Aos 37 anos Fary ainda se diverte como uma criança a jogar pelos relvados da II Divisão ao serviço do Boavista. A velocidade já não é a mesma, mas os golos ainda surgem e forma respeitosa como é tratado por onde quer que passa deixam-no imensamente feliz. «Os adversários chegam a pedir-me autógrafos no final dos jogos», confessa, por entre risos.

Mas voltemos atrás no tempo. Ao passado do goleador senegalês. Quando houve a voz do jornalista do outro lado da linha, é como se tivesse o dom de adivinhar o tema da conversa. «O Beira Mar vai jogar com o F.C. Porto, não é? Já sei, quer falar dessa célebre vitória, frente ao Mourinho...»

«Há bons momentos da carreira de um futebolista e esse é um dos que marca para sempre», atalha o veterano avançado, autor de um «bis» na vitória, por 2-3, a 23 de Fevereiro de 2002, que afastou definitivamente os dragões do título nacional. Seria a última derrota de Mourinho em casa antes da «desfaçatez» de De Las Cuevas, no início deste mês. Passaram nove anos.

Apesar disso, tanto o técnico português como o universo portista foram incapazes de o levar a mal. «Quando fraturei a tíbia, tive uma visita inesperada no hospital. O presidente Pinto da Costa veio ver-me e até me ofereceu uma salva de prata com o meu nome gravado. Nem preciso ir mais longe. No último F.C. Porto-Olhanense, houve um bruaá no estádio quando entrei. Todos me reconhecem e tratam bem.»

«Uma vez encontrei o Mourinho no aeroporto, quando tinha acabado de sair do Chelsea. Nem o tinha visto, foi ele que veio ter comigo. Falámos um pouco, brinquei com ele, e desejou-me as melhoras para a minha lesão. Deu-me um enorme prazer. Afinal, trata-se de um grande senhor do futebol mundial, que não se esqueceu de mim», recorda.

Queda para marcar ao Dragão

O F.C. Porto apadrinhou vários golos de Fary. Além daqueles que deram o célebre triunfo nas Antas (o penúltimo na casa do Dragão), também foi frente aos portistas que se estreou a marcar, em Agosto de 98, ao segundo jogo na I Divisão depois da chegada a Portugal pela porta do Alentejo (U. Montemor).

De resto, o goleador orgulha-se de ser o único jogador que foi capaz de marcar golos pelo Beira Mar em todas as provas. «Além do normal, no campeonato e Taça de Portugal, também marquei na Taça UEFA e na Supertaça¿ novamente ao Porto», conta.

Mas terá sido a participação decisiva nessa farpa na carreira do «Special One» que mais contribuiu para a internacionalização de Fary. Enquanto não surgiu um tal De Las Cuevas na vida do treinador do Real Madrid, era o ex-beira-marense que ficava com a fatia de leão da atenção da imprensa.

«No início de cada época, era matemático: entrevistas para Inglaterra, Itália, Espanha... até da Holanda me telefonaram. O tema era sempre o mesmo. Até que apareceu esse jovem e acabou com o meu record. Mesmo assim, foi aqui, em Portugal, que ele começou. Isso ninguém pode esquecer.» E não foi esquecido.