Carlos Nicolía, jogador da equipa de hóquei em patins do Benfica, revelou esta quinta-feira que recebe insultos relacionados com a morte da sua mulher sempre que joga em casa do FC Porto, há nove anos.

Numa longa publicação nas redes sociais, o argentino de 36 anos referiu que se calou «durante nove anos, mas hoje diz basta». Entre as coisas que tem ouvido, Nicolía queixa-se que os adeptos dos dragões o acusam de matar a mulher, falecida há cerca de uma década, vítima de uma doença.

Nicolía indica que os insultos vêm da zona atrás da zona dos bancos, não da claque, e lamenta que o filho, agora com 11 anos, tenha de passar pela situação.

«Assassino, mataste a tua mulher». (E isto é o mais leve). Calei-me durante nove anos, mas hoje digo basta! Talvez muitos não conheçam a minha história. Cheguei ao Benfica em 2014, com o meu filho de três anos cuja mãe tinha falecido recentemente. Tive a sorte de encontrar uma grande família benfiquista que sempre me acompanhou. Mas há nove anos que no Dragão ouço as pessoas atrás do banco (não a claque) a gritarem que eu sou assassino, que matei a minha mulher e muitas outras coisas que até me dão vergonha de falar», lê-se, na publicação de Nicolía.

«O meu filho já tem 11 anos e percebe tudo. É uma pena que isto aconteça num evento desportivo, usando a morte de uma pessoa que lutou contra uma doença. Rir da morte é uma vergonha. Passei nove anos a ouvir essas coisas durante todo o jogo, mas hoje digo basta. Só tenho uma luta, que é contra a discriminação que sinto por parte dos regulamentos das federações de hóquei. Não sei se um dia vou ganhar, mas a outra luta acaba hoje. Não por mim, mas pelo meu filho. Não quero mais que ele ouça pessoas a usarem a perda da mãe para uma rivalidade ou para terem piada. Tudo tem um limite. Respeito», acrescentou o benfiquista.

Na quarta-feira, refira-se, o Benfica perdeu por 3-0 frente ao FC Porto, na Dragão Arena.

Entretanto, em comunicado, o clube encarnado demonstrou o seu apoio ao hoquista: «O Sport Lisboa e Benfica expressa total solidariedade para com o seu jogador Nicolía, uma vez mais insultado, desrespeitado enquanto homem, atleta e pai.»

«O Sport Lisboa e Benfica lamenta que os autores destes sucessivos atropelos à dignidade humana e aos valores do desporto não sejam identificados e, definitivamente, impedidos de frequentar espaços desportivos. Não é este o desporto que pretendemos nem é desta forma que dignificamos a modalidade, os seus intervenientes e o espetáculo que queremos oferecer aos adeptos», conclui o Benfica.