Francisca Nazareth tem apenas 20 anos, mas é seguro dizer que já é uma das figuras do futebol do Benfica, assim como da Seleção Nacional que fez história ao apurar-se pela primeira vez para um Mundial feminino.

Benfiquista de coração, a jovem é muitas vezes vista a acompanhar os jogos da equipa masculina e no domingo não foi exceção: rumou a Alvalade para ver o empate no dérbi frente ao Sporting.

E Kika é de tal maneira uma das principais figuras das águias que já há quem lhe peça para ser... presidente do clube.

«É muito giro até estarmos lá em cima. Prefiro ser treinadora do que jogadora, porque as decisões estão do lado dos treinadores. Nós nunca conseguimos agradar toda a gente e ouvir certo tipo de comentários, coisas feias, não é bom e não é fácil», começou por dizer.

«Ainda ontem [domingo] fui ao jogo [Sporting-Benfica] e muitos adeptos disseram-me que ia ser presidente e eu só espondia que isso traz muita responsabilidade. Posso ser dirigente. Mas lá está tenho 20 anos, quero controlar as minhas responsabilidades. No dia em que eu perca um jogo cai o carmo e a trindade, não me passa pela cabeça o que é estar num patamar tão alto, com tanta responsabilidade, em que sei que não consigo agradar a toda a gente e em que tenho de tomar decisões. Se eu estive meia-hora a escolher a roupa que ia trazer, quanto mais escolher que jogador vou contratar. É muita responsabilidade», continuou.

Antes, de resto, a internacional portuguesa havia sublinhado as diferenças que vê atualmente no futebol feminino quando comparado com o passado.

«Houve imensas mudanças, sobretudo nestes últimos três anos. Sou muita nova, mas lembro-me de aos 13 anos representar o Casa Pia, e de ir para o treino de meias cor de rosa, a combinar com a parte de cima, enquanto as outras já estavam todas equipadas. Não havia tanta exigência, era o futebol de rua, mesmo em termos práticos. Os exercícios não eram tão pensado. Acho a técnica e a tática muito importantes, mas eu gosto da imprevisibilidade, não haver regras: poder fazer um cabrito, as cuecas, gosto dessa parte. De há dois a três anos para cá as coisas têm mudado. Os treinos são muito mais pensados. Hoje em dia temos a possibilidade de ver as outras equipas. Recebo um documento a dizer-me exatamente os sítios onde eu tive em determinado jogo. Isso não acontecia no futebol feminino, mas para nós as coisas estão a mudar, e faz diferença. É sempre bom para nós termos acesso a esse tipo de detalhes.»

«Acho que as vezes as pessoas não têm noção do que é uma seleção feminina chegar a um Mundial. No masculino é banal. Para nós é um feito histórico, não é normal. É um dia que está constantemente na minha cabeça, estou ansiosa para que chegue o Mundial. Começámos do nada, andamos há algum tempo a tentar e agora acho que chegou a nossa hora. A Federação tem feito um trabalho brutal. Muita gente fala das diferenças salariais e que devemos receber mais. Mas se o futebol masculino gera muito mais dinheiro, é normal que o dinheiro envolvido seja outro. As condições é que têm de ser as mesmas. E mesmo assim sou privilegiada. Apanhei o processo já bem encaminhado e fico feliz por estar a fazer parte disso. O futebol feminino está a crescer. É fruto de muitos anos, de muita aposta, de muitas pessoas chatas que estão todos os dias a trabalhar. Isto tem andado para a frente quer a nível mundial, quer a nível nacional», prosseguiu.

A terminar, Kika Nazareth falou ainda sobre o Mundial que se avizinha: «Parto com um sorriso na cara e a acreditar, sempre. Temos a perfeita noção do que nos espera. Temos de olhar para nós e ver o potencial e o talento que temos, há que acreditar. Gosto sempre de sonhar e acreditar. Estou confiante. Se passarmos a fase de grupos, o objetivo é ganhar tudo.»