João Félix protagonizou uma das mudanças mais badaladas do mercado de inverno, ao trocar o At. Madrid pelo Chelsea por empréstimo.

E apesar de ter deixado excelentes indicações na estreia pelo conjunto inglês frente ao Fulham, foi a expulsão que mais ficou na memória de todos, até porque o tirou dos três jogos seguintes.

Agora que o português está pronto para regressar à competição, o Daily Telegraph decidiu ir ouvir quem conhece bem o jogador formado no Benfica.

É o caso de Tiago Pinto, antigo team-manager das águias, agora diretor desportivo da Roma, que abriu uma exceção para falar de João Félix.

«Sei que ele não está no melhor momento, depois de tudo o que aconteceu no At. Madrid e do cartão vermelho na estreia pelo Chelsea. Mas acreditem, esse tipo é um génio e uma pessoa muito humilde», introduziu.

«Félix não é um futebolista normal. Tem um enorme talento natural e muita confiança nas suas capacidades. Faz tudo parecer fácil», acrescentou, sempre em tom de elogio.

E Tiago Pinto dá um exemplo do quão especial os dirigentes do Benfica sentiram que era Félix… desde o primeiro toque na bola na equipa principal.

«Tínhamos um vídeo no Benfica que usávamos muito para nos rirmos: o primeiro toque do João na estreia como jogador da equipa principal. Muitos adolescentes quereriam apenas não cometer um erro, mas ele arrancou um toque realmente artístico. É a natureza dele», lembra.

Sem a certeza de que era esta a jogada a que Tiago Pinto se refere e sem a melhor das imagens, Félix estreou-se no Bessa, frente ao Boavista e a primeira vez que tocou na bola foi para arrancar um cruzamento milimétrico para Jardel.

Também Bruno Lage falou ao jornal inglês – curiosamente no mesmo dia em que Félix o tinha elogiado – e corroborou as palavras de Tiago Pinto em relação ao jogador.

Lage lembrou que uma das primeiras decisões que tomou ao assumir a equipa principal do Benfica foi mudar o sistema tático do 4-3-3 de Rui Vitória para um 4-4-2 que beneficiava mais as características de João Félix.

«Ele não é um número 10. Não é um jogador para atuar atrás do avançado. Prefiro chamar-lhe um “avançado solto”. É alguém que precisa de jogar com um avançado mais convencional fixo na área, com um jogador que ele pode servir na área com os seus passes», começa por defender.

«O João joga entrelinhas e no espaço atrás da defesa. Ele e o Seferovic foram incríveis na segunda metade daquela época.»

Ambos os antigos responsáveis do Benfica falaram também da mudança do Benfica para o At. Madrid, por 126 milhões de euros, com apenas uma época de Félix na equipa principal das águias.

Lage sublinhou a mudança de realidade vivida pelo então jovem de 19 anos, que defende, devia ter permanecido mais uma época no Benfica.

«Era um miúdo que devia estar a ir a pé do treino para a escola e almoçar na cantina. E no minuto seguinte estava noutro clube, numa cidade diferente. E aí já não és considerado apenas um jovem. Tornas-te ator principal e um jogador por quem pagaram 126 milhões de euros», aponta.

Já Tiago Pinto recusa assumir que o passo dado para o At. Madrid não foi o mais certo para a carreira de Félix.

«Talvez o João fosse demasiado novo, mas estava a fazer coisas que chamavam a atenção de todo o mundo do futebol. Quando se olha para ele vê-se um jogador tecnicista e dinâmico. Não quero ser a pessoa que vai dizer agora que teria sido melhor ele ter ido para o Barcelona, o PSG ou Manchester City. Aquela foi a decisão de toda a gente e aconteceu tudo muito depressa e o At. Madrid convenceu-o de que era o clube certo», recorda.

«Ele só precisa de encontrar o contexto certo. Precisa de um treinador um staff que gostem dele e o protejam. Às vezes, este tipo de jogador precisa de um tratamento um pouco diferente», finaliza Tiago Pinto.