Os primeiros Jogo Olímpicos da Europa começam nesta sexta-feira no Azerbaijão. Ao lado do plano desportivo (inédito) a nível continental, porém, os Jogos Europeus Baku 2015 estão a começar envolvidos em (variada) polémica que, nas vésperas do arranque, ganhou dimensão no que concerne ao respeito pela liberdade de expressão.

A reação do Comité Olímpico de Portugal é de «lamento» em relação ao objeto do que está a ser noticiado e que, nestes dois últimos dias (quarta e quinta-feira), ganhou (mais) relevo com a recusa do Azerbaijão em deixar entrar no país quer organizações defensoras de direitos humanos quer órgãos de comunicação social.

O jornal inglês «The Guardian» noticia na primeira pessoa que o «governo» do Azerbaijão «recusa a entrada no país» ao seu jornalista bem como outras «plataformas media» e «ativistas dos direitos humanos» foram também «banidos». Os jornalistas fizeram notícia nesta quinta-feira; os ativistas dos direitos humanos já o tinham sido no dia anterior.

A Amnistia Internacional comunicou que «foi forçada a cancelar uma visita planeada ao Azerbaijão depois de ter sido informada pelo governo à última hora que a missão devia ser adiada até depois dos Jogos Europeus». A organização informa também que «a visita tinha como intenção fazer um briefing» intitulado «Azerbaijão: os Jogos da Repressão. As vozes que não vai ouvir nos Primeiros Jogos Europeus».

A embaixada azeri em Londres explicou que não estava a fazer um cancelamento, mas antes um adiamento respondendo aos ativistas que «o Azerbaijão não está numa posição de receber a missão da Amnistia» porque, como frisou o porta-voz da embaixada, Polad Mammadov, citado pelo «International Business Times», «está a ter lugar um evento desportivo em tão larga escala».



Acusado de ser um regime autoritário, com detenções políticas de jornalistas e outros críticos locais, com acusações de corrupção às classes governantes do país, o Azerbaijão tem estado sob observação também dos media internacionais. E essa atenção teve um reflexo mais visível quando este país recebe outras 50 nações europeias e os respetivos comités olímpicos para os primeiros Jogos do continente.

O Comité de Proteção dos Jornalistas (CPJ) não se esquece de lembrar que «os organizadores dos Jogos estão obrigados, sob a Cobertura dos Media dos Jogos Olímpicos da Carta Olímpica, a garantir a mais vasta cobertura pelos diferentes media e pela audiência mais vasta possível». O porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros do Azerbaijão, Himat Hajiyev, assegurou, pelo seu lado, que «foram criadas todas as condições para que os media locais e estrangeiros, que vão cobrir os Primeiros Jogos Europeus, possam desempenhar a sua atividade de forma livre».

O porta-voz ministerial explicou, em entrevista à Azertac (a agência noticiosa azeri), que as regras para conceder as acreditações para os Jogos «basearam-se na Constituição, nas leis Sobre os Mass Media e Sobre a Liberdade de Informação e documentos internacionais relevantes a que a República do Azerbaijão está vinculada». Mas o CPJ lembra também que, nessa mesma entrevista, Hajiyev já alertava que, «ao mesmo tempo, as regras de acreditação implicam que esta pode ser cancelada se os representantes dos media internacionais desenvolverem uma atividade contra a integridade territorial, independência e soberania do Azerbaijão, ou visitarem as terras ocupadas do país».



A Federação Europeia de Jornalistas «alertou que os jornalistas a fazerem a cobertura» destas olimpíadas «podem ser sujeitos a vigilância pelos serviços de segurança azeris se ultrapassarem os limites e fronteiras fixados pela sua acreditação oficial cobrindo outros temas que não os Jogos Europeus Baku 2015». Mas, mais do que a cobertura do duelo geopolítico que o Azerbaijão mantém com a vizinha Arménia, as questões dos direitos humanos, associadas às de liberdade de expressão, são as que mais têm motivado a atenção da chamada comunidade internacional.

