Há mais de dez anos, Jorge Jesus chegou ao Benfica para devolver o clube da Luz aos títulos nacionais e às finais europeias. O atual técnico do Flamengo ganhou três campeonatos nos seis anos que esteve ao serviço das águias, mas também teve dissabores, quando, por exemplo, em 2012/13 perdeu o título para o FC Porto nas últimas jornadas, além da Taça de Portugal e da final da Liga Europa.

Mesmo em final de contrato, Luís Filipe Vieira segurou-o e Jesus falou disso este domingo, à BTV, aproveitando também para falar da amizade que mantém com o presidente dos encarnados.

«Tenho dito várias vezes: para seres uma grande equipa tens de chegar lá [às finais e às decisões]. Normalmente as grandes equipas chegam mais vezes, as que não são grandes nunca chegam lá. Estávamos nesse caminho, lembro-me que houve um ano em que estávamos perto de poder ganhar tudo e perdemos tudo [2013]. A equipa foi para a final da Taça de Portugal [com o Vitória de Guimarães arrasada por causa da final com o Chelsea [Liga Europa]. Na altura não conseguimos equilibrar essa final a nível emocional. Houve a possibilidade de poder sair, acabava contrato, mas há uma diferença muito grande: os que não ganham e os que não ganham mas chegam lá para ganhar», defendeu.

«Quem chega para ganhar está muito próximo de o conseguir e foi por isso que o presidente [Luís Filipe Vieira], o Domingos Soares de Oliveira e o Rui Costa me convidaram para renovar por mais quatro anos. Não quis, renovei por dois. Depois nos anos seguintes o Benfica em Portugal ganhou tudo. A minha relação com Luís Filipe Vieira tem sido de amizade, tirando o primeiro ano em que saí [para o Sporting], mas isso já passou. Hoje sou treinador do Flamengo, falo muitas vezes com o presidente do Benfica. Renovou comigo em 2013 contra tudo e contra todos e os últimos dois anos no Benfica foram os melhores em termos de títulos. Em oito títulos, ganhámos sete», prosseguiu.

Jesus foi depois desafiado para escolher as melhores duplas de defesas e avançados que treinou na Luz.

«O Garay e o Luisão entendiam-se melhor coletivamente, mas individualmente a dupla Luisão-David Luiz era mais forte. Mas coletivamente Garay e Luisão jogavam de olhos fechados. O Garay tinha mais experiência, o David Luiz estava no começo. O Jardel veio do Olhanense, estava a aprender. É um grande profissional e quando teve oportunidade foi brilhante», disse, sobre a defesa.

«Aquela que se completava melhor era a do Jonas com o Lima. A que tinha mais velocidade de jogo era o Lima e o Rodrigo. Estas duas duplas são diferentes da do Cardozo e do Saviola. A dupla do Cardozo e do Saviola era tecnicamente evoluída, mas eles não eram jogadores rápidos. Enquanto as outras duas duplas sabiam puxar o contra-ataque. O Lima e o Rodrigo são jogadores com muita mobilidade, como o Jonas, que é um pensador do jogo. Antes das coisas acontecerem, ele já as tinha pensado. Foi dos melhores jogadores que treinei. Quando pedi o Jonas ao presidente ele já tinha 30 anos, e ele perguntou-me: ‘Mas para que é que queres um avançado com 30 anos?’. ‘Presidente, o Jonas pode não dar retorno financeiro, mas vai dar retorno desportivo», opinou, sobre os avançados.

Jorge Jesus falou ainda sobre como superava as muitas mudanças que ocorriam todos os anos no plantel do Benfica, usando o exemplo de Matic: «Nós trabalhávamos com isso. Com as segundas opções já criávamos uma equipa de retaguarda, para que Benfica não sentisse diferenças. Quando saiu o Javi García o Matic não jogava, era suplente dele, mas estava a sentir que íamos ter um grande jogador. E quando o presidente falou em vender o Javi García disse-lhe para vender porque íamos ficar melhor.»