Tinha apetência para golos especiais. Tinha um passado no Cruzeiro e no Barcelona. Chegara à Luz como reforço imponente, mas cedo ganhou fama de soneca. Tinha, tem, aliás, 1,72 metros. Geovanni podia parecer estar a dormir, mas numa noite tanto podia acordar Alvalade com uma bomba, como noutra deixava o Mundo espantado por um voo entre os centrais do Manchester United. Falamos, claro, da única vitória encarnada sobre o rival inglês, na qual o brasileiro foi um dos heróis.

A história é contada por Nuno Gomes, a quem Ronald Koeman confidenciara a estratégia para derrotar os «red devils». Sem Simão e Miccoli, Geovanni jogava de início e na frente.

«Eu já sabia dois dias antes,», contou ao Maisfutebol o antigo capitão das águias, na altura para um livro intitulado «Sport Europa e Benfica», que teve segunda edição precisamente nessa época de 2005/06.

«Sabia que era um lugar onde ele gostava de jogar, e percebi que podia resultar, porque é rápido, sabe ler o jogo e movimenta-se muito bem», argumentava o antigo 21 da Luz, hoje no Sp. Braga.

«Ia haver sempre jogadas de contra-ataque e ele é dos mais perigosos a jogar assim, quando o Geovanni soube, passei a brincar com ele, a dizer-lhe que ia dividir com os centrais, de cabeça», conta Nuno Gomes.

O 21 encarnado bem podia brincar com o brasileiro, mas também Nuno Gomes terá ficado espantado quando a camisola 11 entra em voo, no meio da defesa inglesa constituída por Gary Neville, Ferdinand, OShea e Silvestre.

«Pronto, acabou-se»

Em 1966, George Best «sentira» a multidão da antiga Luz. Quase 40 anos depois, o novo recinto virava inferno outra vez, para um jogo entre diabo vermelhos e «red devils».

«O que mais me impressionou foi o ambiente, o estádio cheio e a apoiar constantemente, acho que toda a gente estava confiante na passagem do Benfica e foi o público que impulsionou a equipa para a reviravolta, depois de termos sofrido um golo estranho, que ninguém esperava», recordou Nuno Gomes.

«O primeiro pensamento nessas alturas é sempre: "Pronto, acabou-se." Mas a seguir surgiu a convicção de que éramos capazes de recuperar», garantiu o avançado.

«Fui eu que dei o toque de saída e disse a todos: "Não vamos desanimar, falta muito tempo e podemos dar a volta." Ao intervalo, já a ganhar, dissemos uns aos outros que estávamos a 45 minutos de conseguir aquilo que sempre ambicionáramos, porque nós sempre acreditámos, sabíamos que ia ser difícil, mas que com força de vontade conseguiríamos», contou.

Ainda faltava muito jogo pela frente e «eles iam pressionar». Nuno Gomes conclui a história: «Nós estávamos preparados. Defendemos o resultado muito bem, até criámos algumas situações em que podíamos ter feito o terceiro golo. No fim, foi a euforia, o orgulho de dever cumprido e a satisfação pessoal por termos conseguido eliminar um grande clube. Nessa noite, sentimos ter devolvido ao Benfica um pouco daquilo que fora noutros tempos.»