O Benfica segurou a vantagem de oito pontos para o segundo lugar e a invencibilidade em 25 jogos desde o início da temporada e vai mantê-las até ao Natal. Nesta época diferente de tantas formas, com os campeonatos nacionais a entrarem em hibernação um mês e meio para dar lugar ao Mundial, as águias são referência de uma tendência curiosa nos campeonatos europeus. Há pela Europa fora muitas Ligas que chegam à paragem lideradas por clubes que procuram voltar a conquistar um título que lhes foge há vários anos. Há muitos, em vários casos. Para já são os «campeões de outono», como se chama na Alemanha à equipa que lidera antes da paragem que antecede o Natal, ainda que reste mais de meia época por jogar a partir de dezembro e haja muitos pontos de interrogação quanto à forma como esta inédita paragem a meio da temporada irá afetar cada equipa.

O arranque do Benfica já é um dos quatro melhores da história do clube, atrás apenas de 1971/72 e 1977/78, com 26 jogos sem derrotas, e de 1959/60, quando as «águias» não perderam ao longo de 31 jogos. Na Liga, os 37 pontos somados também representam um registo raro, inédito em campeonatos a três pontos. O Sporting, em 1990/91, foi a última equipa a conseguir 12 vitórias e um empate nas primeiras 13 rondas, num campeonato de 38 jornadas que acabou com a vitória do Benfica.

A dimensão da vantagem com que o Benfica chega à paragem, na tentativa de vencer o campeonato pela primeira vez em quatro anos, também não se via há muito tempo. É preciso recuar a 2010/11 para encontrar um líder com vantagem tão confortável à 13ª jornada. Nessa altura, eram precisamente oito os pontos que o FC Porto liderado por André Villas-Boas tinha a mais que o Benfica por esta altura. Ainda assim, num campeonato a 30 jornadas e que terminou com os «dragões» campeões com 21 pontos de vantagem, à 13ª jornada esse FC Porto tinha menos pontos que o atual Benfica, 35 contra 37.

Sporting é quem mais perde na comparação

Em relação à mesma jornada da época passada, as águias somam mais seis pontos, tantos quanto o FC Porto perdeu. É o Sporting a equipa que fica pior na comparação: perdeu nada menos que 10 pontos em relação à 13ª jornada da temporada passada, quando dividia a liderança com o FC Porto. Ninguém na Liga perdeu tantos pontos como o Sporting, que subiu ao quarto lugar na última ronda antes da interrupção, depois de vencer em Famalicão e da derrota do recém-promovido Casa Pia frente ao Desp. Chaves. O Sp. Braga, que chega à paragem no terceiro lugar, soma mais três pontos do que há um ano.

O Benfica lidera a Liga em pontos, vitórias, golos marcados e golos sofridos, sem qualquer derrota e apenas um empate em 13 jogos. Só há dois clubes com domínio comparável nas cinco grandes Ligas europeias. O Nápoles e o PSG também ainda não sofreram qualquer derrota para o campeonato, levando ambos 13 vitórias e dois empates em 15 jornadas.

Alargando um pouco mais a análise e tendo em conta os primeiros 20 países do ranking da UEFA, há mais três clubes invictos no campeonato: o Panathinaikos, tal como o Benfica com 12 vitórias e um empate em 13 jornadas do campeonato grego, o Dnipro, com 10 vitórias e dois empates num campeonato ucraniano que se vai jogando apesar da guerra, e o Estrela Vermelha, que lidera na Sérvia com 17 vitórias e dois empates em 19 jogos.

Nápoles e Arsenal, embalados para a história

O Nápoles lidera a Serie A também com oito pontos de vantagem para o segundo classificado, o campeão Milan, e chega à paragem com todas as expectativas legitimadas por um grande arranque de época, de que este dado da Opta dá uma ideia: é apenas a segunda equipa a vencer 13 dos primeiros 15 jogos na Serie A, depois da Juventus, que o conseguiu em quatro ocasiões. Pode bem, portanto, alimentar o sonho de conquistar um título que apenas venceu por duas vezes na história, nos tempos de Diego Maradona, em 1986/87 e em 1989/90.

