«Olhávamos para o relógio e os três minutos que faltavam pareciam 30!» A história do primeiro Benfica-Barcelona terminou de modo surpreendente. Acabou também com uma ligação da capital espanhola para Lisboa, num telegrama do Real Madrid. Para os encarnados, foi uma história quase interminável. Para os catalães, é ainda um lamento. No batismo das duas equipas numa final da Taça dos Campeões Europeus (1960/61) imperou o encarnado. Por 3-2, com muito sofrimento.

O Real Madrid era a melhor equipa da Europa. O colosso da capital espanhola tinha ganho as cinco primeiras edições da Taça dos Campeões Europeus. Por isso, só uma grande equipa conseguiria derrotar outra. Na primeira ronda da prova, o Barça eliminou o rival. E assumiu a candidatura ao trono europeu, com os húngaros Kubala, Czibor e Kocsis - havia um Garay na equipa que também era Jesús, curiosamente - a liderarem a formação catalã, onde ainda se destacavam Suarez e Evaristo na frente e Ramallets na baliza.

O jogo ficará para sempre conhecido pela bola que bateu nos dois postes da baliza de Costa Pereira e não entrou. Foi o cúmulo do azar catalão, ou da sorte benfiquista nesse 31 de março de 1961. Nesse momento, já havia 3-1 para os encarnados. Ao golo inaugural de Kocsis, respondeu José Águas. Depois, o 2-1, no lance mais polémico de todo o encontro: Vergés cabeceou na direção da própria baliza, Ramallets teve «medo» do poste e o árbitro assinalou golo porque viu a bola dentro da baliza. O juiz teve uma certeza que mais ninguém teve.

Apareceu então o «Monstro Sagrado». Mário Coluna era um gigante a meio-campo e foi ele mesmo que marcou o 3-1. Num pontapé de primeira, o camisola 10 do Benfica lançou os portugueses para uma diferença de dois golos. Num outro jogo, com um outro adversário, talvez se pudesse respirar. Com o Barcelona, não. Jamais.

Os húngaros dos «blaugrana» queriam vingar a derrota no Wankdorf, na final do Mundial que perderam com a Alemanha. Kubala atirou de fora da área para reduzir, mas, lá está, a maldição do recinto desviou a bola para o poste direito de Costa Pereira e depois para o esquerdo. Ainda com 3-1, nova bola no ferro até que Czibor conseguiu marcar. Um golaço, talvez o melhor do encontro, a reduzir para 3-2. Faltavam 15 minutos, uma eternidade.

«Olhávamos para o relógio e os três minutos que faltavam pareciam 30!» As palavras de José Augusto, décadas depois, contam o resto do encontro. O Benfica campeão europeu forjou-se na dor, no sofrimento e na aflição final. «Aprendi que no futebol nem sempre ganha a melhor equipa, mas a que marca mais golos.» Coluna resumiu a vitória numa simples frase. O Benfica saía vencedor perante as probabilidades e trouxe a taça para Lisboa onde já estava, na Luz, um telegrama do Real Madrid, a felicitar os encarnados pela vitória sobre o Barcelona.

Encarnados e «blaugrana» voltam a defrontar-se na prova mais importante da Europa, nesta terça-feira. Curiosamente, há clássico espanhol no fim de semana. Depois do telegrama, o email?

A final de Berna, entre Benfica e Barcelona, em 1960/61