olhando para os jornalistas que lhe apareciam à frente, e foi ao baú de memórias sacar uma daquelas comparações sem qualquer nexo. O que aconteceu no Algarve, onde um homem baleou outro entre quatro paredes policiais, foi algo que lhe fez recordar a morte do assassino de John F. Kennedy em... 1963. Digamos que as coisas costumam demorar muito tempo a chegar a Portugal, mas convenhamos que esta derrapagem de 45 anos é algo, no mínimo, exagerado.
As analogias servem quase sempre para engrandecer feitos ou pessoas, sempre que comparadas a algo inesquecível ou decididamente marcante. Estão, por isso mesmo, no limite do ridículo.
O mesmo acontece no futebol, onde tantas vezes nos vemos a comparar jogadores do presente com outros que se destacaram no passado. Fala-se em novos Maradonas, Pelés, Cruyffs, Van Bastens, Eusébios e até Ronaldos, mas a verdade é que esses imortais nunca deixam de o ser e raros são os casos em que os novos prodígios ultrapassam os ídolos.
Tal como acontece na Argentina, onde a cada Ortega, Riquelme, Saviola ou até mesmo Aimar se cola o nome de Dieguito, em Portugal há uma certa tendência para falar em novos panteras negras, na esperança de substituírem o único que mereceu esse nome.
Sem recuar muito no tempo ou baixar o nível de exigência, já tiveram a honra de ser comparados a Eusébio jogadores como Ákwa, Paulão, Mantorras e agora Suazo. O hondurenho ainda nem sequer teve tempo para se mostrar aos adeptos do Benfica e já lhe chamam pantera negra, numa extrapolação da alcunha que lhe foi entregue quando jogava na Série B italiana (Cagliari), onde era conhecido como simplesmente «La Pantera». Quando muito, alguém terá falado na pantera nerazzurra, pelo simples facto de ter assinado pelo negro-azul Inter de Milão.
Só que, pelos vistos, já nem sequer basta fazer a desfeita a Eusébio, porque pantera negra parece ser pouco para caracterizar este novo fenómeno que chega a Portugal. Isto porque, nos últimos dias, enquanto Suazo regressava a casa para representar o seu país em jogos de apuramento para o Mundial 2010, chegou a ser comparado a Emil Kostadinov, o búlgaro que representou o F.C. Porto entre 1990 e 94. De facto, aí está algo que poucas pessoas se podiam lembrar, até porque a semelhança física é inexistente e o calibre dos jogadores em causa não tem qualquer paralelo. Se o ridículo matasse...
«Futebolfilia» é um espaço de opinião da autoria de Filipe Caetano, jornalista do IOL, que escreve aqui todas as quartas-feiras