15 de Junho de 1958. Jogava-se a última partida da época, uma época maldita para os encarnados que no campeonato tinham terminado em terceiro lugar, atrás de Sporting e F.C. Porto. A Taça de Portugal apresentava-se por isso como a última tábua de salvação. Sem sucesso. Numa tarde de imenso calor, o Jamor cobriu-se até às orelhas de azul (pouco) e vermelho (muito mais) para assistir ao triunfo do F.C. Porto. Um golo de Hernâni, aos 52 minutos, na marcação de um livre, arrastou o Benfica para o naufrágio completo.
Um livre que levantou muitas ondas. De indignação. Os adeptos apontaram o dedo acusador a Bastos culpando-o de ter sido muito mal batido. As acusações alastraram-se depois aos colegas e dirigentes benfiquistas. «Não quero arranjar desculpas, mas a verdade é que houve uma falha tremenda do nosso guarda-redes que deixou passar a bola por entre as mãos», disse o treinador Otto Glória. Hernâni foi o único a sair em defesa do guardião. «O Bastos não teve culpa, a bola partiu com muito efeito, aquele efeito que os brasileiros chamam de folho seca», disse.
Os encarnados não foram por aí. Provavelmente seria o desespero a tomar a voz do Benfica. O clube chegava ao final de uma época marcada pela inauguração do estádio da Luz, uma época que deveria ser de ouro, depois da enorme festa que foi a abertura do estádio do orgulho encarnado, sem ganhar um único título. O último, a Taça de Portugal, perdeu-o sem honra nem glória. No final de um jogo em que não foi inferior ao F.C. Porto. Nem superior. Foi apenas tão mau quanto o adversário, num jogo que ficou descrito como dos piores de sempre.
Os jogadores desculparam-se no final com o imenso calor que tomou conta daquela tarde de meados de Junho. Essa terá sido mesmo uma das razões, rezam as crónicas. A outra terá sido as baixas que tiraram capacidade às duas equipas. Do lado do F.C. Porto, Pedroto e Monteiro da Costa não jogaram, do lado encarnado as baixas foram Alfredo e Ângelo. A partida desenvolveu-se por isso num ritmo muito lento, com constantes perdas de bola e um futebol desligado. As ocasiões de perigo foram raras e só mesmo de livre se chegou ao golo. Ganhou o F.C. Porto. Otto Bumbel venceu Otto Glória.