Sublime! Num dos melhores jogos dos últimos anos, o Benfica manteve o avanço de seis pontos no comando da Superliga, e impôs-se a um super-Marítimo (4-3). Se, até esta jornada, tinham sido os erros dos adversários directos a empurrar o Benfica para a condição de líder e favorito número 1, os 90 minutos deste domingo marcam uma viragem: o líder mostrou o melhor de si, com um futebol sedutor e convincente, e reforçou a convicção dos seus adeptos de que é mesmo possível quebrar o jejum.
Os sinais de mudança notaram-se ainda antes do jogo: mais espectadores do que o habitual, mais ruído, e até, para marcar contrastes, uma salva de palmas ao nome de Trapattoni, como que a simbolizar uma nova etapa na relação entre os adeptos e o seu treinador.
Com Petit e Nuno Gomes de volta, o Benfica apresentava o seu «onze» de luxo, diante de um Marítimo que ainda não tinha perdido com os grandes, mas que vinha de seis jogos sem vitória e de uma mudança de treinador motivada por razões extra-futebol. Foi, no entanto, uma equipa cheia de personalidade e muito motivada a que se colocou diante dos encarnados.
O jogo começou em excesso de velocidade para o que é regra nos relvados portugueses. Mas, surpresa das surpresas, jogava-se depressa e muito bem. Primeiro do lado encarnado: o golo de Nuno Gomes, aos seis minutos, já era justificado, tal a intensidade de jogo dos seus companheiros. Mas ainda se festejava na Luz quando a personalidade do Marítimo veio pela primeira vez ao de cima: cruzamento de Alan na direita, cabeça de Pena entre os centrais. 1-1, sete minutos, e a certeza de que íamos estar perante uma noite para guardar na memória.
O Benfica não perdeu o embalo e continuou a carregar, com os extremos e um Miguel das grandes noites a fazerem estragos nos flancos. Foi precisamente o lateral a fazer o segundo golo, apenas quatro minutos depois, mas o Marítimo continuou à procura de brechas no meio-campo encarnado. Numa dessas ocasiões, Manduca falhou por pouco o empate (16 m) e saiu lesionado, levando Juca à primeira de três substituições forçadas.
A segunda, ainda antes da meia hora, surgiu já depois de um golaço de Nuno Gomes dar a sensação de que as contas estavam feitas (3-1). Mas há males que vêm por bem: a entrada de Evaldo e a passagem de Briguel para a direita ajudaram a travar o vendaval ofensivo da Luz. E quando Van der Gaag, aos 30 minutos, aproveitou uma bola dividida por Pena e Luisão para fazer o 3-2 percebeu-se que este era daqueles jogos que não admitia desfechos antecipados. O Marítimo ¿ inteligente a lançar os contra-ataques, e muito perigoso nas bolas paradas - cresceu, e o Benfica viveu então os seus momentos mais difíceis, no fim da primeira parte e no início da segunda.
Claro que o terceiro golo do Marítmo, obra do oportuníssimo Pena, não deu tranquilidade ao público da Luz. Mas, curiosamente, os jogadores reagiram melhor do que os adeptos. Sempre com a cabeça no sítio, graças à voz de comando de Petit e à disponibilidade de Simão para correr o campo todo, o Benfica deixou passar o mau tempo sem perder identidade. E quando Pena saiu tocado, aos 60 minutos, e Trapattoni, por uma vez, fez o que os adeptos mais queriam, lançando Mantorras, o Benfica voltou a ter ascendente. Não só psicológico, mas principalmente no volume de jogo, já que o Marítimo foi perdendo forças e peso junto à área de Quim.
A quatro minutos do fim, já depois de Luisão ter cabeceado ao poste, foi o instinto do angolano a encontrar o caminho para uma vitória que já não tinha como fugir. Os adeptos do Benfica festejaram como se o título tivesse ficado garantido. Está muito longe de ser verdade, atendendo ao que ainda falta jogar. Mas é natural que exibições destas, e vitórias tão épicas, deixassem na Luz um forte cheiro a campeão no ar. A questão que fica, é saber se vieram para ficar. Não só o aroma, mas também a qualidade de jogo nunca vista deste líder, finalmente empolgante e empolgado.