Rui Pinto falou pela primeira depois de ter sido emitido um mandado de detenção internacional, a pedido do Ministério Público, tendo garantido que vai resistir à extradição para Portugal.
«Tenho quase a certeza que não terei um julgamento justo em Portugal. O sistema judicial português não é inteiramente independente, existem muitos interesses escondidos», referiu o jovem, numa entrevista ao Der Spiegel publicada em Portugal pelo Expresso.
«Claro que há procuradores e juízes que levam o seu trabalho a sério. Mas a máfia do futebol está em todo o lado. Querem passar a mensagem que ninguém se deve meter com eles.»
Rui Pinto diz-se, de resto, totalmente à vontade para colaborar com a justiça europeia toda, menos a portuguesa. Exatamente pelas mesmas razões: não acredita na justiça de Portugal.
«Não posso divulgar o que eu tenho no meu computador, mas uma coisa posso dizer: as autoridades europeias deveriam vê-lo. Mas as autoridades portuguesas não, porque não querem investigar os crimes, apenas querem usar o material contra mim. Essa é a diferença», acrescentou.
«No fim de dezembro, foi divulgada informação confidencial da maior sociedade de advogados em Portugal, a PLMJ, e a polícia acha que eu estive envolvido nisso. Por isso, aquilo que era uma simples ordem de investigação europeia, tornou-se um mandado de detenção europeu contra mim. Sem qualquer prova, criaram toda esta confusão internacional contra mim. Eu estava a colaborar com as autoridades francesas, a começar uma colaboração com as autoridades suíças, ia também, provavelmente, começar novas colaborações com autoridades europeias, para investigações mais profundas, e de repente Portugal sabotou tudo. Sabotou por medo que eu saiba demasiado.»
Rui Pinto voltou a referir, de resto, que não tem nada a ver com os emails do Benfica revelados no Porto Canal e também garantiu que não foi ele quem publicou os emails do Sporting em 2016.
«Não li nenhuma declaração das autoridades sobre uma relação entre mim e o escândalo do Benfica. Uma revista publicou a história do Benfica no outono passado. Isso mudou a minha vida. A minha fotografia estava nas primeiras páginas dos jornais por todo o país. A minha conta de Facebook e o meu e-mail foram inundados com ameaças de morte.»
Garantindo que não é «um pirata informático», mas sim «um denunciante», Rui Pinto explicou como se vê a ele próprio. «Não me considero um hacker, mas um cidadão que agiu em nome do interesse público. A minha única intenção era revelar práticas ilícitas que afetam o mundo do futebol», frisou.
«Sou fanático por futebol desde criança e já tinha percebido, desde o Caso Bosman, que o futebol estava a caminhar na direção errada. O grande impulsionador para mim foi o escândalo da FIFA em 2015. Além de todas as detenções que foram feitas na FIFA, vi que havia irregularidades em muitas transferências dentro de Portugal. Que mais e mais investidores invadiam o mercado. Comecei a recolher dados.»