Depois da pálida imagem no clássico de sexta-feira, o Benfica voltou a apresentar-se longe daquilo que exigiam as circunstâncias e perdeu o segundo jogo no espaço de meia semana, mais do que em toda a época desde agosto.

A derrota com o Inter por 2-0 não diz só sobre uma desvantagem quase irrecuperável dos encarnados nos quartos de final da Liga dos Campeões. Diz também (e muito!) sobre a crise existencial que a equipa de Roger Schmidt parece viver numa fase decisiva da temporada.

Mesmo sem ganhar há mais de um mês e a atravessar uma fase claramente mais turbulenta do que os encarnados, o Inter foi superior em quase todos os momentos do jogo e entra para a segunda mão com um pé e meio nas meias-finais da Liga dos Campeões, onde o Benfica nunca esteve desde que a competição passou a ser assim denominada.

Duas mudanças no onze, poucas no comportamento

Depois do desaire com o FC Porto, os encarnados apresentaram-se com duas alterações na equipa – Gilberto e Morato nos lugares de Bah (lesionado) e de Otamendi (castigado) – mas quase nenhumas na atitude.

Voltou a faltar muito a este Benfica, que teve fraco sentido coletivo e (outra vez) muitas individualidades em subrendimento. Voltou a demonstrar, também, menos vontade de ganhar do que o adversário. E quando pareceu tê-la na mesma medida do que o adversário, já estava em desvantagem no marcador.

E isso, na Champions, paga-se mais caro do que em qualquer outro contexto.

Quando Barella inaugurou o marcador ao minuto 51 depois de aparecer esquecido ao segundo poste, para trás já tinha ficado toda uma primeira parte de completo desperdício das águias. Não pelo desperdício como consequência da criação, mas pela ausência dela.

Precipitados no passe e incapazes de criar incerteza no ataque, os homens de Schmidt fecharam os 45 minutos iniciais com um remate perigoso de Rafa e pouco mais do que isso.

Há que dizê-lo também que os nerazzurri não fizeram muito mais do que isso, mas lá de cima, mesmo bem perto da cobertura da Luz, via-se à distância quem estava mais confortável e quem tinha o jogo a correr-lhe dentro do plano.

O início da segunda parte pareceu mostrar um Benfica diferente, mas mostrou uma equipa só capaz de mexer com o jogo com momentos avulso e não de forma contínua como aquela que, merecidamente, deixou a Europa rendida até aos oitavos de final.

Pouco depois do golo inaugural de Barella, Grimaldo e Rafa desperdiçaram uma dupla ocasião para empatar. Aí, o Benfica já mostrava querer tanto como os visitantes, mas continuava a faltar-lhe o que faltara em quase todo o jogo: capacidade de rasgo.

Quando Neres foi a jogo aos 64 minutos, há muito que o jogo já pedia o brasileiro. Talvez há tanto tempo como a duração do próprio jogo. Porque Aursnes e João Mário foram duas das tais unidades em subrendimento, Rafa só apareceu a espaços e Gonçalo Ramos esteve isolado numa ilha da qual só saiu na última jogada do encontro.

Na última meia-hora, o Benfica abandonou aquela obsessão pelos equilíbrios que parece sugerir a tal presença em simultâneo de Aursnes e João Mário naquelas posições de médios interiores e que, aparentemente, não deixa os encarnados mais perto de vencer sobretudo neste tipo de jogos.

Se as águias estiveram mais vezes perto do golo, também é verdade que estiveram mais próximas de voltar a sofrer. Porque tiveram dificuldades em lidar com as transições dos nerazzurri e também porque não aprenderam com os erros, como naquele que deu o golo a Barella e quase dava novo golo a Dumfries numa quase fotocópia do 1-0.

Houve também imprudência de João Mário na base do 2-0, apontado por Romelu Lukaku da marca dos onze metros aos 82 minutos.

Depois disso, o Benfica foi sobretudo emocional. Desequilibrado, também, mas dificilmente podia sê-lo de outra forma tamanha a desvantagem no jogo e, já, na eliminatória.

Mas, sobretudo, o Benfica esteve longe de sê-lo ele próprio. Outra vez.