Uma das ideias que a temporada criou, em boa parte provocada pela caminhada triunfal do Benfica, sublinha que o plantel encarnado é francamente superior ao do FC Porto.
Mas será que isso é mesmo verdade?
Ora para tirar as dúvidas o Maisfutebol foi olhar para a valorização que o site Transfermarkt, especializado em transferências de jogadores, faz dos grupos de trabalho de Roger Schmidt e Sérgio Conceição. Isto sem olhar, obviamente, para de onde chegam os jogadores, numa queixa que o próprio Sérgio Conceição já apresentou e que não entra nestas contas.
Aqui olha-se apenas para a valorização que é feita nesta altura dos jogadores das duas equipas.
Ora a primeira evidência é que o FC Porto tem o jogador mais valorizado no clássico: o guarda-redes Diogo Costa surge com um preço de mercado de 45 milhões de euros, acima do ponta de lança Gonçalo Ramos, do Benfica, que surge no segundo posto deste ranking pessoal.
No clássico há apenas mais um jogador avaliado acima de trinta milhões de euros: o médio Otávio, que surge com um preço de venda de precisamente trinta milhões.
Ora a partir daqui dá para perceber duas coisas. A primeira é que os jogadores mais valiosos no clássico são internacionais portugueses. O primeiro intruso estrangeiro, aliás, é Grimaldo, que custa 25 milhões de euros e surge no quinto lugar do ranking, ao lado de António Silva.
A segunda coisa que é possível perceber pode ser uma surpresa para muita gente: o onze tipo do FC Porto vale mais dinheiro do que o onze tipo do Benfica. Ou seja, considerando os onze jogadores mais utilizados por Roger Schmidt e por Sérgio Conceição, a equipa tipo portista tem um valor agregado superior.
É verdade que a diferença é mínima, apenas 500 mil euros num universo de 196 milhões, mas por muito mínima que seja, é uma valorização superior e que contraria a ideia de que o Benfica tem uma equipa superior ao FC Porto.
Pelo menos na valorização dos onze mais vezes titulares, não tem.
Carlos Freitas, antigo diretor desportivo de clubes como o Sporting, o V. Guimarães, a Fiorentina e o Sp. Braga, e atualmente a trabalhar no RFC Seraing, da Bélgica, diz que antes de mais é preciso ter algum cuidado com as análises que são feitas.
«Temos uma dificuldade a montante, que é não sabermos quais as métricas utilizadas para atribuir o valor aos jogadores. Há valores atribuídos que tenho dificuldade em compreender. Acho muito difícil, por exemplo, que alguém chegue a Lisboa e queira falar com o Benfica com uma proposta de 16 milhões de euros, não é?», começa por referir.
«Também tenho dificuldade em compreender que o Grimaldo tenha um valor de 25 milhões, estando ele em final de contrato. Tem o mesmo valor do António Silva e apenas menos três milhões de euros do que um jovem como Gonçalo Guedes, o que me parece excessivo.»
Feito estas ressalvas, Carlos Freitas destaca que o valor das duas equipas-tipo é acima de tudo muito semelhante, sendo a diferença muito ligeira, o que acaba por ser normal.
«Cada uma das equipas apresenta no onze-tipo cinco titulares das respetivas seleções e qualquer uma delas passou a fase de grupos da Liga dos Campeões, independentemente de uma ainda estar em competição, até porque a outra já não está, mas teve um desempenho superior ao adversário que seguiu em frente. Acho que internacionalmente tiveram até agora um desempenho não muito diferente, o que faz com que a valorização do onze seja semelhante.»
A conversa muda um pouco de figura quando se olha para o valor total dos planteis.
Antes de mais é preciso dizer que o Maisfutebol retirou da análise Bruno Costa, que está a treinar com o FC Porto B e deve deixar o clube no final da época, e Julian Draxler, que está lesionado, não joga mais esta época e no final da temporada regressa ao PSG.
Ora tirando estes dois jogadores, fica a evidência que o Benfica tem até um grupo de trabalho mais curto, com apenas 24 jogadores, mas mesmo assim mais valioso.
O plantel dos encarnados, composto pelos tais 24 jogadores, vale 306,5 milhões de euros, enquanto o plantel do FC Porto, que nesta altura conta com 28 atletas, vale 278,2 milhões.
O que vem dar razão a quem garante que Roger Schmidt tem mais soluções no grupo de trabalho, estando por isso mais preparado para enfrentar as contrariedades provocadas por lesões ou castigos ao longo de uma época necessariamente muito comprida.
Olhando para estes números, Carlos Freitas destaca que não o surpreendem, e não o surpreendem por uma razão simples: o plantel do Benfica tem jogadores mais jovens.
«O Benfica utiliza regularmente jogadores mais novos e que por isso adquirem um valor de mercado superior em função da idade. É preciso ter noção que o FC Porto utiliza muito, por exemplo, atletas como o Taremi, com 30 anos, o Pepe, com 40 anos, o Uribe, com 32, e até o Marcano, com 35 anos», explica o diretor desportivo.
«Acho que o Benfica conseguir ter uma valorização superior do plantel, apesar de este ser mais curto, tem a ver com o facto utilizar regularmente jogadores muito novos como o António Silva, o Gonçalo Ramos, o Florentino e até o David Neres, o que impulsiona o valor de mercado destes jogadores.»
Esta sexta-feira, a partir das 18 horas, são tiradas todas as dúvidas.