Em Inglaterra mora outro histórico que chega aqui em grande, com a liderança garantida até ao Natal. O Arsenal é líder da Premier League com 37 pontos, mais cinco do que o campeão Manchester City. Há por sinal um jogo em atraso entre as duas equipas, que foi adiado por causa do calendário europeu e ainda não está agendado. Depois de muitos anos a penar, sem conseguir melhor que o quinto lugar nas últimas cinco temporadas, o trabalho de construção de uma equipa de qualidade e consistente liderado por Mikel Arteta está finalmente a dar frutos e conduziu os Gunners a 12 vitórias nas primeiras 14 jornadas, algo que só sete equipas conseguiram até hoje na Premier League. Todas elas foram campeãs. Mais um dado a alimentar a esperança dos adeptos do clube londrino, que sonham festejar um campeonato que não vencem desde 2003/04, há 19 anos.

Em Espanha a paragem também chega com um líder diferente do campeão em título. Segue na frente o Barcelona, com dois pontos de vantagem sobre o Real Madrid, num campeonato que está muito aberto, mas para já a sorrir aos «culés», à procura de voltar a conquistar um título que, tal como o Benfica, não vencem desde 2018/19.

Nas outras grandes Ligas, por contraste, nada de novo. Na Bundesliga, o Union Berlim foi líder até ao final de outubro, mas perdeu o embalo e a paragem chega com o desequilíbrio tradicional de forças reestabelecido. O Bayern Munique já está no seu lugar do costume, na frente e com quatro pontos de vantagem sobre o segundo classificado, nesta altura o Friburgo. A embalar para selar aquele que seria nada menos que o seu 11º título consecutivo de campeão da Alemanha. Em França, o PSG não vacila e lidera com cinco pontos de vantagem sobre o Lens.

Do Fenerbahçe de Jesus ao Panathinaikos

Mas estas são exceções à tendência da temporada. Nos restantes campeonatos há muitos históricos a sonhar com o regresso às conquistas. Na Turquia, o Fenerbahçe de Jorge Jesus perdeu na última jornada antes da paragem, mas segurou a liderança, com dois pontos de vantagem sobre o Galatasaray. Com o regresso do campeonato marcado precisamente para o dia de Natal, este é também um campeonato muito dividido por esta altura, mas o Fenerbahçe segue na frente na tentativa de voltar a vencer o campeonato pela primeira vez em nove anos.

É ainda maior o tempo de jejum do atual líder do campeonato grego. O Panathinaikos não vence o campeonato grego desde 2010, mas esta época está em muito boa posição. Segue na frente com oito pontos de vantagem sobre o AEK Atenas e dez sobre o Olympiakos, o crónico campeão que já não tem a hegemonia de outros tempos, mas ainda assim venceu as três últimas edições da Liga grega.

Mas há mais equipas que estão, para já, a deixar para trás campeões crónicos. Nos Países Baixos a paragem chega com o Feyenoord na liderança. O clube de Roterdão, que somou apenas um título de campeão nas últimas duas décadas – em 2016/17 – soma nesta altura mais três pontos do que o tricampeão Ajax. E na Bélgica, depois de na época passada o Union Saint Gilloise ter estado muito perto de um título histórico, agora há outro líder. E bem confortável. O Genk segue na frente com 10 pontos de vantagem sobre o Saint-Gilloise e 13 sobre o Club Brugge, adversário do Benfica nos oitavos de final da Liga dos Campeões e também vencedor das três últimas edições da competição. O formato da Liga belga, com um play-off final, torna a luta pelo título mais complexa, mas o Genk, que foi campeão pela última vez em 2018/19, vai bem posicionado para a paragem.