Muitos lembram-se, agora que vão ler o nome dele de seguida neste texto. Outros tantos, mais novos, nem saberão quem é, apesar de também ter jogado no Chelsea. No dia em que terminou contrato com o Larisa, ninguém terá pensado numa qualquer festa de despedida para um futebolista que partilhou balneário com os melhores do mundo, mas que esteve sempre distante de ele próprio o ser. 

É difícil de encontrá-lo também. Uma pesquisa rápida pela internet termina sempre no mesmo ponto: na Grécia, em 2011. Outra confirma-nos, porém: está ao lado de Özil, Van Nistelrooy, Roberto Carlos, Figo e Anelka. Chama-se Geremi, e com um golo dele, a maldição da Champions prevaleceu: o Bayern Munique campeão europeu caiu aos pés do Real Madrid, algo que pode suceder nesta terça-feira, quando as duas equipas se defrontarem, na segunda mão das meias-finais da Liga dos Campeões.

Um golo de Benzema dá vantagem aos espanhóis. A história, e possivelmente a psicologia, joga a favor dos alemães. O Bayern é a «besta negra» do Madrid na prova, a equipa que quase sempre elimina os espanhóis, quando se defrontam. Na Alemanha, os números são claros: nove vitórias dos bávaros, nenhuma do Real. Um empate apenas, que valeu a última qualificação merengue frente ao Bayern, em 2004.

Mas em 2002, as circunstâncias eram diferentes desse ano em que Portugal recebeu o Europeu e o FC Porto venceu a Champions. Em 2002, o Bayern era o que é hoje: campeão europeu em título. Já Geremi era suplente num Real Madrid liderado por Del Bosque e pela magia dos dois últimos premiados com o prémio FIFA de melhor do mundo: Zidane e Figo…

Naquele dia, o camaronês que era lateral-direito/médio-direito/médio-centro e mais qualquer coisa que lhe pedissem teve de substituir o português. Na Alemanha, jogava-se a primeira mão dos quartos de final e Geremi marcou aos 11 minutos. O Bayern recuperou com golos de Effenberg (82min) e Pizzarro (88min), um peruano que sobrevive desse jogo, tal como Casillas (suplente em 2002) do lado espanhol. No Bernabéu, Guti e Helguera completaram a missão.



Aquela foi a sétima vez que o Real Madrid venceu o campeão europeu em título. E sempre que o fez, o campeão caiu. Aconteceu ao Milan em 63/64, ao Inter em 65/66, ao FC Porto em 87/88, ao Borussia Dortmund em 97/98, ao Manchester United em 99/00 e àquele Bayern Munique em 2001/02. Poucos em Madrid se lembraram de Geremi quando ele terminou contrato com o Larisa, mas muitos o recordam ao lado de Özil, Van Nistelrooy, Roberto Carlos, Figo ou Anelka, os últimos merengues a marcar no campo do Bayern. Só o dele serviu para tombar um campeão, no entanto.

Havia uma maldição na Taça das Taças. Quem a vencia num ano, nunca a conquistaria na época seguinte. Por oito vezes o vencedor defendeu o título na final, por oito vezes o perdeu. Fiorentina, Atlético Madrid, Milan, Anderlecht, Ajax, Parma, Arsenal e PSG tiveram ocasião para acabar com a maldição, mas falharam. Com a extinção da prova, o enguiço passou para a Champions League: o vencedor nunca revalidou o ceptro, com o Real Madrid a ser responsável por isso em três ocasiões desde 1992.      

O pé de Ronaldo a escaldar

Esta é a terceira vez em 2014 que o Real Madrid visita a Alemanha. Pela primeira vez na história, uma equipa precisa de eliminar três clubes do mesmo país para chegar à final. Já caiu o Schalke, já caiu o Dortmund. Falta cair o Bayern, o único emblema a quem Cristiano Ronaldo ainda não marcou nesta Liga dos Campeões.

O internacional português fez golos a [quase] todos, está a um golo de ser o único futebolista a atingir os 15 golos numa só temporada de Liga dos Campeões e chega a Munique com o pé direito a escaldar. Dois golaços na última jornada do campeonato dão confiança aos espanhóis de que o Bola de Ouro 2013 estará perto de voltar ao topo da forma, depois de uma lesão o ter afastado a meio da eliminatória com o Dortmund.

Nessa partida, Ronaldo sofreu de fora, enquanto em campo o Real Madrid levava uma lição, apesar do apuramento. 

Os 14 golos de Cristiano Ronaldo nesta Champions

      

Carlo Ancelotti sabe-o e lança a partida com base no trio de avançados que tem: «Prevejo um jogo com estilos diferentes, marcado pelas características dos jogadores. Precisamos de fazer transições rápidas com Bale, Cristiano e Benzema.»

Do lado alemão, um espanhol assume essa diferença: «Eu amo ter a bola. Amo ter a bola para ter mais oportunidades e receber poucos contra-ataques. Não gosto das estatísticas, não acredito nelas, mas em Madrid tivemos mais cantos, rematámos mais e tivemos mais bola. Ainda assim, o resultado não nos deu razão. É verdade que temos de ser mais eficazes. Não gosto de ter a bola o jogo inteiro para ter duas ocasiões de golo. Tenho a bola para ter muitas oportunidades.»

Guardiola não vai fugir ao estilo, portanto, e espera que o público dê uma ajuda: «Já somos campeões na Alemanha e ainda podemos alcançar muitas outras coisas. Não o conseguiremos sozinhos amanhã [esta terça-feira]. Precisamos dos adeptos, que têm sido notáveis até agora. Eles podem empurrar-nos para a final. A equipa quer, eu quero e os adeptos querem. Juntos podemos conseguir lá chegar!»

E se acontecer o incrível?

Por muito que saibamos de antemão o estilo das duas equipas, por todas as previsões que se façam, por tudo aquilo que a estatística nos diz, por muito que a probabilidade nos leve a uma aposta, há sempre aquela percentagem, mais pequena, que torna o futebol mágico. Com tanta gente de classe em campo, a imprevisibilidade dos acontecimentos é grande. Nem mesmo os melhores estão imunes ao erro, e o incrível pode mesmo acontecer num jogo entre dois monstruosos clubes do futebol europeu.

Por exemplo, em 2007, o Bayern também jogou na Arena de Munique com a desvantagem de um golo frente ao Real Madrid. Tinha perdido 3-2 na capital espanhola e os merengues chegavam à Baviera com Fabio Capello no banco. Mas nem um italiano conseguia prever o que aconteceu nesse 7 de março de 2007.

O árbitro apitou para o início, a bola saiu do Real Madrid e…



…aos 10,2 segundos, Roy Makay apontou o 1-0 e colocou o Bayern na frente da eliminatória! Imprevisível, histórico também!  Ainda é o golo mais rápido da Champions...

Resta por isso esperar pelas 19h45 e perceber quem é que Lisboa vai receber a 24 de maio: se o Bayern Munique, besta negra do Real Madrid; se o clube espanhol, com a maldição da Champions a sobreviver.