Empate com golos, fora de casa, é uma boa maneira de começar uma eliminatória a duas mãos: na era Champions, vale apuramento em 80 por cento dos casos, segundo a estatística da UEFA. Mesmo assim, a análise ao Basileia-FC Porto, feita pelo Centro de Estudos do Futebol da Universidade Lusófona, em exclusivo para o Maisfutebol, serve para confirmar a impressão imediata de quem viu o jogo sem rigor científico: o FC Porto deixa a Suíça tendo desperdiçado uma boa ocasião para deixar a eliminatória praticamente fechada, algo que este 1-1 ainda não faz.

A superioridade dos dragões foi patente em todos os aspectos de jogo, apesar do desequilíbrio defensivo que deixou o Basileia muito cedo em vantagem. Um desequilíbrio previsto, quase ponto por ponto, nesta antevisão à equipa suíça feita por Nuno Travassos: «Se o extremo direito faz uma diagonal para dentro, a criar uma linha de passe no corredor central, a tendência será o lateral esquerdo acompanhar o movimento, ou então ser o central mais próximo a subir ligeiramente. Seja qual for a solução, isso vai criar, nem que seja por frações de segundo, um desposicionamento da defesa contrária. Ou na ala, ou no eixo defensivo. E esse é um aspeto que o Basileia explora muito bem, sobretudo através do ponta de lança, e com Frei assumindo-se como um jogador muito certeiro no passe longo.»



Dito e feito: aos 11 minutos, nasceu assim o golo de Derlis Gonzalez. No primeiro remate à baliza de Fabiano. Melhor dizendo: no único remate suíço em todo o jogo, à baliza ou fora dela. Sim, leu bem: o Basileia rematou ainda menos uma vez do que o Chelsea no Parque dos Princípes. Um cúmulo de eficácia que, para mal dos seus pecados, o FC Porto não conseguiu acompanhar: seis remates na primeira parte, sete na segunda, para apenas um golo, no penálti convertido por Danilo - precisamente na 13ª e derradeira tentativa dos dragões.

Curiosidade extra, que as imagens ajudam a perceber melhor: no que se refere a finalizações, o jogo ofensivo do FC Porto foi quase sempre inclinado para a direita, com zero remates a nascerem nos corredores da esquerda, contra seis na zona central e sete na direita. Foi daí que nasceu o lance da grande penalidade, conquistada e convertida por Danilo – que com três tiros à baliza de Vaclick foi o mais rematador dos portistas.




Pelo meio, o jogo teve incidentes que o condicionaram: desde logo as lesões de Derlis Gonzalez e Oliver Torres, que afetaram as duas equipas em momentos diferentes do jogo, passando pelo penálti não assinalado sobre Jackson, ainda na primeira parte. Mas a tendência, desde esse golo inaugural de Derlis, não variou: domínio acentuado do FC Porto, acentuado pelas muitas perdas de bola da equipa suíça, grande parte delas na sua zona mais recuada (24% do total em início da construção, número invulgar para este nível de competição, contra os 5% do FC Porto).



Em relação ao que tinha mostrado na fase de grupos, foi um Basileia invulgarmente preso de movimentos, que raramente incomodou o setor defensivo do FC Porto (apenas 11% de bolas perdidas no último terço do campo, contra 32% para os dragões). Mais ativo a recuperar jogo, mais instalado no meio campo adversário, foi um FC Porto dominador que teve de esperar até dez minutos do fim para repôr alguma lógica no marcador.

A superioridade portista viu-se ainda na posse de bola (40/60, nem contra o Real Madrid os suíços tiveram uma percentagem tão baixa), no número de passes, que foi quase o dobro dos efetuados pelo Basileia (280-531) e na incidência de faltas – apenas 13, contra 21 cometidas pelos suíços. O volume de bolas paradas completa este quadro: nem um canto conquistado pelo Basileia, que em todo o jogo só dispôs de dois livres, resolvidos pela defesa portista sem permitir remate. Do lado da equipa de Lopetegui foram nove cantos e um livre, a darem origem a três situações de finalização – uma delas o golo anulado a Casemiro por fora de jogo de Marcano.

Cristiano Ronaldo de volta ao «normal»

No outro jogo da noite, que reforçou um cenário globalmente favorável aos visitantes, o Real Madrid deixou praticamente sentenciada a eliminatória, impondo-se ao Schalke pela terceira vez em menos de um ano e deixando o parcial entre as duas equipas fixado, para já num eloquente 11-2. A notícia foi o fim da «minicrise» de Cristiano Ronaldo, se é que se pode chamar assim a um ciclo de três jogos (299 minutos, mais precisamente) sem marcar.



Foi o seu sexto golo nesta edição da prova, o 73º no total, a três do máximo que agora pertence a Messi. Curiosidade extra, foi também o décimo marcado com a cabeça, algo que só uma restrita elite de seis avançados conseguiu na Champions (Morientes, Raúl, Inzaghi, Jardel e Shevchenko). A noite ficou fechada com o golaço de Marcelo, que voltou a mostrar as qualidades do seu pé direito para um golo que, além de ter acabado com as ténues ilusões do Schalke é, também, forte candidato a golo da jornada.