2016 foi um ano rico em figuras nacionais, por força da conquista do Campeonato da Europa. Aqui ficam os dez nomes que mais se destacaram ao longo dos últimos 12 meses.

Fernando Santos

O homem de fé que garantiu só regressar a 11 de julho e em festa, e que poucos levaram realmente a sério, voltou mesmo a Portugal com o primeiro título senior a nível de seleções.

O Engenheiro do Penta ultrapassou uma fase de grupos algo dececionante com três empates, encaixou como natural a felicidade de ter caído do outro lado dos tubarões nos jogos a eliminar – graças a um desnecessário golo dos islandeses frente à Áustria nos últimos minutos da partida –, sobreviveu ao prolongamento com a Croácia, aos penáltis frente à Polónia e bateu Gales sem apelo nem agravo para estar no jogo decisivo em Saint Denis. Aí, resistiu à perda de Ronaldo por lesão, viu algumas defesas excecionais de Patrício, um cabeceamento de Griezmann por cima e uma bola no ferro, antes de lançar Éder para ser o herói inesperado perante o organizador.

Homem de consensos, conseguiu uma relação especial com os jogadores desde a fase de qualificação, que se estendeu depois a Marcoussis e à estada em França. Durante o torneio, manteve a cabeça fria, nunca perdendo o norte, mesmo quando a equipa não correspondia às expectativas nos resultados e soube, ao mesmo tempo, ir fazendo, sem grande alarido, as alterações necessárias para aumentar a consistência coletiva do onze que apresentava: assistiu-se à aposta em nomes de Cédric, Fonte, William e Renato Sanches, que muito ajudaram na reta final da campanha.

Passada a festa (ou ainda não completamente), a caminhada para o Mundial começou mal, com uma derrota na Suíça, mas o treinador tocou novamente a reunir e a Seleção voltou a depender dela própria para estar presente numa nova fase final, como todos os portugueses esperam.

Um ano inesquecível para o capitão da Seleção Nacional.

Cristiano Ronaldo

Um ano em cheio. 2016 trouxe a Cristiano a segunda Supertaça Europeia, a terceira Liga dos Campeões (segunda em Madrid) e, finalmente, o primeiro troféu pela Seleção, ele que tinha estado doze anos antes na final perdida no Estádio da Luz.

No Stade de France, uma lesão tirou-o de campo durante grande parte do jogo decisivo, mas voltou para o banco para ficar à frente deste a gritar que nem um louco, ajudando a empurrar os companheiros para o desejado triunfo. Não foi um Euro-2016 brilhante a nível individual – bisou com a Hungria e marcou o primeiro a Gales –, mas foi por terras gaulesas que deu a conhecer um lado ainda algo desconhecido: o seu papel como verdadeiro líder da equipa nacional.

No fim do ano, em que falhou apenas as conquistas internas, juntou a quarta Bola de Ouro, agora novamente apenas da France Football, o prémio de melhor jogador a atuar na Europa para a UEFA e ainda a conquista do terceiro Campeonato Mundial de Clubes ao seu currículo. Passou os 500 golos ao serviço de clubes, e será o mais forte candidato a também arrecadar o prémio de melhor jogador do ano para a FIFA.

Em novembro assinou um novo contrato até 2012 com o Real Madrid. Os recordes irão certamente continuar a cair.

Rui Vitória levou o Benfica ao tricampeonato.

Rui Vitória

Campeão, vence ainda Taça da Liga e Supertaça. Um ano em cheio para Rui Vitória, que ainda assim dobra 2016 no primeiro lugar isolado da Liga.

Antes da primeira jornada do ano, no início de janeiro, o Benfica encontra-se a cinco pontos do líder Sporting e a quatro do FC Porto. A recuperação no campeonato 2015/16 é em tudo notável, e tem a sua grande oportunidade para passar para a frente sozinho depois do empate do Sporting em Guimarães.

