Se é adepto do Benfica já sabe do que estou a falar. Se é um benfiquista a sério não é preciso explicar-lhe o que significa Dudelange. E a memória da passagem desse clube pela Luz significa esperança para o jogo decisivo com o Metalist.
(Para quem não sabe, uma explicação breve: a única vez que o Benfica conseguiu vencer por oito ou mais golos de diferença numa competição europeia foi perante os luxemburgueses do Dudelange. Aconteceu em 65/66, com uma vitória por 10-0 e quatro golos de Eusébio)
Pede-se uma cabazada das antigas, mas, ainda que José António Reyes admita que «já se viu tudo no futebol», é muito fácil de entender que os ucranianos são «um bocadinho melhores» do que o Dudelange da década de 60.
São dados objectivos que o comprovam, como o simples facto do Metalist já estar apurado para a próxima fase da Taça UEFA, depois de ter vencido o Olympiakos e o Galatasaray e não ter sofrido qualquer golo. Para além disso, no campeonato nacional só por duas vezes concedeu mais do que um golo na sua baliza (2-2 com Shaktar e 2-0 com o Dnipro).
Ainda assim é possível. Pelo menos matematicamente, porque há sempre a hipótese do Benfica arrancar uma exibição de sonho e os ucranianos jogarem com a segunda ou terceira linha, até porque já estão apurados (altamente improvável nos dias que correm). Ah, e já agora, também é preciso que Olympiacos e Hertha empatem 0-0.
Mas, regressando à conversa como se estivéssemos no café Benfica de Dudelange - sim, há mesmo um - e a essa boa memória de goleada aos luxemburgueses, constato que os toscos da década de 60 se tornaram autênticos papa-títulos. Na época passada, por exemplo, conseguiram ser os primeiros campeões nacionais na Europa, antecipando-se ao F.C. Porto. E até já ultrapassaram o trauma Benfica, jogando todos os anos com o seu representante local, o FC RM HAMM Benfica.
Só para registo do leitor, o guarda-redes do Hamm chama-se Moreira, também há um David na defesa, um francófono no meio-campo e o treinador fala espanhol. Na última vez que recebeu o Dudelange no seu estádio, o resultado não serviu: 1-1.
Enquanto o jogo não se realiza, podemos sempre especular. E até mesmo os mais cépticos benfiquistas alimentam o sonho, porque, sabe-se lá, pode acontecer...
«Futebolfilia» é um espaço de opinião da autoria de Filipe Caetano, jornalista do PortugalDiário, que escreve aqui todas as semanas