A Luz tremeu de sexta-feira a domingo, sacudiu o pó do abanão e acabou a festejar com a vitória sobre o Nacional, que recoloca o Benfica na liderança do campeonato. Ainda assim, os efeitos da saída de Javi Garcia sentiram-se em demasia no primeiro tempo. O atrevimento de Melgarejo, a qualidade da ala direita e a eficácia do ataque resolveram os problemas esta noite. No futuro logo se verá, porque nos 45 iniciais o encarnado foi esbatido pelo preto e branco madeirense, ainda que a qualidade da ofensiva do Benfica lhe dê sempre garantias de que pode vencer qualquer jogo.
O problema antes do jogo
Comecemos por sexta-feira, então. A saída de Javi Garcia, em cima da hora, traria sempre problemas ao Benfica. Primeiro, porque Matic não é o espanhol. E dizê-lo assim, de forma tão simples, é dizer muito. Depois, porque Jorge Jesus preferiu colocar Witsel como médio-defensivo. À partida, o belga podia encaixar: um jogo em casa, o Benfica com mais posse; o toque de Witsel traria qualidade na circulação. Por aí, os encarnados não perderiam muito.
Só que outros onze também jogam. E Skolnik jogou muito no primeiro tempo. Demais para o que é exigível ao Benfica. A saída de um dos pilares da equipa fez a casa encarnada deslizar e o médio do Nacional descobriu todas as brechas causadas pelo abalo.
Por isso os madeirenses foram tão perigosos e a imagem era fácil de descrever: o Benfica não conseguia ter quem construísse, porque Martins é um jogador mais de romper com espaço, e Witsel estava longe, junto aos centrais. Com essas dificuldades, os encarnados facilmente perdiam a bola, eram apanhados em contrapé e, sem alguém para «matar» o perigo à nascença, sofreram a bom sofrer pelos pés de Skolnik e companhia, com o camisola 8 a pautar o ataque à baliza de Artur.
Foram demasiados remates, uns para fora, outros para Artur defender, outras tantas jogadas de perigo com Luisão e Melgarejo a cortarem mesmo antes de se gritar golo.
Na outra baliza, só Salvio assustou com um pontapé forte no poste, na melhor jogada em 45 minutos, iniciada por Melgarejo, transportada por Witsel e Enzo Pérez, e concluída pelo argentino após passe de Martins. Pouco, muito pouco, com Luisão e Garay a terem de abusar dos passes longos para as costas da defesa do Nacional e que nunca saíram bem. O Benfica tinha de mudar a imagem.
Quando não há espaço, constrói-se em altura
A saída de Carlos Martins proporcionou a entrada de Matic. O sérvio começou por entrar no jogo a ganhar bolas de cabeça. Na Luz, o metro custava a conquistar, não havia espaço pela estratégia do Nacional. Ora, a solução foi construir em altura. Primeiro com Melgarejo a fazer os alicerces, numa arrancada e um passe que chegou a Salvio. O argentino e Maxi combinaram, o uruguaio cruzou e Cardozo, no último andar, começou a construir o triunfo encarnado.
Quando Salvio deliciou a Luz com um «jogadão», Rodrigo meteu o pormenor de fazer golo. O 2-0 aos 56 minutos deixava a Luz descansada, tranquilizava uma defesa demasiado nervosa e fazia com que o visitante tivesse, por fim, de descuidar o meio-campo.
O Nacional ameaçou de novo, teve espaço para isso, mas já havia demasiado talento em campo para o lado do Benfica. Pablo Aimar juntou-se à festa de Salvio, começou a ter bola para fazer aquelas coisas que só ele consegue e o Benfica chegou, com naturalidade, ao 3-0, outra vez pelo Tacuara.
Como se disse, o Benfica arrumou a casa a tempo para a visita do Nacional. Mas ainda há sinais de que o pó que caiu do teto com o abanão do mercado talvez tenha sido varrido para debaixo do tapete.