Houve quem dissesse que o Benfica da primeira metade da época ainda não se tinha visto desde a retoma das competições pós-Mundial. As exibições, mas também os números das vitórias, agora menos folgadas, sustentaram essas teses que a equipa de Roger Schmidt foi tentando rebater, após uma derrota pesada com o Sp. Braga e a eliminação da Taça de Portugal, com a consolidação da liderança da Liga (com sete vitórias seguidas) e a continuidade na Liga dos Campeões.

Nesta terça-feira, as águias provaram, com uma mão-cheia de razões – e mais algumas – que as afirmações de um novo Benfica, menos pujante, seriam manifestamente exageradas, concluindo os oitavos de final da Champions com um registo raro de 7-1.

Pelo segundo ano consecutivo, os encarnados estão entre as oito melhores equipas da Europa e, agora, com o maior jackpot de sempre. Mas se na época passada a chegada a este lote acabou por ser surpreendente, nesta não é mais do que constatação óbvia da muita qualidade demonstrada pela equipa de Roger Schmidt até agora.

Nesta terça-feira, percebeu-se logo naquele golo genial de calcanhar anulado a João Mário pouco depois dos 60 segundos que a noite seria cintilante na Luz. Mas enquanto o primeiro golo não surgisse, não haveria descanso absoluto. Antes do golo de Rafa, as águias esbanjaram oportunidades para pôr termo às poucas dúvidas que ainda poderiam existir na eliminatória. Florentino, Rafa e João Mário não conseguiram dar corpo à superioridade dos encarnados nos 20 minutos iniciais e depois disso assistiu-se a um curto período de estabilização do conjunto belga que chegou ao fim na genialidade do 27 das águias, que voltou a exibir-se, também ele, ao nível pré-Mundial.

Ao Club Brugge, que incrivelmente ainda nem tinha sofrido qualquer golo na condição de visitante nesta edição da Liga dos Campeões, não faltam bons valores individuais, mas falta-lhe tudo o resto que é preciso para construir uma equipa. A começar: organização.

E a falta dela foi visível durante todo o jogo, mas foi acentuada nos minutos finais da primeira parte e em toda a etapa complementar. Rafa teve espaço para voltar a voar antes, o controlo de Gonçalo Ramos foi negligenciado e os erros primários foram demasiado.

Ao intervalo, o Benfica já estava a vencer a eliminatória por 4-0. A fechar, Gonçalo Ramos fabricou, com génio e potência, o 2-0, deixando para trás três adversários.

Mas, mesmo com competência, seria difícil sobreviver, à irreverência do espírito livre Rafa, à letalidade de Ramos, à inteligência tática de Aursnes e João Mário, à competência de Chiquinho (de regresso ao onze) e à acutilância de Grimaldo e Bah pelas laterais.

O Benfica foi tanto nesta terça-feira.

E isso ficou provado, lá está, pela tal mão-cheia de razões que o terceiro golo de Gonçalo Ramos, o quarto de João Mário e o quinto de David Neres ajudaram a compor.

E, já o escrevemos, por mais algumas. A partir da hora de jogo, com a eliminatória resolvida, Schmidt olhou para o futuro e geriu.

Olhou para o futuro, pela forma como meteu Morato e ensaiou a dupla de centrais da 1.ª mão dos quartos (Otamendi cumprirá castigo).

E geriu, a pensar na frescura necessária para o combate do próximo fim de semana. Mas até aí o Benfica ganhou, pelo protagonismo que as chamadas segundas linhas acabaram por ter: Gilberto, derrubado no penálti convertido por João Mário, e o jovem João Neves e Neres, que forjaram o quinto golo.

O melhor do Club Brugge ficou reservado para o minuto 88, quando Meijer fez o golo da noite e, ironicamente, os adeptos belgas terminaram o jogo a gritar olés a cada posse bem-sucedida da sua equipa.

Mas a festa, essa, escreveu-se de encarnado. Tão vivo com este Benfica.