O AEK ainda está a acordar do sonho, depois da conquista do título grego após 23 anos de «jejum» e o regresso à fase de grupos da Liga dos Campeões, onde não estava desde 2006. Mas a pesada derrota sofrida em Amesterdão, na ronda inaugural, despertou a equipa helénica para a exigência europeia, mesmo frente a um Ajax que não está entre as maiores potências da prova.
Já o AEK está entre as equipas mais frágeis da prova, até pela falta de experiência, e enfrenta uma tarefa hercúlea para conseguir uma qualificação inédita para a fase a eliminar. O Benfica tem uma valia claramente superior, mas terá de o provar no Olímpico de Atenas, até pelo peso que leva na bagagem, acumulado entre a desastrosa campanha da época passada e a derrota na ronda inaugural. Um novo desaire, antes da visita à Holanda, assumirá contornos bem complexos.
O AEK joga habitualmente em 4x4x2, ou em 4x4x1x1, tendo em conta a regularidade com que um dos avançados baixa no terreno, seja para fechar linhas de passe, para tentar ligar a transição rápida ou para procurar desequilíbrios entre linhas.
Se no plano interno a equipa de Marinos Ouzounidis está “obrigada” a assumir maiores riscos, no plano europeu reforça a necessidade de esconder fragilidades com uma boa organização defensiva.
O AEK não sente qualquer constrangimento ao entregar a iniciativa ao adversário, para depois explorar saídas rápidas e diretas para o ataque, à procura das duas referências ofensivas.
A coesão como princípio central
Em busca dessa coesão defensiva, a formação grega concentra-se sobretudo em fechar o corredor central. Por norma tenta condicionar logo a primeira fase de construção do adversário, com os extremos bem próximos dos avançados, e fechar as linhas de passe interiores e à espera que a bola entre nos laterais para então “saltar” na pressão.
Mesmo quando o adversário aposta numa saída a três, o AEK responde com um extremo quase em linha com os avançados, na primeira barreira defensiva, deixando o extremo oposto em linha com os dois médios-centro (Galanopoulos e o português André Simões, habitualmente, ou então o brasileiro Alef, cedido pelo Sp. Braga).
Fragilidade lateral, ao gosto do Benfica de Rui Vitória
Em metade dos jogos o AEK utilizou mesmo um lateral “adaptado” a extremo, reforçando esta assimetria. Com o brasileiro Rodrigo Galo (ex-Gil Vicente, Sp. Braga, Académica e Paços) a fechar o corredor direito, ou então com o português Hélder Lopes na esquerda (já ia falhar a receção ao Benfica por castigo, e ainda por cima lesionou-se com gravidade no fim de semana).
Na visita a Amesterdão foi Bakakis a adiantar-se no terreno (Cosic foi o lateral direito), mas com um posicionamento diferente: muito aberto, muitas vezes a colar-se à última linha, que ficava assim com cinco elementos.
Mas mesmo nesse contexto a equipa grega não deixa de estar focada sobretudo em fechar o corredor central, mostrando-se mais vulnerável em zonas laterais. Acaba por ser relativamente fácil chegar a zonas adiantadas do terreno por aí, e depois criar situações frequentes de igualdade ou mesmo inferioridade numérica, explorando também as recorrentes falhas no controlo da profundidade.
Fragilidades bem ao gosto do Benfica, que muitas vezes até cai no exagero pela forma insistente com que recorre ao jogo exterior.
O pragmatismo acima da criatividade
No plano ofensivo o AEK segue uma postura pragmática e recorre com insistência a uma ligação direta para o ataque, procurando refugiar-se na capacidade de Livaja (suspenso) para segurar a bola, ou entre Klonaridis e Ponce para explorar a profundidade.
Ainda que a equipa grega arrisque muito pouco no que diz respeito a construir jogo (nem mesmo em transição rápida), é preciso ter em conta os momentos em que Bakasetas e Mantalos, os extremos mais utilizados, aparecem em zonas interiores, pela facilidade com que criam depois situações de finalização.
Ainda que o Benfica apresente também alguns condicionalismos para a visita a Atenas, sobretudo pela ausência de Jardel no eixo defensivo, sobram-lhe argumentos para explorar as fragilidades de um AEK que não é superior ao PAOK, ultrapassado no «playoff».