A visita do Estoril ao Estádio da Luz, agendada para o próximo domingo, abre a porta a «fantasmas» recentes. Foi perante este adversário que o Benfica começou a perder o título da época passada. Se é que não foi mesmo o Estoril a «roubar» o título à equipa de Jorge Jesus. Essa é a convicção de vários elementos no seio da estrutura encarnada, e também a opinião de quem esteve nesse encontro como adversário.

«Para mim foi aí. Não se pode comparar um jogo em casa com o Estoril, diante de 60 mil pessoas, e outro no Dragão, ainda que continuando a depender apenas de si próprio. Foi nesse dia que perderam o título», defende André Galbe, então treinador adjunto do Estoril, à
«MF Total».

Recuemos então a 6 de maio de 2013. Líder da Liga a três jornadas do fim, o Benfica entra em campo com um ponto de vantagem sobre o FC Porto, que dois dias antes tinha vencido na Choupana. Em caso de vitória a equipa de Jorge Jesus dá mais um passo de gigante rumo ao título, mas não vai além do empate a uma bola.

O Estoril, então em quinto lugar, a lutar pela Liga Europa, marcou primeiro, com um livre de Jefferson. O Benfica empatou por Maxi, mas não mais do que isso, num jogo em que perdeu Carlos Martins por expulsão. As «águias» foram depois derrotadas no Dragão, e o FC Porto acabou por sagrar-se tricampeão.



«O Benfica mostrou-se muito ansioso. Contra nós teve uma oportunidade logo no primeiro minutos, pelo Lima, mas o Vagner fez uma grande defesa. Aos cinco minutos podiam estar a ganhar por dois ou três. Sobrevivemos a esse momento. Eles não marcaram e ficaram ansiosos. Isso ficou evidente não só nesse jogo, como depois no Dragão e nas finais da Liga Europa e da Taça de Portugal», recorda André Galbe.

Muito se falou então dos festejos dos jogadores do Benfica após a vitória nos Barreiros, na ronda anterior. O antigo adjunto de Marco Silva assume que isso mexeu com os jogadores do Estoril, embora o técnico principal não se tenha focado muito nessa questão.

«Foi falado sobretudo pelos jogadores. No dia seguinte ao jogo do Benfica eles já estavam algo sentidos. O Marco tocou no assunto, mas muito pouco. Ele não gosta de motivar pela polémica. O lema do Estoril é: “ Juntos fazemos história”. A mensagem era essa, independentemente do adversário. Era um jogo histórico, de grande repercussão. Estávamos muito perto de fazer história com a qualificação para a Liga Europa. O discurso do Marco é sempre muito positivo,virado para o Estoril», explica.

Um conforto diferente, até pela margem de erro

Dez meses depois os «canarinhos» voltam ao lugar do «roubo. Com o Benfica novamente na liderança, e o Estoril a lutar pela Liga Europa (ou algo mais?).

«Ambas as equipas estão agora mais confortáveis», entende André Galbe, atualmente no Mogi Mirim. «O Benfica não tem o FC Porto logo a seguir, e mesmo a vantagem para o Sporting é maior do que tinha então para o segundo. E o Estoril também está mais confortável, e até já pensa na Liga dos Campeões», diz o antigo adjunto de Marco Silva. «Um objetivo que pode ser visto como uma loucura mas que eu acho possível, até pela situação do FC Porto», acrescenta, nesta conversa com a «MF Total».

Galbe considera, no entanto, que no início de maio de 2013 o Benfica «estava mais forte do que agora». «Agora o nível está mais equilibrado. Não sei se por crescimento dos clubes pequenos ou oscilação dos grandes», questiona.

Destino traçado por quem o conhece

O Estoril está melhor, pelo menos no que diz respeito à classificação. E Marco Silva continua a ser apontado aos «grandes», nomeadamente ao FC Porto, que prescindiu esta semana de Paulo Fonseca.

André Galbe está convicto de que o técnico do Estoril vai «dar o salto», seja qual for o destino: «Acredito que na próxima época estará num clube grande. Se não for o FC Porto será outro, em Portugal ou no estrangeiro.»

O brasileiro explica que depois de uma «ótima relação profissional» acabou por «não ficar uma relação pessoal», e por isso o contacto quebrou-se, mas ainda não hesita em elogiar Marco Silva: «Eu apostava nele, mesmo que não o conhecesse. Só olhando para o que tem feito.»

«São apenas três anos como treinador, mas três anos de sucesso», reforça, antes de fazer a comparação com o percurso de Fonseca: «O Paulo tinha feito um ano razoável na II Liga, com o Aves, e um ano muito bom na Liga, com o Paços. Houve uma oscilação. Se compararmos, o Marco tem mais pontos positivos.»

Galbe descreve Marco Silva como «corajoso e ambicioso», «características para assumir um grande desafio». «Para ser treinador do FC Porto é preciso coragem, para montar uma equipa de ataque que lute por todos os títulos. Tem perfil para isso, mas depende também dos jogadores», adverte o antigo adjunto. «O FC Porto está num momento de transição», destaca.

Os resultados atestam a qualidade do trabalho de Marco Silva e desta equipa do Estoril, que tem sido uma enorme dor de cabeça para os «grandes», como se comprovou recentemente no Dragão. No último ano e meio, sensivelmente, os «canarinhos» já conseguiram uma vitória e dois empates com o FC Porto, registo que repetiram com o Sporting. Para além do tal empate arrancado na Luz.