No entanto, esta surge precisamente em Alvalade, perante o grande rival, e depois de ter saído derrotado dos três primeiros dérbis da temporada com os leões. Um golo de Mitroglou basta – juntando-se a alguns falhanços escandalosos dos avançados do Sporting – e o primeiro lugar regressa à Luz. Com desvantagem no confronto direto, já que tinham sido batidos por 3-0 na Luz, os encarnados estão obrigados a ganhar todos os 27 pontos em disputa até ao fim. Trinta e nove anos depois, o tricampeonato é uma realidade.

Cinco dias após a festa nais desejada por todos os benfiquistas, saía mais uma Taça da Liga para o museu da Luz, com um 6-2 ao Marítimo.

O Benfica parte para 2017 com presença garantida nos oitavos de final da Liga dos Campeões pela segunda temporada consecutiva, em que terá pela frente um Dortmund que eliminou recentemente FC Porto e Sporting, o primeiro lugar na Liga e boas perspetivas para chegar à final da Taça de Portugal.

Rui Vitória foi o homem que resistiu a toda a pressão que lhe colocaram vinda de Alvalade, sempre com um discurso apaziguador e coerente, esteve com vida complicada face ao atraso pontual na Liga e à eliminação na Taça, o que motivou a certa altura um voto de confiança por parte do diretor Rui Costa, e foi ultrapassando todos os obstáculos que, a partir daí, lhe saíram ao caminho. Um trabalho notável na sua primeira experiência num dos grandes.

Paulo Fonseca voltou a pisar terreno seguro na carreira.

Paulo Fonseca

Mostrou excelência, irreverência e boas ideias em Paços de Ferreira, que levou pela primeira vez na história à Liga dos Campeões com um brilhante terceiro lugar; deixou-se afogar no redemoinho do Dragão, um Dragão que apresentava menos recursos do que o costume e que nunca encaixou com a ideia do duplo-pivot que foi quase como seu ponto de honra.

A passagem pelo FC Porto terminou em março, com os dragões no terceiro lugar e um Paulo Fonseca visivelmente cansado e esgotado. Talvez mesmo não totalmente preparado para o desafio.

Exilou-se em Paços, embora sem conseguir reeditar a presença europeia, e seguiu na época seguinte (2015/06) para Braga. Ao serviço dos arsenalistas terminou o campeonato no quarto lugar e vingou-se do FC Porto, e daquele que seria o seu sucessor na Pedreira, José Peseiro, com a conquista da Taça de Portugal. Poucos dias depois foi anunciado como sucessor do histórico Mircea Lucescu nos ucranianos do Shakhtar Donetsk.

É no final de 2016 líder incontestado da liga ucraniana, com enorme vantagem, e já garantiu a passagem aos 16 avos de final da Liga Europa, contribuindo para a eliminação do… Sp. Braga.

Mais do que os troféus conquistados ou que pode vir a conquistar, o treinador soube reencontrar-se e, sobretudo, voltar a caminhar seguro na carreira. O mérito é total.

«Traído» pelos clubes, Rui Jorge conduziu a equipa olímpica a uma excelente prestação no Rio de Janeiro.

Rui Jorge

O sucesso de Portugal no Euro 2016 não pode ser dissociado do trabalho de há já vários anos de Rui Jorge. Sem a consistência de André Gomes, João Mário e William Carvalho, por exemplo, dificilmente Fernando Santos teria conseguido cumprir a promessa que fez a todos os portugueses.

Os Sub-21 têm sido um verdadeiro viveiro para os AA naquela que é a sua principal missão, mas apresentaram ainda resultados impressionantes. Cinco anos sem derrotas em jogos oficiais, e apuramento garantido para o Europeu de 2017 na Polónia, em que a Seleção será uma das grandes candidatas ao triunfo.

A meio do ano, o técnico foi obrigado a fazer uma convocatória de recurso – e qualificá-la de recurso é ser algo simpático – para os Jogos Olímpicos e, mesmo assim, apurou a equipa para os quartos de final, acabando por cair perante a Alemanha. Pelo meio fica uma fase de grupos exemplar, em que ajudou a afastar a favorita Argentina, e a dúvida do que teria sido a prestação lusa se os clubes tivessem libertado os jogadores mais importantes, como seria de esperar.

