«Não vamos jogar o dobro. Vamos jogar o triplo.»

«Vamos fazer uma grande equipa e vamos arrasar.»

Quinhentos e doze dias depois do 3 de agosto de 2020, as promessas de Jorge Jesus não se confirmaram. Na época do regresso ao Benfica, os encarnados não foram além de um terceiro lugar na Liga atrás dos dois maiores rivais, algo que já não se via no clube desde 2008/09 e, agora, Jesus deixa o Benfica antes da viragem do ano para 2022, dias após uma derrota impactante (3-0) para a Taça de Portugal diante do FC Porto no Dragão, e no mesmo lugar em que terminou a temporada passada.

Gastar como nunca

Depois de na primeira passagem pelo Benfica ter conquistado dez títulos - três Liga, quatro taças da Liga, uma Taça de Portugal e uma Supertaça - mais do que qualquer outro treinador da história do clube, Jesus deixa o Benfica pela segunda vez sem voltar a colecionar troféus, não obstante a expectativa de um regresso triunfal sustentada por um investimento sem precedentes.

Em 2020/21, a direção (ainda de Luís Filipe Vieira) gastou mais de 100 milhões de euros (entre contratação e taxas de empréstimo) em contratações: Darwin tornou-se na contratação mais cara da histórias dos encarnados (€24M), e o plantel encarnado viu ainda chegar Everton (€20M), Pedrinho (€18M), Nico Otamendi e Lucas Waldschmidt, ambos por 15 milhões de euros, bem como o internacional belga e ex-Totenham Jan Vertonghen, entre outros.

Além do investimento recorde (em termos absolutos para uma equipa portuguesa numa temporada) - num ano em que boa parte dos maiores clubes do Mundo teve quebras de receitas devido à pandemia - no final dessa época os gastos com pessoal no futebol profissional subiram quase para perto de 100 milhões de euros: de acordo com o Relatório & Contas da SAD encarnada, em 2020/21 o bolo desta rubrica ascendeu a 97,1 milhões de euros, mais 13,3 por cento do que no período homólogo. «Esta variação (é) essencialmente explicada pelo aumento da massa salarial na sequência da forte aposta no reforço do plantel e da estrutura do futebol profissional», justificou a sociedade benfiquista.

Para 2021/22, o investimento foi mais modesto, mas ainda assim superior aos dos crónicos rivais: Yaremchuk chegou por 17 milhões e João Mário reforçou o meio-campo encarnados após ter sido pedra importante no título do Sporting na época anterior. Entre os sete jogadores contratados - em definitivo ou por empréstimo - apenas um (João Mário) se assumiu como titular indiscutível nos primeiros meses desta época.

Contas feitas, com Jorge Jesus ao leme o Benfica gastou, de acordo com o site especializado Transfermarkt, perto de 130 milhões de euros em transferências: 106 milhões em 2020/21 e 25 na presente temporada.

Investimentos elevados que não foram acompanhados por sucesso desportivo. Entre 2009 e 2015, período da anterior passagem de Jesus pela Luz, o máximo que a SAD encarnada gastou em contratações numa época foi, ainda segundo o Transfermarkt, 56 milhões de euros em 2013/14. Relevante: nessa temporada, o Benfica venceu campeonato, Taça de Portugal, Taça da Liga e foi finalista vencido da Liga Europa.

Crise de vitórias

Sem vitórias não há sucesso e neste ano e meio elas escassearam como em nenhuma outra temporada de Jorge Jesus no clube da Luz. Com o técnico amadorense, o Benfica venceu apenas 52 dos 83 jogos oficiais que realizou a época passada: foram 62,65 por cento dos jogos traduzidos em vitórias, bem abaixo do pior que viu em 2010/11 (66%) e em 2011/12 (65,4%), as piores temporadas de Jesus no primeiro ciclo no clube. Em 2015, o treinador de 67 anos saiu do Benfica com um saldo de 70,1 por cento de vitórias.

Saldo de vitórias de Jesus no Benfica (vitórias e jogos)

2009-2015 70,1% (52/83)
2020-2021 62,65% (225/321)