O Nacional conserva o quarto lugar contra marés, as marés que separam a Madeira do Continente, e os ventos que condicionaram o espectáculo no Estádio do Restelo. O Belenenses fez mais, o suficiente para repudiar a vitória moral, mas congelou com a frieza insular. Polémica no segundo golo do Nacional, a decidir o encontro (1-2).
Em época de caça ao voto no Belenenses, o grupo de trabalho procura alhear-se e combater a crise de pontos. Jaime Pacheco solidificou unidades e processos, respirando ligeiramente com uma vitória e um empate na bagagem. Seguia-se um Nacional de vastos recursos, enquanto os azuis procuravam reinventar-se para suprir a ausência do castigado Silas.
Manuel Machado impressiona pela confiança na resistência da equipa a mutações constantes. Muda um par de peças e vai para o banco à espera do alinhamento natural na engrenagem. Os jogadores procuravam recuperar psicologicamente da eliminação da Taça de Portugal, o maior dissabor da temporada, e atingiram o objectivo proposto.
Uma palavra: Bracalli
Definindo esta vitória do Nacional numa palavra, aqui fica: Bracalli. Quem lá esteve, percebe porquê. Por escrito, resta garantir que o guarda-redes do Nacional parecia um pássaro à solta, voando a cada remate do Belenenses. Na etapa inicial, então, chegou a enervar os locais.
Do outro lado, esteve um Júlio César pouco imperial. Protagonizou o momento do jogo ao reclamar falta no segundo golo do Nacional. Após canto de Alonso, Luiz Alberto saltou com o guardião azul na pequena área. Duarte Gomes validou o tento. Duvidoso. No último minuto, Júlio César subiu na sequência de um canto e esteve perto de virar herói, ao cabecear para golo. Patacas afastou a bola, já depois de o ferro ter feito o mesmo a Saulo.
E tudo o vento levou
Roncatto fez de Silas, no Belenenses. Ou tentou, pelo menos. Falta-lhe a criatividade, tem mais velocidade que o português mas a tarde não era propícia a grandes correrias. O vento ditava leis no Estádio do Restelo e acondicionava os mais virtuosos. Sobravam, para os locais, a força de Marcelo e Saulo, entre vários petardos à procura da felicidade.
Os adeptos do Belenenses começavam a empolgar-se com o desempenho de uma equipa em crescendo, enquanto o Nacional parecia estranhamente desconectado. Nenê coabitava com João Aurélio e Duje Cop, dois jovens pouco rotinados com as funções num losango à Machado. Dava para duvidar.
Os cépticos tinham razão. João Aurélio, até então perdido, inaugurou o marcador com uma corrida e dois toques na bola. Saulo repôs aquela atraente imagem de justiça, mais ou menos com a mesma fórmula. E então, friamente, quando o Belenenses voltou a acreditar, o Nacional atacou de novo. Um canto, um caso, um golo. Tremores no Restelo.