Apontado já como um nome a ter em conta quando Fernando Santos deixar o cargo, Rui Jorge tem construído uma imagem de lucidez e competência que consegue transportar para as suas equipas, seja qual for a matéria-prima sobre a qual construir.

É no Jamor que André Silva inicia o processo de afirmação.

André Silva

Da equipa B a titular da Seleção A, ao lado de Cristiano Ronaldo, passou pouco tempo. Muito pouco. O ruído em torno do seu nome, e de uma aposta que tardava, vinha em crescendo de há meses, mas começou apenas a afirmar-se em definitivo na final da Taça, com dois golos de excelência que adiaram a decisão até ao desempate por penáltis, favorável ao Sp. Braga.

A partir do Jamor, passou a ser André Silva e mais dez, ficando por encontrar quem iria jogar ao seu lado, tendo Nuno Espírito insistido em Adrián López e Depoitre, antes de entregar tamanha responsabilidade a outro jovem: Diogo Jota.

Dobra o ano com 15 golos em 25 jogos – 5 em 8 na Liga dos Campeões, contando com o play-off com a Roma; e 10 na Liga –, o que só por si diz bem da importância que o ponta de lança de apenas 21 anos tem tido na época portista.

Resistiu já a dois períodos menos bons na finalização, em que esteve cinco encontros seguidos sem marcar em ambos, mas mostrou sempre resiliência e resistência à pressão que aumentava à sua volta.

Quatro golos em quatro jogos (um frente a Andorra e o hat-trick com as Ilhas Feroé) justificam também amplamente a aposta de Fernando Santos no pós-título europeu, mesmo com Éder regressado feito herói de Paris. A sua titularidade nos AA é encarada com toda a naturalidade do mundo, numa altura em que a famosa margem de progressão ainda é enorme.

O FC Porto e a Seleção têm o ponta de lança que sempre desejaram. Resta saber quanto tempo o aguentará o futebol português dentro de portas.

Rui Patrício foi o melhor guarda-redes do Euro-2016.

Rui Patrício

Fundamental no Sporting, herói na Seleção. Um dos grandes obreiros do título europeu, de longe o guarda-redes mais decisivo na prova que se realizou no verão, e justamente premiado pela UEFA como o número 1 em França. Também o 12º no ranking da Bola de Ouro da France Football em 2016 é também uma referência ao alcance de poucos.

Rui Patrício somou um punhado de intervenções decisivas ao longo da época, ajudando a dar estabilidade a um Sporting que levou o ataque ao título até à última jornada, mas foi sobretudo no Campeonato da Europa que recebeu todos os elogios.

Na memória de todos estarão certamente ainda duas grandes intervenções, uma delas frente à Croácia, antes do contra-ataque que valeu o golo da qualificação, e pelo menos outra na final, a cabeceamento de Griezmann.

As suas performances não passaram despercebidas, por exemplo, ao histórico Dino Zoff, que, face à tranquilidade que sempre mostrou, o comparou ao compatriota Gianluigi Buffon.

Temeu-se que desse o salto para outro campeonato, mas os 45 milhões da cláusula de rescisão tornam-no para já um fruto proibido para quem não prevê gastar tanto dinheiro num guarda-redes.

Renato Sanches recebeu o prestigiado prémio Golden Boy em 2016.

Renato Sanches

Ascensão meteórica, pedra fundamental nos títulos do Benfica e da Seleção e transferência milionária para um Bayern Munique que já o obriga a um período de adaptação e, também, de aprendizagem.

O impacto que o puro-sangue Renato Sanches teve na liga portuguesa foi grande. Pela agressividade na pressão bem acima no campo, pela verticalidade no arrancar para a baliza, o jovem acrescentou soluções a um meio-campo também órfão de um organizador que foi encostado à direita (Pizzi). Foi com a sua entrada no onze que o Benfica disparou de vez para a revalidação do título.

Não terá convencido inicialmente Fernando Santos, mas acabou por fazer parte da lista de 23 convocados. Usado a partir do banco na fase de grupos terá convencido de vez o selecionador ao entrar frente à Croácia nos oitavos de final, garantindo definitivamente a titularidade em todos os restantes jogos do torneio, incluindo o do Stade de France. Foi obviamente decisivo o golo frente à Polónia na estreia no onze, que encaminhou Portugal para os penáltis e para as meias-finais.

