Um campeão do sofrimento! O título do Benfica esteve no precipício, agarrado pelas pontinhas dos dedos, com outras mãos contrárias, as de Marcelo, a tentarem atirar os encarnados pelo abismo. A distância para o FC Porto é longa, volta a estar a oito pontos, mas ninguém na Luz pode, no momento, apontar o que quer que seja à equipa de Jorge Jesus no que toca à luta. Também se lhe pôde apontar alguns defeitos, neste domingo. Por isso, o Benfica só bateu o Marítimo no último segundo da partida. Foi uma batida de coração que segurou a águia à vida.

Falta de cadência

Voltava Saviola e, quando o 30 está em campo, pode sempre contar-se com o melhor de Pablo Aimar. O 10 do Benfica, «el mago», maestro, encontrou o tom para a equipa jogar. Os encarnados eram iguais a si mesmos, com boas trocas de bola, com Salvio e Gaitán a tentarem desequilibrar nas alas, com Coentrão e Maxi a subir pelos flancos. Mas não tanto como já se vira em ocasiões anteriores, não com aquela frequência que leva o Benfica a uma avalanche de ataque. Os encarnados eram melhores, dominavam o território, iam levando o Marítimo para trás, mas faltava mais finalização.

Os madeirenses vinham com estratégia sabida de cor, a apostar no contra-ataque. Baba deu dor de cabeça a Jardel, na estreia deste a titular pelo Benfica. O central esteve quase sempre um passo atrás do ponta-de-lança. Os madeirenses não assustaram por aí além, apenas um remate do senegalês chegou às mãos de Roberto. Por isso, o problema encarnado era outro.

Era, sobretudo, um caso de cadência. Desde cedo que o Benfica rondou a área de Marcelo. Mas voltava lá em bocados muito espaçados. Ou seja, dominava no meio-campo contrário, mas os lances de real perigo contam-se em poucas palavras: Saviola (7m), Luisao para defesa de Marcelo, Javi Garcia para Marcelo outra vez. Pelo meio, um lance genial de Gaitán que levou a bola ao poste e uma jogada duvidosa da mão de Roberge na área madeirense. Na segunda parte, o encontro foi bem mais colorido.

Marcelo incrível, Djalma vilão e Coentrão do nada

Aimar, Cardozo, Salvio, enfim, podia quase dizer-se um por um os jogadores do Benfica que tiveram ocasiões para marcar na partida. Mas basta falar num só do Marítimo para perceber como se chegou aos 81 minutos sem golos do Benfica. Marcelo esteve intransponível. O futebol encarnado foi uma pedra rolante que descia vertiginosamente. Parecia levar tudo o que era do Marítimo à frente. Menos Marcelo. Esse, não era apenas uma parede, onde o Benfica embatia. Era uma montanha inteira. Defendeu livre de Aimar, remate de Salvio à queima, livre de Cardozo. Nem numa banda desenhada japonesa faria melhor!

O Marítimo assustava num contra-ataque, sempre com os encarnados balançados para a frente, agora com Saviola a atirar à rede lateral. Era uma grande exibição do Benfica, da enorme vontade em defender o título até ao fim. Mas, ironia das ironias, um canto, um homem a voar sobre Javi Garcia e golo do Marítimo. Foi-se a ver, era Djalma, angolano com futuro apontado ao Dragão!

Dizem que os campeões nunca desistem, lutam até á última gota de suor. Subida de Fábio Coentrão pela esquerda, cruzamentpo e 1-1 por Salvio. Ataque final, a Luz em ebulição, a explodir com golo anulado a Luisão, e depois a festejar com o 2-1, vindo do pé direito de Coentrão. No tudo por tudo, no último segundo, no meio do nada, o lateral saltou do bolo e, em vésperas dos 107 anos encarnados, meteu a Luz a gritar um golo como nesta época ainda não gritara. Um campeão é isto. Pode estar caído, pode estar de rastos, pode estar a oito pontos do rival, mas luta até morrer. Para já, o Benfica sobrevive.