Mais do que uma goleada por 4-0, o Benfica deu esta noite na Luz uma verdadeira lição de economia. Sem jogar mais do que o suficiente, alcançou todos os objectivos a que podia propor-se, do mais directo - os três pontos para manter as distâncias para o líder - aos mais secundários: dar descanso a Nuno Gomes, recuperar a confiança de Simão, testar soluções alternativas no ataque, etc. Que tudo isto tenha sido conseguido com esforço mínimo, eis a demonstração perfeita da fragilidade de um Penafiel que já «não está» na Liga.
À entrada para um ciclo terrível, que vai determinar muito do sucesso ou insucesso da temporada, o Benfica tinha à sua espera um último porto de abrigo. Koeman entendeu aproveitá-lo. Deixou no banco Nuno Gomes, relançou Geovanni como ponta-de-lança, e deu moral a Manduca, Robert e Karagounis. A confiança foi tanta que deu para deixar Petit como único patrão do meio-campo, com o grego num papel híbrido, em que voltou a não convencer.
À fragilidade evidente do Penafiel ¿ bem traduzida na forma como os seus jogadores tentavam remates de 30 e 35 metros, como quem não acredita na sua própria capacidade de ousar construções mais elaboradas ¿ juntou-se uma noite em cheio do ex-pitbull. Foi ele, com bom apoio dos dois laterais, a disfarçar na primeira parte a falta de ligação de uma linha avançada de cara nova. Geovanni tinha pouco a bola, Manduca e Robert estavam em noite-não, Simão tentava calar os assobios de quarta-feira, mas as insistências, à direita ou à esquerda, perdiam-se em pernas adversárias.
Durante meia hora o jogo foi aborrecido, com o Benfica a meio-gás e o Penafiel sem argumentos. Foi quando a equipa de Luís Castro se soltou um pouco, depois de ameaçar Moretto num canto cabeceado por Jorginho, que o Benfica conseguiu as primeiras rupturas. Um atraso precioso de Geovanni para Simão (35 m) foi o aviso para a fantástica abertura de Petit, que encontrou Geovanni nas costas de Sérgio Lomba. O brasileiro fez o golo em linha recta e a partir daí poucas dúvidas restaram sobre o desfecho. Isto apesar de mais dois sustos para Moretto, em outros tantos pontapés de canto que expuseram fragilidades inesperadas no jogo de marcações encarnado.
Ao intervalo, Koeman achou que Nuno Gomes já tinha descansado o suficiente e lançou também Manuel Fernandes para Petit não se sentir tão sozinho. Luís Castro também mexeu, lançando Juninho para dar ideias a meio-campo, mas estas nunca passaram à prática. Depois de quinze minutos sem interesse nem história, uma combinação entre Nuno Gomes e Léo (61 m), com calcanhar à mistura, acendeu os ânimos na Luz, mais que não fosse na reclamação de um penalty. No minuto seguinte, outra vez Petit na base do desequilíbrio, apontando um canto para desvio infeliz de Roberto, pressionado por Luisão. Com 2-0, mesmo sem jogar bem, o Benfica fez o que lhe competia: deixou o Penafiel ganhar metros e com isso ganhou espaços para aproveitar a velocidade de Léo e Simão.
Foi o lateral-esquerdo, novamente após passe de Petit, a fabricar o terceiro golo, para Nuno Gomes, com Pedro Moreira caído na área. Ao número 21 da Luz chegaram 45 minutos para retomar os hábitos goleadores e participar no jogo com a alegria dos últimos tempos. A partir daí apenas um propósito para o resto do jogo: a busca de um golo para Simão. Por três vezes o capitão se irritou com a má sorte, ou a falta de pontaria. Mas já nos descontos uma abertura de Manuel Fernandes permitiu selar as pazes com os adeptos: remate rasteiro cruzado e toda a equipa a festejar a conquista do último objectivo.
Agora, recuperado o fôlego e sem mais «Penafiéis» pela frente nos tempos mais próximos, é altura de passar a coisas mais exigentes. Dificilmente o Benfica voltará a juntar economia de meios e resultados com tanta facilidade como esta noite.