A Amnistia Internacional afirma, na sequência da recusa à sua missão no Azerbaijão, que «as ações das autoridades apenas sublinharam as suas tentativas desesperadas para uma zona livre de críticas à volta dos Jogos». O «The Guardian» também aponta que a recusa de entrada do seu jornalista no país «parece estar relacionada» com uma viagem do repórter ao Azerbaijão em dezembro de 2014 – o artigo relaciona «as tentativas de expandir o portfolio desportivo» internacional do Azerbaijão com a preocupação externa para com «o apertar governamental sobre a liberdade de expressão e a oposição política».

Ao mesmo tempo que noticia a não acreditação do seu jornalista, o «The Guardian» divulga uma declaração do Comité Olímpico Europeu (COE) considerando a exclusão do repórter como «completamente contra o espírito do desporto». A declaração refere não só que «é sempre um motivo de preocupação quando um jornalista de desporto tem o acesso recusado a um evento desportivo», mas que o presidente do COE («agora que já está em Baku») «irá instar as mais altas instâncias governamentais para tomarem os passos necessários» a uma cobertura «total e «livre» dos Jogos.

Também em Baku já está o presidente do Comité Olímpico de Portugal (COP). José Manuel Constantino admitiu ao Maisfutebol que ainda não tinha tomado conhecimento do impedimento de alguns jornalistas fazerem a cobertura dos Jogos – os media portugueses entraram todos. Mas o presidente do COP não deixou de manifestar a sua posição: «A comprovar-se esta situação, lamento que haja restrições ao trabalho dos jornalistas.»



«Não conheço nenhuma organização desportiva que não tenha sido alvo de críticas», lembrou, entretanto, José Manuel Constantino, descrendo nalguma relação das notícias destas recusas com a saída da Holanda da corrida à organização dos Jogos de 2019 – anúncio feito também nesta quinta-feira. «Não creio», afirmou o presidente do COP, explicando que a decisão holandesa «tem a ver com a natureza do financiamento» sendo essa a «única informação» que o responsável português teve «nos últimos dois dias».

Se a posição do governo holandês é anunciada com fundamentos orçamentais, instâncias políticas europeias têm-se manifestado publicamente, como foi o caso do pedido de boicote feito no Parlamento Europeu – ou a recusa oficiosa da chanceler alemã, Angela Merkel, em estar presente em Baku. José Manuel Constantino não quis cometer a «deselegância» de entrar pela análise política das críticas para com o seu anfitrião: «Não faço comentários políticos estando aqui no Azerbaijão.»

«É perfeitamente natural» trazer medalhas dos Jogos

O presidente do COP assumiu, pelo contrário, os objetivos da Missão Portuguesa nos Primeiros Jogos Europeus e espera dos atletas nacionais a correspondência dos «melhores resultados» com as marcas que «estiveram na origem destas presenças». José Manuel Constantino acredita não só que haja portugueses a «superarem-se», mas aponta também que, para «os atletas que têm pódios europeus, é perfeitamente natural que consigam esse objetivo» de ganharem medalhas em Baku.

Portugal está presente nos Jogos Europeus com uma comitiva de uma centena de atletas divididos por: badminton; canoagem; ciclismo (BMX, BTT e Estrada); Futebol de Praia; ginástica (acrobática, aeróbia, artística e de trampolins); judo; karaté; lutas amadoras; natação; taekwondo; ténis de mesa; tiro; e triatlo.

No judo e nas lutas amadoras, os Jogos de Baku serão ao mesmo tempo os Europeus das modalidades servindo também estas competições de apuramento para os Jogos Olímpicos Rio 2016; com de mais 12 modalidades a contarem também para a qualificação olímpica. A abertura dos Jogos é nesta sexta-feira e a receção aos atletas na sua Aldeia aconteceu nesta quinta. Houve festa... e festa: atletas russos e ucranianos tiveram de ser apartados para não passarem dos empurrões uns aos outros a algo mais...


O link para a Missão Portuguesa em Baku 2015 é este.