Uma vitória fora de casa numa primeira eliminatória da principal competição europeia é geralmente motivo de festa. No caso do Benfica, até poderia ser de festa antecipada de apuramento para os oitavos de final da Champions, estivessem os jogadores da equipa de Bruno Lage munidos de dados históricos: nunca as águias haviam perdido em casa com uma equipa francesa (ou da Ligue 1, vá) e tinham vencido todas as eliminatórias após triunfo fora de casa na primeira mão.
Na memória de quem escreve esta crónica ficou a celebração moderada e, até, o semblante algo carregado dos jogadores naqueles minutos pós-jogo no Stade Louis II. Como se, depois de terem desperdiçado o xeque-mate no principado, estivessem a antecipar o que aí vinha seis dias depois.
Nesta terça-feira, o Benfica apurou-se para os oitavos de final da Liga dos Campeões, mas depois se ser sujeito a um tremendo teste de stress em mais um jogo louco na Luz – o que já começa a ser um clássico em 2024/25 – e no qual foi inferior ao adversário em quase todos os momentos até à hora de jogo, quando Samuel Dahl e Amdouni entraram com os visitantes em vantagem por 2-1 no encontro.
A noite até começou com um livre perigoso para o Benfica, mas rapidamente o sentido do jogo virou-se para a baliza de Trubin, que já depois de um calafrio anterior evitou um golo aos 7 minutos.
Com Tomás Araújo e Aursnes de regresso à equipa após terem falhado o jogo anterior devido a problemas físicos – Kökcü, Schjelderup, Pavlidis e Aktürkoglu também regressaram – os encarnados tiveram muitas dificuldades para suster o ímpeto dos monegascos, catapultados pela qualidade prodigiosa de Ben Seghir e Akliouche, pela inteligência de Minamino, pelas viagens constantes de Dialla pelo flanco direito e pela capacidade física de Embolo para atrair a atenção de Otamendi e António Silva.
O golo de Aktürkoglu – grande trabalho de Pavlidis, o melhor do Benfica na noite – que dobrou, aos 22 minutos, a vantagem da águia na eliminatória não espelhava o que se via no hectare verde da Luz, mas mostrava o outro lado da moeda do Mónaco. Se com bola fazia quase tudo bem, sem ela ficavam bem expostas as fragilidades defensivas que já tinha demonstrado na semana anterior. E, no fim, pagou a fatura.
Mas antes disso o Mónaco foi, como já se escreveu, a melhor equipa por muito tempo. Porque Ben Seghir e Akliouche destruíram o meio-campo do Benfica e porque as águias não conseguiram ter momentos consistentes com bola.
O empate de Minamino pouco depois da meia-hora não foi surpresa. Na verdade, no minuto anterior ele mesmo havia atirado de cabeça ao ferro direito da baliza de Trubin. E o intervalo chegou num momento em que há muito a equipa de Bruno Lage suplicava por ele.
A segunda parte começou como terminou a primeira. Da ocasião flagrante desperdiçada por Embolo passou-se para um remate perigoso de Ben Seghir, que pouco depois faria mesmo o 2-1 para o Mónaco numa ligação perfeita com Akliouche.
A eliminatória estava a escapar à equipa de Bruno Lage e, a juntar à qualidade técnica dos jogadores monegascos do meio-campo para a frente, somava-se o que as águias tinham de sobra: unidades em sub-rendimento (desgaste evidente), como Schjelderup (viu-se a espaços), Aktürkoglu (fez um golo e pouco mais) e, até, Kökcü, errático até naquilo em que é melhor.
As entradas de Dahl e de Amdouni permitiram ao Benfica nivelar o jogo na Luz. Pela nova energia que os encarnados tiveram a partir daí e pela maior consistência, sobretudo defensiva, no corredor esquerdo.
Na última meia-hora de jogo viu-se mais Benfica. A pressão sem bola funcionou melhor e Kökcü cresceu a olhos vistos numa batalha que teve uma reta final de absoluta loucura e de constantes avanços e recuos na conquista de território, como mostram os três golos marcados num espaço de oito minutos.
Pavlidis (2-2, de penálti), primeiro, depois Ilenikhena (2-3) na primeira ação em campo e, na resposta, Kökcü, que empatou o jogo e sentenciou a eliminatória com a ponta da bota direita após sublime assistência de Álvaro Carreras.
O Benfica segue para os oitavos de final da Champions após mais uma noite de sofrimento coletivo na Luz, mas na qual tudo acabou bem. Por aquele 1-0 no Mónaco que, apesar de curto, foi mesmo importante e pela capacidade de reagir à adversidade que demonstrou e que nunca pode faltar numa grande equipa.
Mesmo quando parece faltar quase tudo o resto durante tanto tempo.