O Bayern pagou 35 milhões à cabeça pelo futebolista de 19 anos, que demora naturalmente a afirmar-se numa equipa recheada de talento em todos os setores. Tem somado minutos, e continuará forçosamente a cumprir um plano de aprendizagem de forma a anular ou a camuflar alguns dos defeitos provenientes desse estado selvagem em que ainda se encontra. As expetativas na Baviera, a julgar pela aposta e pelo uso da imagem de Renato em algumas iniciativas, continuam altas.

Mas não só. Prova-o o prémio «Golden Boy» que lhe foi atribuído pela imprensa, vencendo na corrida outros jovens muito promissores como Rashford, Dembelé, Coman ou Dele Alli.

É obviamente o golo de uma vida. 

Éder

O herói improvável. De patinho-feio da Seleção a autor do golo que valeu um título nunca antes conquistado. Saiu do banco para ganhar bolas, ajudar a dar profundidade à equipa, e incomodar o mais possível os defesas franceses. Fez tudo isso e foi mais longe. Acreditou mais do que toda a gente e rematou de fora da área para um golo histórico, que o acompanhará para sempre.

Éder não vinha a ter uma vida fácil na Seleção, mas tanto nos jogos de preparação como nas intervenções durante o Euro já mostrava sinais de retoma. Na sala de imprensa brincou com o facto de poder vir a ser o melhor marcador do torneio – na melhor conferência dada em Marcoussis por um jogador – e, não o tendo sido, dificilmente voltará a ouvir assobios vindos das bancadas em jogos da equipa das quinas.

A história de Éder nos últimos meses até à final é obviamente de lenda. Eram muitos os que não o queriam nos 23, lembrando André Silva, e esse patinho-feio acabou por calar tudo e todos com o golo. Assim mesmo: O GOLO.

Pós-Euro, a vida voltou a não ser fácil para o ponta de lança. Os franceses perseguem-no pelo golo que provocou mais um Maracanazzo, e na Seleção André Silva emergiu definitivamente para o onze. No entanto, Éder já deu a volta a si mesmo uma vez, poderá fazê-lo vezes sem conta mais.  

Pepe foi um dos alicerces do título europeu conquistado por Portugal.

Pepe

Campeão europeu, vencedor da Liga dos Campeões. Um ano marcado por algumas lesões, mas recheado de títulos importantes, como os dois já referidos, e outros em que acabou por não participar como a Supertaça Europeia (não integrou a convocatória) e Campeonato do Mundo de Clubes (não saiu do banco).

Provou que é ainda um dos melhores centrais da atualidade com o fantástico Europeu que realizou, e em que foi não só um muro para os adversários, mas também uma voz de comando para toda a equipa.

Depois de um Mundial dececionante, em que somou uma expulsão evitável frente à Alemanha, Portugal e todos os que assistiram ao Euro-2016 voltaram a ver o melhor de Pepe.

Vários outros nomes destacaram-se ao longo do ano. Desde logo, Gelson Martins, com uma entrada fulgurante na nova época com jogadas de antologia e assistências, tal como os campeões europeus André Gomes e João Mário, que protagonizaram transferências de valor avultado respetivamente para Barcelona e Inter. Por cá, ainda ficou Adrien, que continua a ser fundamental neste Sporting mais empolgante de Jorge Jesus, e Pizzi, outra das referências da liga portuguesa e de um Benfica que parte para 2017 na frente e à procura do tetra. Raphäel Guerreiro deixou França, onde Leonardo Jardim tem feito um trabalho memorável com escassos recursos, e assinou pelo Borussia Dortmund já em pleno Campeonato da Europa, em que foi uma das figuras. Deixo para o final dois jovens: Rúben Semedo, que continua à espera da oportunidade na Seleção depois da afirmação em Alvalade, e Nélson, também Semedo, em grande momento na segunda metade do ano, ao serviço do Benfica.

Quem foi a figura nacional de 2016?

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